Em nome do pai
Fecho as cortinas de meu quarto. Ligo o som e coloco o CD do Radiohead. "Fake Plastic Trees" começa a dar seus primeiros acordes; aumento o volume.
Ele, como de costume, vem apressadamente derrubando os objetos pelo corredor e gritando palavrões. O maioral.
Chuta minha porta e me soca com o punho direito. Caio ao chão. Meu nariz estrala e um jorro rúbeo de sangue escorre pelas minhas narinas. Gostoso.
Ele me chuta com suas botinas de couro.
"Filho da puta!".
Não faço nada. Olho para o Cristo morto pendurado na parede suja de meu quarto. Ele chora sangue e os pregos cravam seus pulsos à madeira da cruz. Ele fora um sortudo.
Sei que Ele nada irá fazer no momento, portanto, enfio rapidamente a mão por debaixo de meu colchão e sinto o frio ferro demoníaco. Puxo e o estendo em direção ao meu "papai".
Ele arregala os olhos. Parece que o álcool começa a se desfazer de seu cérebro. Meu 38 ventilado está louco para disparar seus espermatozoides para o óvulo; que é a cabeça dele.
Ele levanta as mãos, e os palavrões são substituídos por pedidos de desculpas e lembranças de minha pútrefa infância...
"Ao Inferno". Puxo o gatilho. Lentamente, o tambor gira e surge um estampido. A bala dourada sai do cano quente e atravessa a testa de meu pai. Sua massa encefálica explode na parede dando uma nova pintura de vermelho-sangue.
O enorme corpo alcoólico cai ao chão. Ainda sentado, olho fixamente, para os olhos dele. Eu vejo o medo. Sorrio.
Levanto-me. Passo por cima do corpo. Estendo minha mão esquerda e sujo meus dedos com o sangue de meu sangue. Lambo os dedos, liberando o sabor azedo e forte. Olho para trás e fixo meu olhar no Cristo na cruz.
Faço o sinal da cruz. Saio do quarto.
Vou à Igreja para confessar-me. Ao longe ouço as sirenes da polícia juntamente com a voz estridente de Tom York.
Ando pela calçada assobiando a música. Algumas pessoas olham-me assustadas, outras correm, outras gritam. Outras apenas olham.
Balanço minha arma ao ritmo da música.
"Quantos 'Pai-Nosso' terei que rezar?" - pergunto-me.