Amor ou obsessão?
O silêncio da noite foi interrompido por um grito de terror. Grito esse que veio de dentro do castelo do lorde, mais precisamente embaixo do castelo, na sombria e triste masmorra.
Sofia, a bela noiva do melhor amigo do lorde, adentrou o aposento; a cena presenciada enlouqueceu-a de dor. Seu companheiro e confidente, o homem com quem esperava envelhecer, vivendo a cada dia a felicidade de amar e ser amada; seu amado noivo! Ali estava ele, seu rosto, que já foi tão belo, coberto de hematomas. Seus dois olhos fechados inchados, seus lábios cortados. Cada parte visível de seu corpo marcado pelo chicote. Alguns ossos em ângulos estranhos. Mas não fora isso que lhe chocou: Foi o fato dele estar morto. Um punhal encravado em seu peito. Caiu de joelhos ao lado dele e com lágrimas nos olhos observou o rosto amado, tão belo, mesmo que maltratado. A apatia abateu-se sobre ela, amortecendo o horror da visão. Então, de repente viu uma mão puxar o punhal do peito de seu amado.
Ao olhar para cima, seu coração se apertou ao ver o Lorde, senhor do castelo. Seu rosto mostrava uma confusão de emoções.
- Agora você é minha, Sofia. – Falou o Lorde, sua voz combinando com os sentimentos que transpareciam em seu rosto.
Então Sofia gritou, liberando toda a sua dor. Em seguida, as lágrimas caíram, não queria acreditar.
Os minutos passaram. Cada segundo parecia demorar horas. Então após muito tempo - ou não - sua pálida face transformou-se em uma máscara de indiferença, as lágrimas, antes tão abundantes, secaram, como se o calor do ódio que emanava dela as tivesse evaporado. Então falou calma e friamente, com se toda dor de outrora já não existe mais. E quando falou, o ar pareceu ficar mais frio e pesado, a bela e doce jovem morrera, deixando apenas uma mulher tão ferida, que nada mais lhe importava. O ódio presente em cada palavra.
- Juro por minha alma, e em quanto viver, dedicarei cada segundo e cada suspiro, para atormentá-lo. Não hesitarei. Não perderei uma oportunidade sequer de impedi-lo de ser feliz, tal como tu pareces desejar para mim. Serei tua sombra maligna, esperando o momento oportuno para te apunhalar. Serei vítima e algoz, prisioneira e carcereira. Jamais feche os olhos perto de mim; não duvide, te matarei. O mais lenta e dolorosamente possível. Quero-te ver fraco e agonizante, deitado em uma poça de seu próprio sangue. E quero ser eu a infligir-lhe tal sofrimento. Só eu. Mas não me olhe assim, há uma solução; mata-me. Deixe-me ir ao encontro de meu amado na eternidade, onde não haverá mais dor e sofrimento. Acabe com minha agonia! Tens misericórdia de mim! Mata-me! Salve-se! Acabe com minha agonia! Mata-me!
Ele tudo ouvia, dor e arrependimento pelo que fizera ardiam em seu peito. Os gritos de dor e ódio de Sofia o fizeram lembrar-se de cada momento de loucura ao qual foi acometido, tanta maldade que espalhou em sua curta vida lhe passou pela mente. Seus olhos arderam, sem coração espremeu-se de agonia por ver a mulher amada reduzida a dor, ódio e desespero, onde outrora havia apenas doçura e alegria de viver.
Lançou-lhe um olhar suplicante, um olhar deixando transparecer todos os seus arrependimentos e emoções. Hesitou por um segundo. Mas logo tal expressão deu lugar à postura de quem toma uma decisão definitiva e, com grande pesar, cravou o punhal no coração de seu único e verdadeiro amor. Seu belo rosto contraiu-se em momentânea dor, que logo foi substituída por uma expressão de paz. Seu corpo vazio de alma caiu por cima do único homem que amou.
“Sofia não existe mais”. E com a suprema dor se abatendo sobre seu corpo e mente, tirou a própria vida com o punhal maldito que matou sua amada duas vezes: Ao matar seu noivo amado e ao afundá-lo em seu despedaçado coração.
FIM