MORDIDO EM VENEZA (Parte IV)

(Continuação de Mordido em Veneza - Parte III).

Passamos rapidamente pelo vilarejo Câmpulung; sem parada. Chegamos a outro vilarejo próximo, chamava-se Voinesti. Tinha poucas pessoas nas ruas; muitas varrendo a lama que insistia em entrar nos casebres.

As rodas da carruagem pareciam que iam partir-se com os buracos e com a velocidade em que íamos.

Percorríamos perto de um rio à esquerda. Este estava transbordando. Mas, minha atenção sempre voltava para Anjelina. Minha Anjelina. Rapidamente saíamos da área urbana do vilarejo e entramos numa estrada adjacente à direita e percorríamos, agora, a subida de um monte.

Saímos de Voinesti.

O humor de Ank parecia ter voltado instantaneamente depois de nosso beijo... Não comentei mais sobre o caso. A vergonha impedia-me. Mas, parecia-me que ele estava com um esboço de sorriso desde o ocorrido.

Será que ele gosta de homens? – pensei comigo – Ele confessou que prefere homens como vítima... Melhor eu pensar em outra coisa...

Agora a estrada estreitou-se de forma vigorante. As sebes de altas árvores cobriam a paisagem tanto à esquerda quanto à direita. A chuva aumentava, ainda mais, o ar de mistério da floresta.

Mais à frente, um conjunto de casas mostrava que havia civilização até nas áreas mais improváveis.

- Que lugar é este? – perguntei a Ank.

- Rucar. Estamos próximos. Prepare-se. – alertou ele.

Olhei para a cidade que começava a mostrar seu rosto molhado. Outros montes poderiam ser visto dali. Era uma paisagem bonita de ser ver.

Será a última vez que verei isto?

A cidade de Rucar, como as outras, estava quase deserta. Um dos “cavaleiros” olhou pela janela para Ank.

Com um movimento impaciente de mão, Ank mandou prosseguir viagem. Algumas pessoas que persistiam em transitar faziam rebuscadas reverências à nossa carruagem.

Entramos em uma estrada à direita.

Aos poucos a cidade de Rucar estava distante. E as altas árvores e os distantes montes voltavam a ser as paisagens.

Desviei o meu olhar para o anel de ouro que Ank havia me dado.

Ank, agora, deixou de sorrir. Estávamos chegando. Tentei não pensar em mais nada.

Olhei para fora e li numa placa em madeira:

“Bine ati venit la Bran”. (Bem-vindos a Bran).

Desviei meu olhar para Ank; ele estava olhando para mim de uma forma estranha... de uma forma... triste.

- Voltei para casa. – falou Ank ao ver o imponente Castelul Bran.

O castelo ficava sobre uma pequena colina. A carruagem diminuiu a marcha. Ank parecia bastante nervoso.

- Fique sempre atrás de mim. Não sei o que pode estar nos esperando lá dentro. – falou Ank.

Ank pegou em minha mão por um instante.

A carruagem passou pela entrada esculpida em pedras. Olhei para o castelo com seus telhados vermelhos.

A carruagem para. Andrei abre a porta, tentando esconder seu sorriso. Eu e Ank descemos. A chuva não dava trégua. Olhei de esguelha para o pátio; os outros vampiros que nos acompanharam estavam com um ar sério e tenebroso.

Ank me puxou pelo braço para que entrássemos por uma estreita porta fincada numa parede grossa de pedras.

Esgueiramos por uma escada à direita, subimos e entramos num recinto amplo. Parecia uma sala de jogos. Algumas pinturas arabescas enfeitavam as paredes frias. As cortinas estavam abertas, mostrando alguns telhados das casas logo abaixo.

Ank puxou-me, novamente, e entramos em outro recinto. Algumas mulheres estavam lá. Uma delas veio em direção a Ank.

- Ank. É ótimo ver-lhe. – disse ela afagando o rosto de Ank. – Tome cuidado com o que vai dizer; ele está bastante nervoso e chateado.

Ela olhou para mim com aqueles olhos castanho-claros.

- Obrigado, Marg. – agradeceu Ank juntando-se mais a mim – Irei procurá-lo.

Atravessamos o recinto entapetado; com uma voz ao longe ela disse:

- Não dê a sua vida por ele Ank! Você é um Draculea!

Ela era a mulher mais elegante e bonita que já vi, apesar dela ter falado aquilo a Ank. Seu vestido de cor vinho ressaltava a delgadeza de seu corpo esguio. Com certeza, ela não precisava caçar para arranjar suas vítimas...

Ank parecia estar mais sério do que antes. Estávamos agora numa espécie de corredor que rodeava um jardim central. Nem olhei muito.

Mais à frente, Ank abriu uma porta dupla de supetão.

Entramos na nave central do castelo.

- Vossa majestade! – cumprimentou um vampiro que estava à nossa frente.

- Olá, Camron. Onde está meu irmão? – perguntou Ank rispidamente.

Com um sorriso forçado, Camron respondeu:

- Está na sala de reuniões com a Ordem.

- A Ordem está aqui? Quem os informou? – perguntou Ank alterado.

Camron parecia que teve uma crise de tosse.

- Bem... Ah... Foi... Andrei quem deu a ideia, majestade.

Ank segurou a respiração. Vi que ele tinha fechado a mão com muita força.

- Avise-os que estamos aqui. – disse Ank.

Camron fez uma longa mesura e saiu por uma porta.

Olhei para Ank.

- Ordem? – perguntei.

Ank olhou para mim.

- A Ordem do Dragão. Ela só é reunida quando algo muito grave acontece ou afeta, de certa forma, à nossa espécie. Mas, eles vieram para que meu irmão não seja misericordioso com sua decisão! – respondeu Ank esmurrando uma bela mesa de madeira nobre.

Assustei-me com o que ele disse.

Não tínhamos o direito de pedir clemência?

Ank andou pela nave. Eu não tive coragem de fazer outra pergunta.

Olhei em volta. O recinto era bastante bonito. Tinha três bandeiras penduradas no alto telhado de abóboda. Uma com o emblema da Ordem do Dragão, outra com o símbolo da Família Draculea e a outra com emblema do condado de Valáquia.

Olhei pelas enormes vidraças vários recortes de montes cobertos por árvores.

- À sua esquerda estão os Montes Piatra Craiului; e à sua direita os Montes Bucegi. – explicou-me Ank.

Olhei em seus olhos.

- Está muito preocupado. – afirmei.

- Não se preocupe comigo. – respondeu ele afastando-se.

Perguntei algo que estava “engasgando-me”:

- O que será de Anjeline se minha punição for a morte?

Ank se vira e olha para mim ferozmente:

- Você quem optou por deixá-la sobreviver! Assuma as consequências! E se eles descobrirem, sua punição pode ser muito pior do que a morte: irão assassiná-la à sua frente!

Assim que ele terminou de falar, a grande porta dupla abriu-se; Camron anunciou:

- Vossa Majestade Ivan Draculea: Príncipe da Valáquia, Rei dos Vampiros e Chefe da Ordem do Dragão.

Ank abaixou a cabeça em forma de mesura, e eu o imitei.

- Este târziu, fratele meu. (Está atrasado, meu irmão). – falou Ivan poderosamente.

- Ploaia ne-a dat nici un răgaz aici, în România, Ivan. (A chuva não nos deu trégua aqui na Romênia, Ivan). – respondeu Ank amorosamente.

Eu ainda estava com a cabeça baixa.

- Este el, creatura lui? (É ele, a sua criatura?).

- Meu elev. (Meu pupilo). – corrigiu Ank.

A grave risada de Ivan tomou conta do recinto.

- De-a lungul anilor, sentimentele lui se schimba, frate. (Com o passar dos anos, seus sentimentos estão mudando, irmão). – criticou Ivan.

Escutei um farfalhar de tecido sendo arrastado ao chão

aproximando-se de mim.

- Uită-te la mine.– ordenou Ivan a mim.

- Olhe para ele. – traduziu Ank.

Olhei para ele.

Deslumbrei-me. Ele era mais bonito do que Ank. Seus longos cabelos negros antagonizava com o tom branco claríssimo de sua pele. Os seus olhos cinza-escuros dava um quê de mistério àquele belo vampiro. Estava vestido numa espécie de vestido negro que roçava ao chão.

Ele fixou o seu olhar no meu.

- Muito bonito. – concluiu ele em inglês.

- Obrigado majestade. – agradeci.

- Nunca imaginei que um inglês iria estar em minha presença, aqui, na Romênia. – falou Ivan.

- Ele veio para ser julgado, majestade. – lembrou-o um vampiro loiro alto.

Andrei olhou para traz e respondeu severamente:

- Não esqueci, Maximilian.

Ivan, dirigindo-se a Ank, perguntou:

- Você está de que a Ordem foi convocada para julgá-los?

- Sim. – respondeu Ank, secamente.

- Pois bem. Vamos à Sala de Reunião. – falou Ivan a todos.

Ivan saiu primeiro da nave. Os outros vampiros o acompanharam. O silêncio era mórbido e doloroso.

Saímos da nave por outra porta dupla à frente; seguimos por um corredor iluminado por atoches. Olhei para Ank, ele por sua vez parecia bastante furioso.

Vi adiante uma enorme porta dupla em prata maciça. O emblema da Ordem estava entalhado. Entramos.

Era um recinto circular.

Várias cadeiras estavam postas juntas às paredes. Cada um dos vampiros sentou-se e Ank fez um gesto para que eu parasse.

Estávamos no meio da sala circular. Olhei para o chão e vi uma enorme rosa-dos-ventos encrustada nas lajotas.

Algumas armaduras empunhando espadas enfeitavam o recinto fúnebre.

Eu, agora, pude ver um grupo de seis homens que faziam parte da Ordem. Eles pareciam jovens, e tinham um ar sério.

- Leiam a acusação! – ordenou Ivan.

Camron, possivelmente o pajem de Ivan, leu em voz alta o que estava escrito em um papel:

- “No vigente dia de domingo, Andrei Voloh, membro da Cavalaria Real Vampírica, denunciou um ato de transformação de um ser-humano em vampiro em via pública, durante o Carnaval em Veneza, no ano de 1755. O denunciado, Sua Majestade Ank Draculea, deve comparecer ao Castelo de Bran, juntamente com sua criatura, imediatamente para receberem suas penas por desrespeito à Lei nº 236; do Acordo dos Vampiros de 1512, que diz: ‘É expressamente proibido que vampiros, de qualquer região, faça de boa-vontade a transformação de seres-humanos para vampiros; sem a devida ordem ou consentimento do rei vigente’”.

Camron olha para Ank.

- Como os dois estão presentes, passarei a ler: “De acordo com o denunciante, Sua Majestade Ank, não deu a devida importância à descrição quando tentou alimentar-se de sua vítima, que agora é um vampiro-novo. O denunciado, ainda fora visto por outros humanos que ajudaram a vítima. De acordo com as acusações lidas acima, Sua Majestade Ank; desrespeitou a Lei nº 955 de 1558 e a Lei nº 237 de 1512; que explanam respectivamente: ‘Todo vampiro ao se alimentar deve ter total descrição no ato da caça, da alimentação e do descarte do corpo’ e ‘Todo vampiro deve consumir todo o sangue de sua vítima, para que esta não sofra os ciclos de transformação; relacionando à Lei nº 236 de 1512’”.

“O denunciante ainda declara que Sua Majestade não cumpriu a Lei nº 240 de 1512 que diz: ‘Todo vampiro ao notar que sua vítima ainda está viva, deve cumprir as Leis nº 236 e 237 do ano de 1512; sendo assim, deve matar e descartar o corpo da vítima para que esta não evidencie os ciclos de transformação’”.

Camron para de falar e olha para Ank.

- Como vocês se consideram?

- Inocentes. – falou Ank.

- E por que deveríamos acreditar em Vossa Majestade? – perguntou Camron.

Ank suspira de ódio.

- Porque fui designado a administrar os assuntos vigentes de nossa espécie em Veneza pelo próprio rei dos vampiros. – respondeu Ank.

Alguns vampiros entreolharam-se.

- É sabido por todos nesta sala, Majestade, que o senhor é o vice-rei em Veneza. Mas, esse título não o proibiu de cometer esses atos incompreensíveis. – retrucou Camron.

Notei esboços de sorrisos dos outros vampiros.

- Não sei por que contestas, Camron? Já que tu tens uma filha de uma mulher humana... – inquiriu Ank.

Os murmúrios soaram pela sala. Camron parecia que estava sendo torturado, pois seu rosto tornou-se um desenho de dor.

- Isso não vem ao caso Ank! Ela foi julgada e condenada à morte! – falou um vampiro de cabelos ruivos e olhos escuros.

Ank sorriu.

- Ah, Friedrich... Você está certo, mas por que Camron e a filha dele ainda continuam vivos?

O silêncio rompeu a sala.

- Por que meu pupilo deve ser morto se a filha de Camron ainda está viva?

As portas da sala se abriram abruptamente.

- Por causa disto! – gritou Andrei.

Ele jogou Anjelina no chão frio da sala.

||||||||

Todos os vampiros se levantaram; menos Ivan.

Os gritos de acusações romperam pela sala.

Ank olhou furioso para mim.

Eu olhei para Anjelina. Seu corpo estendido daquela forma. Ela estava desacordada.

Ela ainda está no início do ciclo de transformação, por isso que ainda dorme profundamente.

Tentei ir até ela, mas Ank me impediu.

- Desconfiei de seu irmão Vossa Majestade, quando seu “pupilo” insistiu em enterrar sua vítima. Mas, notei que ele tinha um demasiado cuidado com um mero corpo. Então descobri que ele a tinha transformado em vampira, assim como o seu mestre, Ank! – falou aos berros, Andrei, a Ivan.

Ivan levantou-se e falou, como um trovão a Andrei.

- Ele é um Draculea! Puro sangue! Portanto, trate-o com um nobre, Andrei! Ele ainda é o herdeiro da coroa!

- Perdão Majestade.

Os olhos de Ivan desviaram-se para mim.

- As acusações são muito sérias para você, senhor Seymour. Não posso evitar apoiar os meus conselheiros.

Com um longo e grave suspiro, Ivan olhou para os outros vampiros e perguntou:

- Veredicto do vampiro-novo, George Seymour?

- Culpado! – soou em uníssono os conselheiros da Ordem.

Andrei sorria maleficamente.

- Qual a punição?

- Morte! – soou em uníssono novamente.

Rapidamente Ank levanta o meu braço, deixando à mostra o meu anel.

- Ele faz parte da Ordem! Ele não pode ser punido com a morte! – gritou Ank.

Os murmúrios de indignação soaram pela sala.

- Ele se atreveu a dar o anel da Ordem sem o nosso consentimento? – falou um vampiro.

- Absurdo!

Ivan levantou a mão e o silêncio reapareceu na sala.

- É um ultraje o que você fez, Ank. – sibilou Ivan – O anel da Ordem só pode ser entregue a um vampiro de sangue puro! Ele é um transformado! Não merece tal honraria! Suponho-me que ele não fez a Aliança?

Ank olha para baixo, derrotado.

- Não. Não fez.

Os risos soaram pela sala.

- Obviamente que não, pois teria que ter a minha aprovação! E eu, como sabes, não a daria.

Ank nada podia fazer mais por mim. Ele ficara de cabeça baixa.

- Eu poderia revogar tal punição, mas ele é um vampiro-novo, irmão. Portanto, nada posso fazer a não ser consentir com o veredicto da Ordem; então, ele será decapitado amanhã aqui no Castelo de Bran.

Mas, algo em mim crescia vigorosamente: a coragem em falar.

- Gostaria, Majestade, em falar-lhe. Mostrar a minha versão.

Ivan olhou para mim. Mediu-me e avaliou-me.

- Fale.

Esperei alguns segundos.

- É sabido que cometi tal erro transformando esta mulher em vampira. Mas, ela não teve escolha. Ela não pediu para ser vampira, assim como eu. Eu a transformei, pois me apaixonei. O amor, na realidade, é a principal lei que devemos honrar.

- Besteira! – rebateu Ivan – Não contamos com os sentimentos em nossas decisões, senhor Seymour. Portanto, sua palavra é irrelevante. Ela terá que ser morta!

Alguns vampiros sorriram.

Desisti.

Ivan tomando a sua postura de formalidade, perguntou:

- Qual veredicto do herdeiro da Coroa, Ank Draculea? – perguntou Ivan como se já soubesse da resposta.

- Culpado!

- Qual a punição?

- Morte! – falaram mais alto.

Notei resquícios de tristeza no rosto pálido de Ivan.

- Acato o veredicto de culpado. Mas, - os outros vampiros olharam para Ivan de modo desafiador – revogo a punição!

Os murmúrios pareciam gritos de protesto.

- Majestade! Ele desrespeitou várias regras!

- Isso é um erro, Majestade!

- Majestade!

- CHEGA! – gritou Ivan

.

- Sou o rei dos vampiros, portanto minhas conclusões devem ser respeitadas e cumpridas! Estou me baseando pela lei dos vampiros!

Muitos vampiros fecharam, ainda mais, a cara. Pareciam que preferiam morrer a aceitar a revogação da punição de Ank.

- E quanto a você, irmão; - disse Ivan dirigindo-se a Ank - declaro-o culpado de todas as acusações. Sua punição seria a morte, mas você tem privilégios, pois é membro permanente da Ordem e é o herdeiro da Coroa; segundo a Lei Vampírica. – olhou para a Ordem - Contudo, a responsabilidade que cai sobre mim como rei dos vampiros me obriga a ser cego, quanto à justiça; mesmo envolvendo meus familiares. Portanto, minha decisão é que você será levado à prisão no Castelo de São Jorge, em Portugal; tomará o Elixir e será trancafiado num caixão de prata e ferro, e enterrado durante 10 anos.

Os integrantes da Ordem aplaudiram.

Ank, para minha surpresa, estava rindo.

- Meu querido, irmão... Acho que essa punição é muito... branda. Você deve calcular corretamente os anos de minha reclusão. – falou ele ironicamente sobre as palmas.

- “Branda” e “calcular corretamente”? – perguntou Ivan intrigado.

- Sim, pois o que farei aumentará, ainda mais, meus amargos anos de prisão! – falou Ank correndo em direção a Andrei.

Ank saltou em cima de Andrei. Os dois bateram estrondosamente na parede. Ank socara o rosto de Andrei furiosamente. Este o empurrou e ficara em posição de ataque. Outros vampiros tentaram impedir Ank, mas ele os afastara com habilidade.

Ank avançou novamente, e os dois se agarravam pelas vestes. Os socos, tapas, chutes, e outros golpes seriam quase invisíveis aos olhos humanos. Ank, com habilidade, segurou Andrei pelas e costas e deu uma forte mordida em seu pescoço.

Andrei gritou de dor. Desvencilhou do ataque de Ank e o empurrara para longe. Ele segurava o pescoço.

O clima ficou mais tenso e perigoso. As vestes dos dois lutadores há muito estavam em frangalhos. O sangue rubro escorria pelo pescoço de Andrei.

- Traidor! – gritou Ank – Você estava me vigiando todo esse tempo!

- Segui ordens!

- Mentiroso! Eu sabia que você estava em Veneza, mas não para vigiar-me!

Com outro ataque de fúria, Ank avançou e jogou Andrei pelos ares. Ele caiu com um baque no chão.

- Chega! CHEGA! – gritava Ivan.

Ank pegou a espada de uma das armaduras e voou, literalmente, para perto de Andrei. Este se desvencilhou dos golpes fortes da espada, mas Ank conseguiu separar a cabeça de Andrei do corpo com uma guinada da límpida lâmina da espada.

Um esguicho de sangue sujou o chão da sala.

Os murmúrios de medo soaram longamente pela sala.

Vitorioso, Ank lambeu o sangue de Andrei que escorria pela lâmina da espada.

- Alguém mais? – perguntou Ank olhando o para a Ordem.

- COMO SE ATREVE? ELE ERA UM MEMBRO DA CAVALARIA! – vociferou Ivan.

Ivan se aproximou de Ank, e tomou a espada de sua mão. Com um movimento largo, encostou a espada em seu pescoço.

- O que acha se eu te matar agora?

- Nada faria, pois a minha justiça está feita.

- ESTUPIDO! SUA PENA PASSARÁ PARA 30 ANOS! E FAÇO QUESTÃO QUE VOCÊ ESTEJA PRESENTE NA HORA DA EXECUÇÃO DE SEU MALDITO PUPILO! – gritou Ivan monstruosamente.

Ank juntou-se a mim.

- Tragam a maldita mulher! – disse Ivan.

Um vampiro levantou Anjelina e a aproximou de Ivan.

- Isto é para vocês aprenderem a respeitar as leis vampíricas! E que no meu reino, Seymour, não há tolerância ao ridículo sentimento do amor!

Com um movimento, Ivan fez a espada decepar a cabeça de Anjelina.

- NÃO! – gritei desesperado.

Ank me segurou fortemente. A cabeça de Anjelina saiu rolando pelo chão até parar com os cabelos cobrindo seu rosto morto.

O sangue de Angelina substituía o sangue de Andrei. O corpo dela caiu de uma forma rude. Eu gritava e chorava.

Com um movimento de dedos, Ivan ordenou que retirassem os corpos do recinto. Com imponência, Ivan veio até nós e falou jogando a espada ao chão:

- Levarei comigo, Ank, a felicidade de seu pupilo, que ele não encontrará em você!

Os integrantes da Ordem seguiram Ivan.

- Leve-os às celas, mas quero-os em celas separadas! – ordenou Ivan enquanto ia em direção ao corredor do castelo.

||||||||

O que será de mim? Minha Anjelina! Anjelina! Morta...

Fiquei chorando na minha cela por várias horas. Não sabia que horas eram. Não sabia se era noite ou dia. Só sabia que a Tristeza estava no meu lado durante aquele tempo.

Escutei passos vindos do corredor de pedra úmido. Um vampiro para defronte à minha cela e fala rispidamente com um sotaque forte.

- Levante-se!

Levantei-me devagar.

- Vossa Majestade ordenou que você fosse enviado ao Castelo de São Jorge imediatamente, pois não iria aturar mais derramamento de sangue como o que ocorrera ontem. Portanto, vista isso e encontre-me perto da porta de saída.

Ele jogou uma longa capa preta velha ao chão, e abriu a cancela para eu sair.

Vesti a capa e perguntei:

- Ank também vai?

- Não lhe interessa! – ralhou ele.

Resolvi não insistir. Andei pelos corredores escuros, mas que podia ver perfeitamente. Subimos uma escada em caracol e saímos numa pequena sala.

Três outros vampiros estavam na sala. Um deles pegou-me pelo braço e obrigou-me a segui-lo. Andamos pelas entranhas do castelo e saímos no pátio de entrada. Uma bela carruagem negra estava à nossa espera.

- Entre! – vociferou o vampiro.

Puxei o excesso de pano da capa e entrei. Junto à janela estava Ank. Ele me olhou com um ar triste.

- Olá. – falou ele.

- Você está bem?

- Sim. Não fizeram nada comigo, não se preocupe. – respondeu ele.

Um vampiro de olhos claros pegou minha mão e retirou bruscamente o anel da Ordem de meu dedo.

- Isto precisa ser devolvido ao rei! – falou ele secamente.

Depois fechou a portinhola.

Com um leve solavanco, começávamos a sair do Castelo de Bran.

Eu tinha tantas perguntas a fazer, mas sabia que não era o momento adequado.

- O que tens? Algo te incomoda? – perguntou Ank.

- Somente as dúvidas.

- Quais são?

Fiquei olhando para ele. Parecia que nada aconteceu, parecia que ele não tinha matado outro vampiro.

- O que é “Elixir”? – perguntei tentando afastar o ocorrido no castelo.

Com uma risada, Ank diz:

- O Elixir, é uma bebida que só é indicada em casos de punição. Seus efeitos são soníferos, mas que deixa o corpo quase-morto. Ou seja, ele previne o corpo de sentir sede; por isso não morrerei de fome quando for enterrado. Eu podia muito bem safar-me; mas o Elixir me fará dormir durante todos os anos que fui punido.

Fiquei absorto com a revelação.

- E o que Ivan quis dizer com “Aliança”?

- Aliança entre mim e ti. Tu serias considerado um descendente meu se fizéssemos uma Aliança de Sangue. Tu terias que misturar meu sangue com o teu em uma transfusão. É um processo doloroso, mas tu irias transformar em um descendente da Coroa. Mas, não fiz tal aliança, pois sabia que teria que ter o aval de meu irmão. Até hoje, nunca soube da consumação da Aliança.

Realmente eu não sei de nada sobre minha nova espécie.

Ank, então, mexe nos bolsos internos de seu jaleco e tira algumas folhas de ervas.

- O que é isso? – pergunto intrigado.

- Um dos componentes do Elixir. Pegue essas, a viagem será longa.

Faremos todo o caminho de volta.

Não quis pegar, mas ele insistiu.

- Mastigue bem. É amarga, mas o resultado é animador.

Obedeci-o. Mastiguei bastante. Uma pasta amarga começou

a se formar em minha boca.

- Agora engula. – disse Ank também mastigando suas ervas.

Engoli as amargas ervas.

- Agora espere fazer efeito. – disse-me ele.

E assim fiz. Esperei.

Alguns minutos passaram e comecei a sentir sonolência.

- Por que ficamos sonolentos, se nosso organismo aguenta outras reações? – perguntei.

- É mais um mistério que ronda nossa espécie, George. – respondeu Ank misteriosamente.

Olhei para fora, mas não vi nada. A escuridão era evidente. Tornei a olhar para Ank, mas manchas cobriam o seu rosto. Minhas pálpebras estavam quase cerradas.

Com um movimento brusco, deixei a janela apoiar minha cabeça. Adormeci.

||||||||

Quando acordei, estávamos numa nau atravessando o Estreito de Bósforo.

Olhei assustado para os cantos, e vi Ank sentado junto à mesa.

Levantei-me da cama.

- Ah, finalmente, meu cordeirinho. – falou Ank – Pensei que tivesse morrido; você dormiu três dias. – completou ele rindo.

- Onde estamos? – perguntei sem delongas.

- Próximos a Istambul.

- Que navio é este?

- “Cortesia” de meu irmão para nós. Estamos no navio real. Que honra, não? – ironizou ele.

Depois que comecei a lembrar de todo o ocorrido no Castelo de Bran. Minha Anjelina tinha sido morta... Por minha causa. E agora eu estava indo a Portugal para ser executado!

Ank percebendo meu mal-estar, veio em minha direção.

- Não tenho palavras para consolar-lhe, George. Seu fim é trágico, mas será para mim também; pois muitos irão me criticar até o Apocalipse.

- Não se preocupe. – falei olhando para ele.

- Como não me preocupar? Sou seu mestre! Eu criei você!

Levantei-me e fui olhar para a Istambul que se aproximava.

- Poderemos descer? – perguntei.

- Claro que não. Estou ficando com sede, por isso pararemos. Eles irão buscar algumas pessoas para nós.

Dei de ombros. Tanto faz agora, pois vou morrer de qualquer forma.

Que destino eu tive. Saí da Inglaterra para passar alguns anos em Veneza; agora estou indo a Portugal ser morto por, simplesmente, ser um vampiro-novo!

Meia hora depois, nossa nau estava no porto de Istambul. Era de manhã; talvez umas seis horas.

- Não gosto muito de sangue turco. – confessou Ank.

- Você já esteve aqui? – perguntei surpreso.

- Já estive em toda a Europa, cordeirinho. Menos nas Américas.

Ank tomava alguns cálices de brandy.

- Para tirar um pouco o gosto do sangue turco.

Dei de ombros.

Minutos depois três vampiros entravam em nossos aposentos com quatro pessoas. Três mulheres e um homem.

Os vampiros empurraram os quatro para dentro e fecharam a porta bruscamente.

Uma das mulheres gritava batendo na porta.

- Lütfen! Lütfen! Çıkarın beni! Tanrı aşkına! (Por favor! Por favor! Deixe-me sair! Por Deus!).

- Sana canım dinlemeyeceğim. (Eles não vão lhe escutar, querida). – falou Ank ironicamente.

Fiquei olhando para aquela mulher vestida com um longo turbante preto.

Desviei meu olhar para as outras duas. Elas estavam de joelhos e faziam suas preces. Já o homem, ou melhor, um jovem; estava acuado junto à parede. Olhava para mim e para Ank de modo assustado.

- Qual você escolhe, George?

- Não estou com sede. – menti.

Ank bufou de raiva; foi ao jovem rapaz pegou-o pelos cabelos cacheados e jogou-o para cima de mim.

- Prove este. Talvez você goste do gosto de sangue de um homem.

Depois ele pegou a mulher que gritava e arrancou o turbante de sua cabeça e mordeu-a sem piedade.

As outras duas gritaram e tentavam encontrar outra saída.

Olhei para o jovem que estava a meus pés.

Seus olhos marejados, sua boca tremeluzente e sua súplica não adiantaram para minha sede que corroía minha garganta.

- Desculpe-me. – sussurrei.

Com um movimento brusco, quebrei-o o pescoço e saciei minha sede.

Ank já havia terminado com sua primeira vítima. Com um olhar demoníaco, ele olhou para as outras duas mulheres que jogavam objetos em sua direção.

- Sen cehenneme piç beni incitme! (Vocês não me ferem bastardas do inferno!). – vociferou Ank com desejo.

Como uma águia, Ank voou em direção das mulheres. Pegou uma pelo pescoço e deu um soco em seu rosto, que quebrou seu maxilar. Já desmaiada, Ank bebia o seu sangue.

A outra tropeçou e caiu junto a mim. Eu há muito já havia terminado com o jovem. Olhei para a mulher desesperada. Peguei-a pelo braço gentilmente. Ela, por sua vez, deu-me uma unhada no rosto.

Não fiquei com raiva, mas com pena. Ela sabia que iria morrer. Então, segurei bem sua cabeça; tampei sua boca com minha mão e a mordi. Seus gritos de dor abafados consumia-me a alma. Senti suas lágrimas mornas tocarem minha pele pálida. Ao terminar com o meu genocídio, joguei-a ao chão e sentei-me na cama.

Percebi que estava chorando.

Ank aproximou-se e disse sem piedade:

- Acho que tem algumas gotas de sangue ainda em seus lábios, George.

Não estava apto para discussões.

A porta abre-se novamente e um dos vampiros entra e retira

os corpos como se fosse jogar comida fora.

Quando olhei pela escotilha percebi que a nau estava em movimento.

Saíamos de Istambul.

||||||||

Os corpos foram jogados nas águas escuras do Mar de Mármara, que percorríamos.

Iríamos realizar o mesmo trajeto quando saímos de Veneza; contudo, iríamos a Portugal.

Chegávamos próximos ao Estreito de Dardanelos. Era meio-dia quando atravessamos o Estreito de Dardanelos, deixando o Mar de Mármara para trás.

Diferentemente da Romênia, o sol, com raios solares amenos, iluminava todo o Mar Egeu. O vento frio vindo do norte e do Oceano Pacífico ajudava a amenizar ainda mais o clima da região.

Era bastante agradável. Fomos informados que não poderíamos sair de nossos aposentos, depois que pedi para ir ao convés.

Ank perguntou se os dias que estávamos passando dentro da nau seriam descontados de sua pena.

Mesmo presos, apreciamos a beleza da Grécia e de suas variadas ilhas e ilhotas.

Às cinco da tarde, estávamos no meio do Mar Mediterrâneo. Bebíamos alguns drinques de brandy para passar o tempo; enquanto Ank contava-me algumas de suas sobre nossa espécie.

- Não se sabe muito bem como minha família se tornou vampira.

Alguns dizem que a Ordem do Dragão fora, na verdade, uma seita macabra que cultuava a Lúcifer. Deus, irando-se, rogou-nos uma “praga”; que aquele que fora afetado iria beber sangue, jamais morrer, e ficar parado com a idade em que foi amaldiçoado. Outros dizem que minha família sofre de uma rara doença hereditária: fotofobia mais severa. É esta teoria que mais aceito.

- Mas, se sua família é a “transmissora”, por que há outros vampiros de outras famílias? – perguntei.

- Bem, pelo que eu sei, muitos parentes meus, que fugiram da Valáquia quando esta estava sendo invadida pelos bizantinos, alimentavam-se de forma descuidada em outros reinos. Muitas vítimas sobreviviam aos ataques e aos ciclos de transformação. Quando sabiam o que realmente eram, eles criavam as suas próprias leis. Por isso, muitos deles criaram seus próprios clãs e começaram a fazer da Europa uma terra de carnificina. Os humanos perceberam, e muitos escritores, como o Byron, cientistas e religiosos falavam sobre nossa espécie. Meu ancestral, com seu egocentrismo, decidiu criar uma espécie de tribunal para os vampiros malfeitores. Muitos negavam que a família Draculea era a criadora de toda a espécie vampírica, pois não havia comprovações. Por isso, houve várias batalhas encabeçadas pelo meu ancestral para organizar, suprimir, controlar a nossa espécie. Contudo, ele se empenhou mais em divulgar a supremacia da minha família. Isso durou séculos! Com a aceitação obrigatória da parte dos rebelados, meu ancestral tornou-se Rei dos Vampiros. Mas, isso durou pouco tempo; pois ele foi assassinado pelo próprio primo, Cornelius Draculea.

- Nossa... Mas, esse tal de Cornelius fora um bom monarca dos vampiros?

Ank sorri.

- Bem, para os vampiros conservadores, sim. Alguns o consideram como o melhor rei vampírico de todos os tempos. Na realidade, houve somente cinco reis: Vlad III Tepes Draculea, Cornelius Draculea, Heinrich VI Draculea, Anto Draculea e Ivan Draculea; meu irmão. Vlad fora assassinado pelo primo: Cornelius. Este preferiu renunciar o trono e...

- Por quê? – perguntei interrompendo-o.

- Porque ele foi o único rei que fez a “limpeza” étnica de nossa espécie. Ele matou todos os vampiros que não tinham ligação direta com meu ancestral, Vlad Tepes. Quando ele percebeu que o número de nossa espécie tinha reduzido vigorosamente, ele ficou satisfeito e resolveu, simplesmente, deixar o cargo.

- Como ele sabia quem era descendente ou não de seu ancestral?

- Simples, pelo sangue.

- Sangue?

- Os descendentes de primeiro grau de Tepes têm o sangue azul, literalmente. Sou filho de Lady Batory; prima de primeiro grau de Vlad Tepes. Ela teve uma morte horrível, não gosto de comentar. Mostrarei-lhe.

Com um movimento, Ank retirou a manga que cobria o pulso direito de seu braço.

- Morda.

- O quê?

- Morda. Vamos!

Com cautela, aproximei-me do pulso branco e rígido de Ank e o mordi fraternalmente.

Com um pequeno estalo, duas riscas de sangue azulado escorriam pelo pulso.

- Nossa... – eu disse.

- Era desta forma que ele identificava. Veja isso.

Ele se levantou, pegou uma vela do candelabro, melou o dedo indicador de sangue e desenhou um traço no tampo da mesa.

Depois, aproximou a vela do traço de sangue. Como se fosse

pólvora, o sangue alimentava a chama. E lá ficou no tampo um risco de fogo. Ficou assim até as chamas consumirem todo o sangue.

Com uma leve lambida de Ank, os furos no pulso cicatrizaram sem deixar marcas.

- Sangue quente, não? – falou ele rindo.

- Estou surpreso.

- Ele fazia isso com os vampiros que não tinham sangue azul. Se o

sangue inflamasse-se, era um descendente, se não inflamasse... Morte.

- Ele ainda vive?

- Não, não. Ele quis que o matassem.

- Como?

- Ele pediu a “Morte Misericordiosa”, que é a escolha de qualquer

vampiro que não deseja mais viver. Fazemos todo um ritual de despedida, ele fala algumas palavras, depois, se deita entorpecido por ervas num divã e decepamos a sua cabeça com a espada que pertenceu a Vlad Tepes. Geralmente, os vampiros ficam entediados com a longeva vida, George. Por isso decidem morrer.

- Eu não prefiro morrer agora!

Ank riu tristemente.

- E os outros? – perguntei para desviar os pensamentos de Ank.

- Bem... Heinrich VI Draculea só conservou as Leis Vampíricas que foram formuladas no reinado de Vlad e enfrentou algumas rebeliões de outros vampiros que não aceitavam a morte de outros vampiros que não eram descendentes. Ele não foi um rei muito heroico como os outros. Já Anto Draculea fora meu pai. Ele caracterizou um reinado de paz; mas enfrentou um único confronto na China. Ele morreu em batalha. Em represália, meu irmão quando assumiu o trono; ordenou que todos os vampiros chineses fossem mortos. Ele designou vários vampiros para todas as cidades da Europa para perseguir os vampiros chineses. Fui designado a ficar em Veneza que é a porta de entrada de vários navios chineses. Mas, não encontrei nenhum lá... Muitos deles foram mortos em seu próprio país. Dizem que são muito patriotas para abandonarem seu país... Imbecis.

Era muita informação.

- Quem vai ficar em seu lugar?

- Não sei... Talvez um membro da Ordem.

- Mais brandy?

- Sim, por favor.

Ank encheu a minha taça.

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(Continua em Mordido em Veneza - Parte V)

Deo Odecam
Enviado por Deo Odecam em 25/08/2010
Código do texto: T2459645
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