Mudança irreversível.

Não quero e nem devo lembrar os motivos que me levaram a estar na rua aquela hora.

Mas o fato é que eu estava. Eu caminhava apressada pelas ruas da cidade, olhei o relógio, eram 3:15, madrugada, olhei ao redor e apertei ainda mais o passo.Tive a estranha sensação de estar sendo observada.

Uma coruja fez um voô rasante sobre mim, coloquei a mão na boca para não gritar.

Um cão uivou distante. Um calafrio percorreu todo o meu corpo.

Foi quando percebi um pivete de capuz atrás de mim, comecei a dobrar esquinas a fim despistar o ladrãozinho, e sem perceber acabei entrando num beco.

Sacos de lixo amontoados fediam muito, e um bêbado qualquer dormia tranquilamente entre as ratazanas.

Murmurei algum palavrão e resolvi esperar um instante para voltar às ruas. Quando eu me virei para finalmente ir para casa, senti uma mão extremamente gelada me puxando novamente pára o fundo do beco.

Meus olhos custavam a acreditar no que viam.

Ali estava ele diante de mim...

O rosto perrfeitamente esculpido em uma pele fria e branca, ele era incrível, era como estar diante de uma estátua de mámore.

Sob os lábios sarcáticos, ebúrnias presas se sobressaíam, as mãos eram firmes segurando meus pulsos e os olhos vermelhos devorando meus pensamentos, reviravando minhas lembranças e meu estômago...

Apesar do susto, eu estava tomada por uma estranha e sobrenatural euforia, algo naquela criatura era extremamente atraente, eu estava fora de mim, era incapaz de esboçar qualquer reação.

As presas cintilavam a luz da lua, branquíssimas, e meu coração batia extremamente fora do compasso, mas ainda batia...

O cheiro dele era como o das rosas quando murcham, triste e doce, porém mais triste do que doce.

Ele trajava mistério e repirava sedução.

Me puxou para mais perto, e segurou minha cintura junto ao seu corpo gelado, senti minhas pernas tremerem. Com uma firmeza delicada ele me segurou pela nuca e aproximou seus finos lábio dos meus, seu hálito era quente.

Murmurou uma velha canção de ninar ao meu ouvido, eu sorri e ele deslizou a mão pelo meu corpo, as presas tocaram de leve o meu pescoço, senti um estranho e alucinante arrepio.

Depois disso as luzes se apagaram...

Não sei por quanto tempo a escuridão foi tudo o que eu vi.

Quando eu finalmente reabri meus olhos, senti minha garganta queimar, estava com sede, não havia mais lixo e o bêbado também havia ido embora.

Nem sinal dele...

Mas eu sabia que algo em mim havia mudado.

E que a partir de agora era a minha vez de fazer alguém mudar também... mudar de uma maneira irreversível.

Por: Anuxah

Efêmera Capitu
Enviado por Efêmera Capitu em 31/05/2011
Código do texto: T3006133
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