Um conto da morte
A lua estava a pico no céu, por entre as ruas estreitas pouco movimentadas, pairava uma leve névoa que intensificava o frio que entrava em meu corpo.
Uma figura angelical estava parada logo a frente... Seu corpo, alvo como a lua, estava encostado na parede com os braços sobre o peito, e seu olhar era baixo... Seu cabelo negro tampava-lhe quase completamente os olhos.
Reduzi o passo por algum motivo... Por que eu estava fazendo isso? Mesmo que eu quisesse acelerar, meus pés simplesmente não me obedeciam.
Parei em frente aquela figura... Um sorriso maligno abriu-se em seu rosto e seu olhar encontrou o meu, encantando-me, não pude evitar sorrir de volta.
Pude perceber algo em sua boca... Vermelho... Sangue?!?
Olhei em volta... Um corpo jazia aos pés dele...Desesperei-me.
Com um movimento das mãos ele fez-me olhá-lo novamente... Não queria o olhar... Mas não podia controlar meu corpo.
Uma completa marionete... Não de um anjo, mas sim de algo completamente oposto disso.
Andava a seu encontro, mentalmente corria para longe dali. Suas mãos passaram sob minha cintura e ele puxou-me para si.
-Uma menina não devia andar sozinha pela rua a essa hora...- Sua voz rouca era como melodia para os meus ouvidos, seduziu-me, mas não me fez esquecer aquele corpo sem vida perto de nós.
- Deixe-me ir - pedi sem ser muito convincente, meus lábios clamavam pelos dele... Seu toque arrepiava-me...
Mas eu não podia esquecer... Não podia deixar de pensar que talvez eu fosse a próxima que estaria deitada a seus pés... Sem sangue nenhum correndo em minhas veias.
- Você não quer isso... - ele disse confiante e puxou-me para um beijo intenso.
- Não, não quero... - Respondi sem pensar e correspondi-lhe o beijo, entregando-me completamente a ele... A morte... Ao desejo... - Mas...
- Shiiiii.... - seus dedos calaram-me ao mesmo tempo que sua boca saiu das minha e percorreu o meu pescoço, ficando por lá por algum tempo e logo senti uma dor intensa.
Senti a vida saindo do meu corpo pelos lábios daquele homem... Meus olhos se fecharam aos poucos...
(...)
Um dia ouvi histórias de vampiros... Contos sem sentido para assustar crianças, que rendem filmes e dinheiro a muita gente...
Hoje, vivo um conto da morte... Aonde meu único meio de vida é acabar com a vida das pessoas...