Rachmaninov

Ele descansa tão profundamente que já nem sei se está vivo.

Aqui onde estivemos, repousam tantos outros corpos. Eu afago-lhe os cabelos, relembrando uma felicidade passada. Ele mantem os olhos fechados e nós relembramos as tempestades que passaram. Será que ele me sente?

Onde está nossa luz em meio a esse vale de lagrimas, de tantas cruzes, tantos anjos... E eu, busco em sua face e em seu descanso, forças para andar e continuar amando-lhe.

Será que ele percebe que estou aqui, repousando com ele, onde eternamente repousarei? Ah, se soubesse o quanto meu coração sangrava pela saudade, que friamente nos separou... Talvez tivesse me dito um ultimo adeus.

Eu afago-lhe os cabelos tão suavemente; como o vento sombrio que vagueia entre os túmulos do meu refugio, da minha paz. Acho que ele não me sente, mas será que sonha? E eu que sempre sonhei com ele, sentia a distancia calando minhas palavras e suas palavras apagando minha vida... Ainda na ira eu o amei... Desejando esquecê-lo.

Acaricio seu rosto. Será que ele me sentia, repousando friamente, como a tempestade em sua janela: às vezes acordando-o, outras o fazendo dormir?

Conheci o destino que nos afastava e ele disse-me que o mal não se une ao bem, que um amor entre um anjo e um demônio é o veneno para a terra, para os Deuses e seus mundos... è um amor amargo que congela os sentimentos e que fere as mágoas. E mesmo presa ao destino eu o amei...Sentindo o mal que fazia por simplesmente...amá-lo demais.

Mesmo sem saber se ele me sente, eu tranqüilizo suas dores, acalmando suas aflições, fazendo-lhe esquecer a minha perda... Sobre meu descanso ele descansa e eu o olho dormindo, em seus sonhos: amando-me. Longe da lucidez da minha falta.

Onde é meu refugio, ele veio procurar-me quando eu o deixei. Mas será que sente minhas lágrimas de saudade tornando-se seu manto?

Aqui onde os portões se fecham ao deitar do Sol eu sempre estarei o aguardado quando me esquecer. E mesmo na angustia de sua falta, no poder de minha raiva, eu vou murmurar pelo amor que sinto por ti.

Os anjos e gárgulas me olham, estranham esse amor... Só por que fui cuspida do abismo do tártaro, sou ser filha de um demônio, demônio que também sou... Amando um anjo, em seu profundo sono pacifico... Na saudade que sente por mim.

Ah, como te queria de volta, só meu, queria tirar essas tuas asas, queria votar a olhar nos teus olhos, queria afagar-lhe em vida assim como posso pós morte.

Mas não sei se me sente. Sofro uma dor de solidão. Não há, aqui, vida para beber, não há seres que possam me saciar a fome, é um eterno oscio em que não posso te ter, em que eu queria que me ouvisses.

A noite cai e tu não acordas. Aqui, sozinha, eu te dou meu carinho... O céu está nublado e a chuva logo começar a cair. Como nunca, ela veio suave e fria. Não te vejo se mexer, não te vejo acordar.

E como a chuva eu acariciava o corpo morto do meu amor. Eu te tinha, mas te perdi. E nesse descanso profundo eu soube que estavas morto. Veio buscar-me em meu tumulo para morrer também. Uma morte de desgosto e de amor... O qual os anjos comuns não sofrem...

Mas tu eras diferente...Tu tinhas amor...amor por um demônio.

Jacii
Enviado por Jacii em 15/10/2010
Reeditado em 16/10/2010
Código do texto: T2559107