I'm dead
Eu acreditava que iria morrer velhinha, quentinha, deitada em minha cama após ler algumas páginas de algum romance emprestado de alguma biblioteca. Ou então que viria a falecer devido à uma overdose de remédios após alguma crise existencial. Eu aceitaria morrer como a Dorothy Stang. Sei que soa pretensioso, mas eu gostaria de ter meu nome na história.
Bem, eu simplesmente levei um tiro.
E nem é isso que mais me frustra.
Eu gostaria de ter podido dizer as famosas últimas palavras. Talvez um ‘Eu te amo’ seguido por lágrimas e todos aqueles clichês relacionados à despedidas, mas não. A última coisa que proferi foi ‘até logo’, direcionado ao chefe da empresa em que eu trabal… trabalhava. De qualquer forma, eu morri.
Não sei onde estou. É tudo tão… inexplicável. Não consigo definir cores, cheiros, vozes.
Apenas depois de um tempo é que passei a relembrar o rosto dos meus pais. Foi algo intenso sentir cada abraço. Ouvir a voz deles, os lábios de meu pai roçando minha testa e as mãos de minha mãe apertando a minhas.
Eu achava que seria mais difícil para eles, quer dizer, as coisas aconteceram muito rapidamente. Num instante eu andava alegremente pela calçada; no outro, uma bala atravessara meu coração.
Acho que nessas horas, por mais clichê que pareça, devemos pesar o que fizemos.
Eu sempre fui uma boa garota, mas ultimamente as coisas andavam estranhas. Pensamentos obscuros, insanos e asquerosos transpassavam minha mente regularmente, e eu não era simplesmente… normal.
Ah sim, eu também amei. Desesperadamente. Incondicionalmente.
Pude dizer com convicção que durante um tempo meu coração bateu dentro de seu peito. Mas são apenas fatos que prefiro considerar esquecidos.
Passei por coisas boas, coisas ruins. Amei, desamei, odiei, despertei.
Não sei denifir mais nada, pois simplesmente não sei mais quem sou.
Mas de uma coisa tenho absoluta certeza: A morte é infinitamente mais fácil que a vida.