Anjo negro.

A luz era uma vizão que brillhava no meu dia

Com a intensidade devida intimava a beleza

Era algo que fascinava meus olhos celestes

Como um simples abrir de asas bem definidas

Minha mémoria vuava pelos céus

Acelerada sobre o ar da graça divina

E livre sobre o peso da culpa

O corpo se fazia em dia das palavras

Reduzindo meus instantes pensamentos

Em espaços abertos nos acordes sem fins

No vacuo ilimitado dessa fronteira

Onde o calor despeja o renascer do sol

Deitei-me sobre este imenso abrigo por muito tempo

Com a parábola dos pensamentos voltada a uma idéia diferente

Até o momento que o céu não quis mais

Me abrigar dentro da sua casa canora

Em graças aiorias contidas de harmonia

Sobre o prenúncio do meu lar me abandonar

Joguei-me pelo lugar em que a passagem era sem volta

Largado fui e acometido sobre a desolação eu cai

Despejando minha alma sobre o corpo da terra

Arrastando-me pra baixo ao longe por bocatos espaços sem anexos

A estocada que senti sobre a terra cuspiu a sede pelas dores

Quando toquei o chão duro fiquei emaranhado pelos restos de sangue virgem

E minhas asas muito machucadas pela queda ficaram esmigalhadas

Ai que fiquei paralizado em profunda nostalgia

Dos meus olhos escorreram-se as lágrimas

Que bebi estirado no meu próprio sangue impuro

Quando deitado fiquei afetado com a sensação, girava parado

Sem parar no equilíbrio certo do sentido

Por não ter mais músculos tive que me adaptar

O vazio tornou-se um exterior de dimensões

Onde o sol que orientou meu interior de vida

Acabou-se tornando a afiada agulha que penetrava a melodia

Sobre as desnorteantes dores do meu corpo aberto

E as profundas consciências naquela misericórdia divina

Eu acabei me cobrindo sob a sombra de um anjo negro

Mudando completamente meu antigo estado de aparência

Meus ossos eram os pedaços mais reconstituidos sobre as sobras

Do meu corpo que apresentavasse na falta de pele e músculos

Que com a queda entre a atmosfera e o chão se espalharam na terra

Em meio ao calor onde derreteu-se o resto em carne sobrando

Apenas o detrimento dos restos que haviam sobrado em carne e asas queimadas

Os afagos encobertos que revestiram minhas costas em plumas

Transbordavam em vagas envergaduras a beleza singela

Ao fragmentarem-se com a queda morreram os vestigios

Jogados aos pedaços como palavras perdidas ao chão

A leveza destituía a beleza da suavidade

Acabando-se arrebentada na aurora de outrora

Pelas sombras sujas e negras da realidade

Com que se cobriram as minhas asas imponentes

E meus olhos celestes do nascer do sol

Se apagaram em cor tingida como o eclipse da lua cheia

As vestes puras da seda branca delicada

De maresia ao vento que soprava

Jamais estiveram tão alimentadas

Por rasgos sobre as lugubres tiras

Maltrapilhas consumidas de sujeira

Que a terra alimentou por completo

De escuridão manchada em sujeira e sangue

As trevas se tornaram a escuridão que apagou minha noite

Foi algo que destruiu a minha essência

Com um simples fechar de asas

Que a morte anda com aqueles passos lentos

Sobre o que possa acontecer a qualquer minuto

Onde se fecha a leveza de um anjo negro

Nessa escolha que ousei-me atravessar o caminho

E com o julgamento em que fui-me imposto

Me cubro sobre um manto negro dos restos de minhas roupas

Em busca do tempo e das horas que cada pessoa carrega

Eu as levo até seu destino inevitável para pagar

O preço da escolha que fiz quando joguei-me do céu

E hoje fico caminhando na terra pelo resto da eternidade ou até o fim dela.

Á alma é barata
Enviado por Á alma é barata em 28/09/2010
Reeditado em 11/06/2011
Código do texto: T2524782
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