Devaneio num leito de insanidade
Retiro-me para minha cela, um recôndito dentro desse santuário dedicado à insanidade, permeado por gritos e balbucios concomitantes. Em meu leito, observo minhas mãos, outrora tão criativas, tão interadas com o que vai em minha alma, agora se mostram inúteis, incapazes de segurar um simples instrumento de escrita; qual uma dupla de palhaços, elas se atrapalham e tudo que produzem são caricaturas ridículas dos meus maiores sonhos de redenção.
O que consigo apreender da minha desgraça como poeta é apenas que essas mãos estão cansadas de escrever e, melancólicos, esses olhos se fecham todas as noites para viajar por terras distantes e nebulosas; terras onde pássaros noturnos voam sobre jardins de rosas vermelhas à luz do crepúsculo e onde vejo o horizonte como se ele fosse uma pintura romântica, com o seu próprio castelo medieval, cujas torres alcançam o céu e cada janela brilha ardentemente com um fulgor púrpura jamais visto por olhos sãos. Vejo as nuvens rosadas se movendo lentamente em direção às montanhas ao longe, e o vento que as impulsiona é o mesmo que faz a grama alta ondular ao redor dos meus pés descalços, frios e salpicados pelo orvalho.
Meus devaneios oníricos, tudo que me resta são essas ilusões que parecem estar do outro lado dessas paredes, mas que, na realidade, encontram-se perdidas dentro de mim mesmo. Elas se desenrolam ao mesmo tempo que sonho e durmo. E, incapaz de torná-las realidade, observo como minhas mãos se crispam, e, como garras de aves mortas, elas se fecham, caem inertes, enquanto mergulho no abismo das minhas insanas desilusões.