O demônio do Amor
Ouvindo o eco dos próprios passos.
Dia cinza, temperatua amena.
Um vento intermitente teimava em brincar com suas vestes e cabelos.
Acabara de deixar as flores sobre o túmulo do ex-amado.
Lágrimas secara todas.
Em solitário silêncio, coração encalacrado, proibido de pulsar.
Braços cruzados encarando o chão.
Brevemente sairia da necrópole.
Banira-o. Matara-o.
Nunca mais voltaria a ver, a ter
Principalmente – sentir.
Ao levantar os olhos, o viu.
Estava em cima de uma das mais belas sepulturas, no final da quadra.
As asas da estátua do anjo pareciam pertencer, fazer parte dele.
Ele a encarava com um olhar escuro, profundo e belo.
Matador.
Também de braços cruzados, calado.
O vento silenciara.
Ali parada, ela olhava aquele ser bonito, perigoso...
Sentia calma, vergonha, medo.
Não o queria e sabia que dele não fugiria.
Ele descruzou os braços e os estendeu para ela.
A sensação de ser levada só não era maior que sua vontade de se deixar ir.
Quando próxima ao túmulo ele se ajoelhou.
As poderosas asas de anjo, eram dele.
Ele a abraçou e seu toque era suave, quente, agradável.
Ela sequer tentou resistir.
O abraçou não tão suavemente.
E chorou. Chorou porque tentou não encontrá-lo novamente.
Chorou por saber que não o seguraria por muito tempo.
Chorou. Mais uma vez ele criara asas e voaria para longe...