Caçada na noite
Ela era uma predadora delicada, vagando pela noite com passos elegantes.
Seus encantos de fêmea atraiam olhares, como era da sua vontada, mas nenhum observador lhe pareceu promissor, até que passou pela construção de um prédio.
Parecia que todos os funcionários já haviam deixado seu trabalho e o local estava escuro, abandonado... Seus olhos aguçados, porém, notaram um vigia, sentado num murinho.
Ele lançou-lhe um olhar cretino e murmurou algo como “Coisinha gostosa!”.
“Muito lisonjeiro”, pensou sarcasticamente consigo mesma, antes de abrir um sorriso.
O homem era atarracado, um pouco careca, a pele queimada de sol. Não seria sua primeira opção, mas serviria por hora.
-Oi! – Disse. – Sabe, eu estou indo pra minha casa, ali na esquina, mas estou sozinha e tenho medo... O senhor sabe, tem uns moleques que andam roubando na rua.
-Eu acompanho a dona. – Ele levantou de seu posto e seguiu até ela.
“Eles sempre caem”, pensou, enquanto dava os passos em direção a esquina, ladeada pelo outro.
No fim da quadra, empurrou-o contra a parede com urgência.
-Uau! – Ele olhou com malícia para a mulher.
Uma das pálidas mãos dela estava pousada sobre seu pescoço, sentindo a jugular e as artérias que trabalhavam com velocidade, enquanto o coração pulsava, tocando a sinfonia que enchia seus ouvidos.
Com um olhar charmoso, ela abaixou a cabeça, tocando os lábios no pescoço dele, fazendo-o estremecer ao toque frio que tinham.
Antes que a presa pudesse estranhar a pele gélida em pleno verão, ela cravou os dentes e começou a embebedar-se do sangue quente, enquanto o envolvia com os braços, contendo o corpo que insistia em lutar contra a morte.
Estava acabado em minutos e ela deixou que o cadáver caísse na calçada, ainda presa no seu êxtase.
Seguiu tropegamente pela calçada, em frente, cantarolando uma antiga canção celta, que embalara o sono de sua remota infância. Estava satisfeita, por hora, mas voltaria. Ela era a predadora disfarçada, deslizando na escuridão.