Nashua

-Corra Nashua! Corra meu amado Nashua!

Ele fujia do povo enfurecido que o acusava de ser o demônio. Servo das trevas. Príncipe do Satã!

-Marie..Marie..Não..Marie!

Matem a pecadora! a prostituta do demônio! mate-a. Ela entrega-se a luxúria com o demônio. Não tenham piedade!

Ele olhou para sua amada e seu peito estava ferido, o sangue escorria por seu vestido e ela caiu no chão, morta.

-Nãooo!

Nashua acordou enxarcado do pesadelo. Ele estava febril. O povo do vilarejo o espancou. Se não fosse sua amada Marie estaria morto. E como a amava, como era doce e linda. Em trezentos anos de existência nunca havia se apaixonado e essa era a primeira vez que conhecia o amor. Devia tudo a ela. E sentía-se infeliz, Marie abriu mão de sua própria vida para amá-lo e protegê-lo, mesmo sabendo que era um vampiro. Nunca mais poderia voltar para casa pois foi amaldiçoada por seus pais e acusada de ser serva do demônio, queriam matá-la também. Só que eles conseguiram fugir em segurança. Enquanto Marie escondia-se nas ruínas de pedras, ele enfrentou a fúria do povo fanático. Sobreviveu, mas estava muito machucado, muito fraco. Só se manteve vivo, por causa da promessa que fez a Marie. Enquanto divagava em seus pensamentos, sua amada prostou-se ao seu lado com toalhas quentes para limpar os ferimentos. Ela colocou o pano delicadamente em sua pele e as lágrimas caíam de seus olhos.

-Doce e amada Marie, não chore, meu amor, eu estou aqui! sou o seu servo Nashua! Eu a amo!

-Eu também o amo, meu Nashua!

-Foi tudo culpa minha! perdoe-me amor!

-Não foi sua culpa Marie. Eu como vampiro, deveria ter ficado alerta enquanto aos perigos de me expôr e além do mais nunca poderia me perdoar por ter te arruínado, minha doce Marie. Sinto tanto!

Ele segurou as delicadas e brancas mãos dela e levou em seus lábios, beijando carinhosamente. Ela comoveu-se e sussurou em seus ouvidos:-Meu lindo Nashua! Ela aninhou-se no colo achonchegante dele e adormeceram juntos. Antes de o sol dar seu espetáculo, Nashua passou as mãos no cabelo louro de Marie e a acordou.

-Meu amado, você está bem?

-Sim, minha doce Marie.

-Acordou cedo? o sol nem raiou..

-Tenho uma surpresa!

Nashua a carregou no colo. Ele a levou para fora até chegarem no alto de uma colina. Sentaram-se ali e ele passou o braço em volta do corpo delicado de Marie.

-Minha doce amada queria que você ficasse aqui comigo esperando o sol nascer. Você vê como antes dao sol, há a escuridão? pois quero que entenda que antes de eu te conhecer minha vida era isso -Escuridão.

-Meu Nashua! Eu o amo tanto. Nada vai nos separar.

Eles ficaram na colina até o dia raiar. Marie chorou nos ombros de Nashua. Ele novamente a carregou no colo e a levou para o quarto dentro da pequena casa que viviam na colina.

-Minha Marie!

Ela o olhou docemente com seus grandes olhos azuis e o puxou para sí. Ele beijava sua boca delicademente e desabotou os botões de sua camisola, até deixá-la nua e subiu em cima do corpo de sua amada e eles se entregaram a paixão que sentiam. Quando eles estavam em extase, ele notou que no seu rosto pálido e meigo em volta de sua cabeleira loura, rolavam lágrimas. Ela abraçou o corpo forte dele e chorou.

-Meu Nashua promete que você nunca irá me deixar?

-Eu prometo doce Marie. Eu nunca prometi nada a ninguém, mas você é a alma da minha alma. Eu a amo muito! Case-se comigo Marie e seja minha esposa, você aceita?

-Sim, serei sua esposa!

Ela se aninhou nos braços dele e ficaram conversando até cair no sono. Eles só acordaram quando a Lua se pôs como senhora entre as estrelas no céu. Vestiram-se e abraçaram-se.

-Vamos casar?

-E de quem receberemos as bençãos?

-Da lua, das estrelas, dos céus.do universo!

-Meu amado!

Ele retirou algo do bolso. Eram duas alianças em ouro com diamantes. Os olhos de Marie brilharam e ficou comovida.

Eles sairam á noite e casaram-se sob a luz do luar. Dançaram abraçados e correram pela relva e se amaram.

-Nunca imaginei que um dia seria tão feliz!

-Nem eu, doce Marie.

Ele a levou para casa e ficaram conversando com a luz da vela fraca que só se via o contorno de seus corpos.

-Doce Marie, eu tenho dinheiro. Muito. Tenho muitas jóias. Vamos embora para o novo mundo. Aqui na Europa é muito perigoso para você. Eu não te transformei. Você é humana e temo por isso minha querida.

-Nashua, combinamos que enquanto eu não gerasse um filho, eu seria humana. Quando nascer o nosso bebê, eu serei sua igual.

-Eu ficaria muito feliz em ter um filho seu.

Dois meses passaram-se e eles habitavam ainda na colina como era vontade de Marie, só queria deixar sua terra natal quando desse a luz a seu filho.

Marie fazia seu almoço, quando teve uma leve tontura. Ele que estava observando, a segurou nos braços para ela não ir ao chão.

-Marie, o que houve?

Ela riu.

-Você ri?

-Sim papai! Estou grávida, amor!

Eles se abraçaram e ficaram felizes.

Marie teve uma gravidez saudável e alegre. Ela teve seu bebê, uma menina com cabelos negros como o pai e os olhos azuis grandes como os dela. Agoram eram uma família, Nashua, Marie e Belle, o fruto do amor impossível.

Em uma tarde ensolarada, um mês depois que Belle nasceu, Nashua colhia frutas para alimentar Marie. Caminhava tão agradecido, nunca imaginou ser tão feliz. Chegou em sua casa e a tijela de frutas caiu estrondosa ao chão. Imediatamente as lágrimas desceram. Marie jazia morta com um ferimento no peito manchando seu vestido branco de sangue..Ele quase desmaiou. Mas lembrou-se de Belle. Foi até o outro comôdo e viu a figura de um homem velho segurando o punhal, pronto para golpear o bebê, sua filha, que chorava aos berros.

-Não, maldito!

Ele desarmou o homem e viu que era o Padre Arnold. Sentiu uma raiva. Pegou o velhote pelo pescoço e o levou para fora.

-Maldito velho! eu te odeio.

-Eu matei sua prostituta! libertei a alma de Marie!

-Desgraçado! Cala a boca!

Nashua com toda a sua ira segurava o velhote pelos braços com tanta força que quebrou todos os ossos do padre que morreu pedindo clemência. Mas não adiantou, Nashua era puro ódio.

Ele voltou a casa e gritava com o corpo de Marie, morto no chão. Ele chorou em cima do peito dela ferido e nunca sentiu tanta dor. Era como se algo destruísse seu coração aos poucos, esmagando-o com violência. Toda a alegria e o amor que sentiu na vida extinguiu-se com a morte de Marie. Depois de chorar um dia como um tresloucado em cima de sua amada. Acordou com o choro de Belle. Lembrou-se que tinha uma filha. Um pedaço de Marie e dele que formavam aquele bebê. Foi até o berço e pegou sua Belle. Ela acalmou-se nos braços fortes do pai. E ele olhou com tanta ternura e tristeza para aquele serzinho e chorou novamente. Teve vontade de matá-la. Matar seu bebê para protegê-la do fanatismo e dos ignorantes que mataram Marie. Mas um pensamento atravessou sua mente e como se Marie susurrase em seus ouvidos com a voz melodiosa -Nashua, meu sonho é ter um filho seu!

Ele abraçou o bebê delicadamente e prometeu -Eu vou amá-la e protegê-la pequena Belle já que não pude proteger sua mãe. Fez a bebê dormir e colocou no bercinho. Voltou a cena de horror que dilacerava seu coração e pegou o corpo sem vida de Marie e o levou para fora. Carregou até a sombra de uma grande árvore que eles custavam fazer amor, sob o luar. Ele cavou a terra e chorou durante todo o tempo e enterrou sua amada Marie.

-Prometo que te amarei Marie para sempre e a nossa Belle. Mas também me vingarei, mesmo que você não aprove. Não os perdoarei por isso.

Nashua voltou, vestiu-se, tomou suas coisas e do alto da colina com Belle no colo que dava visão a todo o vilarejo, invocou as forças invisíveis com toda a sua ira. As forças maléficas que tanto evitou, agora estava junto com elas em sua vigança por Marie. As forças demôniacas fizeram uma chuva terrível cair dos céus. Uma água negra, que quando caía feria as pessoas e cheirava a podre. Os telhados das casas foram arrancados por um vento uivante nunca se visto. Os animais ficaram enlouquecidos fugindo e matando quem atravessasse os caminhos. A igreja do padre foi destruída completamente. Não sobrou nada na cidade, só ruínas e muitas pessoas mortas e feridas. Lá embaixo pessoas gritavam sem pernas e sem braços. Havia pessoas com a cabeça decepada e outras gemendo de dor embaixo das pedras. Só havia gritaria, dor e pranto. Nashua riu. "Por ti, Marie" ele viu que o bebê dormia em seu colo. Era hora de partir. Agora era o vampiro maquiavélico Nashua. Amor só existia por Belle e Marie. Tudo que sentia pelos seres humanos era asco e ódio. Não precisava se prepocupar mais com a proteção de Belle. Sua linda bebê serviria as forças maquiávelicas que nem seu pai. Ele sentiu um remorso no peito e pediu perdão a Marie, mas não podia mais voltar atrás. Deixou o vilarejo e partiu para uma cidade fantasmagórica nos Estados Unidos. Lá ele habitava em uma bela casa enorme e imponente junto com Belle.

Nashua tornou-se o vampiro mais terrível que se tem notícia. Punia com severidade. Ele prósperou e sua fortuna era destinada a combater os fanáticos, por isso Nashua sempre corrompia os clérigos da igreja que caíam em ciladas armadas por ele para destruí-los. Além do amor a Belle, que tornou-se uma bela mulher e vampira transformada por seu pai nos seus 17 anos de vida, ele cultivava rosas vermelhas nos longos campos de roseiral. Nunca se viu em todo mundo rosas como de Nashua. Ninguém sabia quem ele era, pois há séculos mantinha uma legião de empregados fiéis, com penas severas para rebeldia e denúncias contra sua verdadeira identidade. Todos temiam a ele e sabiam que não era humano. Achavam que ele era uma espécie de bruxo ou até o próprio demônio.

Uma tarde Nashua estava colhendo rosas quando Belle encostou em seus ombros.

-Querida filha!

-Pai,

-Será que somos demônios como dizem?

-Por que diz isso amada?

-Por que você sabe o que somos! desde que minha mãe morreu, já tenho dois séculos de vida. Sou uma vampira pai como você é! matamos pessoas.

-Sim, e isso te faz ser má?

-Eu não sei pai, não tenho amor por nada!

-Isso te torna má ou cruel?

-Não, mas me torna vazia..

-Filha, você não me ama?

-Amo pai!

-Então, como pode dizer que não amas ninguém?

Belle caiu sob o colo do seu pai e chorou muito. Seu pai a abraçava e a consolava e lhe disse-" Nós não somos demônios filha, demônios e cruéis são os seres humanos. Se o matamos foi porque eles não nos deram escolha".

Anna Azevedo
Enviado por Anna Azevedo em 01/06/2011
Reeditado em 01/06/2011
Código do texto: T3008395
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