DiÁRiO DA MORTE 3
“Beberam juntos os conteúdos dos frasquinhos
Mas um veio para mim primeiro que o outro...”
Nós não sabíamos mais o que fazer...
Não havia lugar no mundo em que nos deixassem em paz
Nós apenas queríamos nos amar
Eu não agüentava mais!!
Foi aí então que o meu amado fez a proposta
A única proposta que podia nos deixar juntos
E para sempre...
Nós não somos imortais...
Por isso resolvemos nos unir na morte
Já que a vida era breve e impossível para viver nosso amor.
Eu nunca tive medo da morte
E na verdade, eu acho que só tenho um medo: perder o meu amado!
Me sentia feliz enquanto os dias se arrastavam
Íamos ficar juntos por toda a eternidade!!!
Isso me bastava.
De um modo clássico.
Seria com veneno.
O mais forte possível, ele garantiu-me
Pois não queria que eu sofresse muito na hora
O dia estava marcado
Ele tomava providenciava o que era necessário
Fomos à igreja onde o padre era amigo de infância do meu noivo
E simbolicamente nos casamos.
E o dia chegou...
Era noite profunda. Fomos a uma praia local. Estava deserta.
Nós chorávamos e não falamos durante o percurso até lá
Ele me beijou literalmente com se fosse o ultimo beijo
Em meio a lagrimas, retirou um pequenino embrulho do bolso
A nossa morte.
Eu não hesitei nem um segundo.
Eu não queria pensar em como “seria” morrer
Apenas disse para fazermos juntos
E assim aconteceu. Ele abriu o meu frasco e o dele
Bebemos sem parar de olhar nossos olhos
Como se buscássemos através deles nos encontrarmos após a morte.
Mas eu morri primeiro.
Parti no meio de um sussurro - Meu amor não me deixe...
Abri meus olhos e vi que eu não estava só
Sob a luz da lua meu corpo jazia na areia branca da praia
Meu amado ainda vivia e segurava meu rosto bem perto do dele
O vento frio da noite balançava nossos cabelos
A morte ansiava por me retirar dali
Mas esperou.
Meu amado falava-me algo que eu já não podia ouvir
Então, aproximou os lábios aos meus e me beijou pela ultima vez em vida
Ele estava vindo ao meu encontro. A morte já ouvia seu chamado.
Direcionei meus olhos para o alem...
Ele finalmente se unia a mim...
Beberam juntos os conteúdos dos frasquinhos
Mas um veio para mim primeiro que o outro.
Eu os esperei então.
Estendi uma mão para cada jovem alma. Aproximei-os de mim num abraço.
Lembrava-me deles de outras situações como essa.
Eles agora estavam juntos... Mas não para sempre como imaginavam
Já haviam agido assim outras incontáveis vezes
Estavam tão próximos envolvidos pelo meu abraço agora
A tragédia da morte os alegrava
Tolas almas gêmeas apaixonadas...
Logo em breve eles seriam separados novamente.
O destino de um era procurar pelo outro... Pela eternidade.