O Voo da Borboleta
Do alto da janela do seu apartamento sombrio, observava as pessoas andarem nas ruas. Casais, jovens, crianças, idosos, trabalhadores, homens, mulheres, uns andavam rápidos, outros em um ritmo mais lento. Fitou o jardim do prédio; as flores brotavam, outras morriam, os galhos das árvores dançavam com a brisa, as folhas secas do outono aumentava a sensação de nostalgia. O tempo era frio, mas não se comparava a temperatura de sua alma, essa era gelada há muito tempo.
Estava de pijama, descabelada, com olheiras fundas e a pele pálida. Não sabia quando começou a morrer, mas o certo era que estava morta e algo podre ocupava seu corpo morimbundo.
Olhou-se no espelho em frente a penteadeira e chorou, sentiu que não poderia mais sobreviver a isso. Levantou-se, tomou um banho demorado e quente. Com a toalha enrolada no corpo, abriu seu armário e vestiu o seu vestido mais bonito, preto com detalhes em renda. Calçou os salto alto e maquiou-se. Penteou seus longos cabelos castanhos. Estava pronta. Sempre estivera. Mas faltava a coragem de flutuar em sonhos que no início ao pensar, eram torturantes e covardes, mas provaram ser os mais doces que podia ter.
Caminhou até a sacada. O vento parecia beijar sua face, encorajando-a, seguir em frente. Colocou um pé de apoio no banco e ficou em pé na sacada, segurando-se com as mãos em uma parede lateral, ficou ereta em cima do parapeito do 19º andar. A altura longe de causar pânico, dava uma sensação de alegria que nunca sentiu e como uma borboleta ao lançar-se no primeiro voo, voou..voou..e experimentou por uns segundos uma paz única antes de espatifar-se ao chão.