Meu Anjo Da Morte
Fugi...
Cansei-me, eu juro, realmente cansei-me de tudo e todos. Adentrei-me na floresta antiga e tomada pela escuridão, nessa hora, nesse momento, meu medo já não me importava. Eu só queria me afastar de toda aquela hipocrisia, de todo aquele egoísmo das pessoas miseráveis que conheci, não me importava o medo agora.
Meu pai faleceu ontem. Hoje a noite foi seu enterro, tirando eu, ele era o último da família. Em vez das pessoas pelo menos fingir estar tristes, se importar com as dores do outros, ao menos respeito, não... Eu podia ver, eu enxergava tudo neles, a alegria da morte de meu pai, a ansiedade para irem embora... A falsidade que sempre existiu entre eles, a falsidade pregada em suas faces miseráveis.
Agachei-me encostada na árvore, a floresta era fria a noite e sombria. Uma nevoa fina e baixa corria pelo chão da floresta. Fiquei exatamente aqui, sentada e chorando, derrubando as lágrimas de dores sem importância. Ouvi um barulho, fiquei alerta... Algum tipo de... Instrumento. Olho em volta, nada, mas meus ouvidos perceberam uma melodia soando na floresta. Levantei, andei perseguindo o som.
Avistei de longe um piano de caudas, negro, parecia velho, teclas amareladas, aparência de velho e quebrado, mas o som era ainda sim perfeito. Um calafrio subiu pelo meu corpo arrepiando os pelos da minha nuca e dos meus braços, dei-me conta que o piano tocava sozinho, como se fosse automático, mas praticamente impossível. Eu tentei correr, tentei fugir sair dali e pensar em um lugar pra ir, mas não tinha nenhum e também meus pés ficaram ali sem nenhum movimento estava parada imóvel no meio da floresta. A nevoa de baixo dos meus pés começara a sumir. As barras de meu vestido longo, negro e praticamente gótico, estavam sujas. Isso era uma coisa que me assustava bastante, parecia que havia chovido sangue ali. Do chão até as árvores estavam molhados de sangue, meu vestido e meu sapato agora estavam banhados de sangue, estremeci. Um homem pálido apareceu, estava indo em direção ao piano, vestia-se todo de terno preto, seus olhos negros parecem órbitas, porém lindos e sombrios, um sorriso debochador estampava sua face, seus cabelos longos chegavam ao ombro. Aquele sorriso estava voltado a mim.
Sentou-se no banco a frente do piano, começou a tocar. Uma melodia sombria que me dava calafrios. Fiquei com medo, apavorada, desejando ir embora, mas o Maximo que meus pés me obedeciam era pra avançar. Um vento soprou forte despenteado meu cabelo, uma de minhas falhas: curiosidade. A minha curiosidade sobre o homem, lindo, misterioso que supostamente me fascinava, falou bem mais alto. Comecei a me aproximar do homem... Ele parou de tocar e voltou sua atenção para mim, seus lábios deixaram escapar mais um lindo e assustador sorriso. Não entendi o que me prendia ali, o que me dava medo, mas ao mesmo tempo eu parecia bem, eu sentia algo vindo do homem, algo que me prendeu a ele. Parei assustada e nervosa a alguns centímetros dele, ele levantou-se calmo e gentil, aproximou-se de mim, tanto que tenho certeza que ele podia sentir minha respiração, porém, ele não parecia estar respirando. Colocou uma de suas delicadas mãos em meu rosto sujo por lagrimas negras.
– Maldita maquiagem – Segurou minha cintura com sua outra mão.
Sua face tornou-se uma de dor, assustei-me ao ver. Saíram enormes asas negras ensangüentadas de suas costas. O medo, deveria ter me tomado completamente, mas nele, tinha algo nele, algo que me deixava confortável, como hipnotizadores.
__Tenha calma – Sussurrou aos meus ouvidos sua voz calma, doce e misteriosa.
Gesticulei um “sim” com a cabeça, foi ai que notei que estávamos a mais de metros acima do chão, não percebi antes mais ele estava voando, bateu suas asas novamente. Subimos mais. Seu sorriso agora se tornou triste e malicioso... O medo apareceu.
__A última reencarnada portadora do sangue de minha antiga amada – Um riso brincalhão foi solto por seus lábios.
Chegou mais perto, tão perto meu anjo da morte, eu podia sentir seu sangue correndo pelas veias de seu corpo e sabia que ele sentia o mesmo comigo, aproximou-se mais até que selou seus lábios aos meus, beijando-me.
__Querida – Soltou um suspiro e passou a mão por meu cabelo – Peço-lhe teu perdão.
__Mas... – Não havia entendido e não consegui terminar de falar, pois eu não conseguia respirar.
Mesmo com a face mostrando rancor e tristeza soltou-me a metros do chão. Ele ficou ali parado observando eu cair com a mesma expressão no rosto. Foi assim que ele tirou minha alma, fazendo minha morte chegar mais rápido, não consegui nem ao menos gritar, também era inútil. Minhas lágrimas não tinham valor, senti estar me aproximando do solo, parecia ter caído em um abismo. Ouviu-se um baque no chão e meu corpo ficou ali imóvel no meio da floresta, juntando mais sangue. Minha alma agora perdeu-se de meu corpo.
Obrigado!
Meu querido anjo da morte, me libertaras de minha miserável realidade.