MORDIDO EM VENEZA (Parte III)

(Continuação de Mordido em Veneza - Parte II).

Horas mais tarde, o céu cinza-escuro resolveu deixar cair somente uma fina chuva. Ank e eu ainda conversávamos no camarote, quando Andrei entra de supetão:

- Majestade, devemos aproveitar a trégua da chuva para continuarmos a viagem.

Com um gesto de mão, Ank fala:

- Sim, sim. Mande o capitão içar as velas.

Com um baixar de cabeça rápido, Andrei sai rapidamente do cômodo.

Nosso barco deixa Izbiceni rumo ao norte percorrendo quase todo o rio Olt; íamos à cidade de Slatina.

A embarcação começou a navegar nas frias águas do rio Olt. A cidade de Slatina estava muito longe. Portanto, eu e Ank passamos boa parte do trajeto conversando. Ele me falava de algumas das leis vampíricas:

- Quando estivermos na presença de meu irmão, nunca olhe diretamente para ele. Nunca se aproxime ou dirija a palavra sem a permissão dele. E o mais importante: nunca minta! – falou-me Ank deliberadamente.

Assustei-me de início.

- Nossa, por que tantas regras? – perguntei.

Ank sorriu.

- Consideramos nosso soberano como um ser quase divino. Ele deve ser respeitado, obedecido e seguido.

- Até você?

Ank ri com a minha pergunta.

- Bem, eu tenho alguns privilégios, pois faço parte da família real. – explicou gabando-se.

Ri irônico.

- Aproveite a bebida enquanto não chegarmos. – falou Ank.

Olhei preocupado para Ank.

- Você acha que ele irá nos punir?

Ank suspirou.

Ele não queria demonstrar preocupação, mas com aquele suspiro percebi que nem clemência nós poderíamos pedir.

- Não se preocupe com isso. Aproveite a viagem. – desconversou ele.

Foi o que fiz. Mas, não tirei o pensamento de minha vida que estava em jogo.

||||||||

Fiquei pensativo durante o resto da viagem de ida a Slatina. Ank sabia que eu estava refletindo sobre minha vida; por isso respeitou esse momento deixando-me quieto.

Horas mais tarde, não sabia se era noite ou tarde por causa das nuvens escuras que impediam que víssemos a cor do céu; chegamos a Slatina.

Era um vilarejo movimentado; maior do que outros que pontilhavam as margens do rio Olt. Poderia ser considerado como cidade.

Percebi, então, que não era muito tarde, pois o porto estava com movimento de embarcações e de homens. Alguns marujos auxiliaram na retirada da carruagem de nossa embarcação. Andrei pagou ao dono do barco e alguns marujos que ajudaram.

Antes de entrar na carruagem, olhei para a proa do navio. E ali estava o menino, que conversei algumas horas atrás, olhando para nós. Fiz um gesto com minha mão. Ank também olhou para trás. Vi os lábios do menino sussurrarem uma frase:

- “Sei que são vampiros”.

Ank olhou para mim assustado.

- Você contou?

- Não. – respondi.

- Não comente com ninguém. – vociferou Ank comigo.

Assenti com a cabeça.

Entramos na carruagem; como sempre, Andrei nos esperava segurando a portinhola. Sentamos da mesma forma do que as outras vezes. Se fôssemos míseros humanos talvez não tivéssemos aguentado toda essa monotonia e jornada; e o pior: uma jornada para sermos julgados.

Ank pediu para que as cortinas ficassem cerradas. Talvez porque as pessoas poderiam o reconhecer, não sei. Saíamos do porto decadente a caminho do centro da cidade. Com as chuvas, podíamos ouvir as rodas passarem pelas poças de água. Algumas vezes parávamos, outras seguíamos sem interrupções.

Com um leve movimento, afastei um pouco a cortina. Vi algumas pessoas passando pelas calçadas e outras paradas. Neste momento senti uma forte ardência na garganta; parecia que estava sufocando. Toquei na gola de minha camisa de seda.

Ank percebendo, disse:

- Você está com “sede”. – afirmou secamente sem olhar para mim.

- Sede? – perguntei com a voz rouca.

- Com vontade de beber sangue! – respondeu ele impacientemente.

Calei-me.

“Terei que matar mais pessoas inocentes? Não! Não quero!” – pensei.

Inesperadamente, Andrei fala:

- Podemos nos hospedar em algum lugar e “comprar” o trabalho de algumas prostitutas.

- Não. Não podemos perder mais tempo com isso. Mais à frente pararemos num prostíbulo ou taberna para pegar alguém para ele. – interpôs-se Ank.

Andrei apenas assentiu com a cabeça e olhou para mim de forma ameaçadora.

Não falamos mais.

Alguns metros depois, Andrei olhou para fora e mandou a carruagem parar com algumas batidas. A carruagem estancou de vez, mas nem nos mexemos.

- Vamos. – disse Ank para mim.

Andrei já estava descendo, quando Ank olhou para ele com desdém:

- Você fica do lado de fora, Andrei. George prefere “beber” sozinho.

Olhei para Andrei de forma irônica. Olho, também, para o outro vampiro, que ainda não sei o nome, que guia nossa carruagem. Ele olha com impaciência para mim.

- Coloque isto. – entregou-me Ank a capa. – Não podemos ser reconhecidos aqui.

Eu e ele usávamos, agora, a capa com o capuz abaixado.

Ank puxa-me pela camisa e entramos no recinto. Algumas velas estavam acesas, mas a penumbra tomava conta do local. Olhei em volta. Algumas prostitutas estavam com os seios de fora. Outras deixavam, mediante pagamento, que alguns bêbados sujos as tocassem. Outras transavam ferozmente no primeiro andar. Dava para escutar. Bem, eu e Ank éramos os únicos que podíamos escutar.

- Escolha uma.

Mais uma vez olho em volta. Tinha mais mulheres jovens. Eu queria uma mulher mais “madura”, pelo menos eu não teria tanto encargo de consciência, pois saberia que a pobre mulher teria aproveitado mais de sua vida.

Como não tive escolha, apontei para uma que estava sentada ao longe. Ank foi a sua direção, falou no ouvido dela e a pegou pela mão.

- Doar face cu una de la fiecare capăt şi de două ori atunci când există două. (Só faço com um de cada e cobro o dobro quando são dois). – falou a mulher enquanto se aproximavam.

- Sigur doamnă. Dar va satisface doar dorintele de prietenul meu. (Certo senhorita. Mas, você irá satisfazer somente os desejos de meu amigo). – respondeu Ank.

Nem perguntei o que eles estavam falando. Eu sentia o cheiro de suor exalando do corpo dela, e isso me excitava estranhamente.

Peguei-a pelo pulso abruptamente.

Ela assustou-se, mas nada disse. Puxei-a para dentro da carruagem. Ank me acompanhou. Andrei ficou “vigiando” a portinhola.

Mandei-a sentar de frente para mim em meu colo. Ela pareceu gostar. Ela pôs a mão em meu capuz, mas a impedi rapidamente.

- Aş dori să-ţi văd faţa. (Gostaria de ver seu rosto). – disse ela.

Olhei para Ank. Ele apenas balançou a cabeça afirmativamente, como se dissesse: “esse vai ser o último pedido dela mesmo”.

Soltei o pulso dela e ela, com um leve movimento, baixou o capuz.

Foi neste momento que realmente parei para olhá-la. Nossa, ela era muito bonita. Olhos verdes, branca, corpo delgado. Tive pena dela.

Ela pareceu gostar do que via, como eu.

- Sunteţi foarte frumoasă. – disse ela tocando em meu rosto.

Olhei para Ank.

- Ela diz que você é muito bonito. – traduziu Ank com um olhar de “tome-cuidado”.

Sorri para ela.

- Eşti în engleză?

- “Você é inglês?” – traduziu Ank instantaneamente.

- Da. (Sim). – respondi.

- Pot să sărut gura ta? – ela perguntou passando seus dedos em meus lábios.

Ank se recusou a traduzir. Olhei para ele furioso.

- Quer saber se pode beijar sua boca, romântico. – ironizou ele olhando para o outro lado.

Olhei para ela. Aproximei seu rosto com o meu e nos beijamos fugazmente. Parecíamos dois amantes. Ela parecia pegar fogo.

- Esti atat de rece.

- “Você é tão frio”. – traduziu Ank chateado.

Voltamos a nos beijar vorazmente. Depois, deixei meu instinto seguir em frente. Desabotoei o espartilho, fazendo os pomposos e rosados seios saltarem. Abocanhei-os. Um gemido de prazer soou da garganta dela. Ela puxava-me o cabelo.

Eu mordiscava seus mamilos. E sua pele se arrepiava. Minha sede aumentava cada vez mais.

- Como se chama? – perguntei.

- Como se lamă? – Ank traduziu para ela.

- Anjelina.

Beijei-a de novo.

- Şi a ta?

Ank nem precisava traduzir.

- George. – respondi.

Ela passou a mão pelo meu rosto suavemente. Fiquei excitado com o toque. Voltamos a nos beijar. Vi, então, Ank tentar pegá-la pelo pescoço. Olhei de forma feroz. Ele parou. Pensava que eu não estava com coragem de matá-la. Mas, no fundo da minha alma, eu não queria.

Meus beijos passaram a ser leves mordidas. Desviei o meu foco para o pescoço dela. Tristemente, eu disse:

- Scuzaţi-mă. (Desculpe-me).

Como um animal faminto, abocanhei seu pescoço avidamente. Ela deu um grito, mas abafei-o com a mão. Ela lutava, mas era muito frágil para lutar contra mim.

Senti o gosto doce de seu sangue. Meus sentidos ficaram desconectados de meu corpo. Quando ela desmaiou, eu parei de beber.

- Consumiu tudo? – perguntou Ank.

- Sim. – menti.

- Jogue-a para fora.

- Não! Não podemos deixa-la aqui. Você sempre quer discrição; portanto, isso seria um chamativo para a nossa existência! – vociferei.

- Aonde iremos colocá-la, então?

- Numa hospedaria pequena. Não sei. Mas, não podemos deixá-la na rua.

- Tem razão. – disse Ank encerrando o assunto.

Endireitei o corpo desfalecido de Anjelina. Eu quase não ouvia os batimentos cardíacos dela. Portanto, nem Ank e nem Andrei o escutariam bater vagarosamente, resistindo à morte. Eu a queria viva! Ela me pertencia agora, como pertenço a Ank. Talvez ela não goste de ser uma de nós, mas não tive escolha. Nunca me perdoaria por ter matado uma mulher para saciar uma maldição que não pedi para ter.

Parece que piorei minha situação; mas, queria correr o risco.

Ank chamou Andrei para entrar na carruagem.

Nunca mais tinha pensado dessa forma, mas que Deus me ajude.

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A carruagem seguiu viagem seguindo pelo centro da cidade. Chegamos, enfim, ao início de estradas esburacadas e lamacentas, indicando o fim da cidade de Slatina.

Como de costume, extensas terras eram ocupadas por plantações. A chuva começou a dar sinais que poderia aumentar a qualquer momento. Ank ordenou que não parássemos de modo algum para esperar a chuva passar. De vez em quando, a carruagem atolava em algum lamaçal, mas o “vampiro-que-não-sei-o-nome”, sem ajuda, colocava a carruagem a seguir viagem sem problemas sérios.

Andrei olhava fixamente para mim e para Anjelina. Com curto pigarro, perguntou a Ank:

- Majestade, por que ainda esta prostituta continua conosco?

- Não seja idiota, Andrei. Não poderíamos jogá-la nas proximidades de Slatina! As pessoas poderiam ver! Imaginas o problema? – respondeu Ank furiosamente.

Eu nada disse, mas regozijava-me com as investidas de Ank para com Andrei. Ele merecia tal tratamento.

No decorrer da viagem, Ank falava de alguns mitos da Valáquia. Mas, não somos mitos?

Ele apontava para alguma cidade à vista e dava informações sobre ela.

De acordo com Ank, passamos pelos vilarejos de Jiratu, Colonesti, Lunca Corbului. A partir deste vilarejo, podíamos ver os montes Piatra Craiului e o Bucegi. Era uma visão encantadora. As árvores cobriam os montes como um enorme lençol verde.

Enquanto isso, Anjelina ainda continuava desmaiada. Ela parecia uma ninfa. Uma criança. Sua beleza singular fazia-me relaxar.

- Aonde irá deixá-la? – perguntou Ank tirando-me do devaneio.

- Eh, bem... Não sei...

Andrei bufou.

- Não podemos levá-la ao castelo? – perguntei.

- Acho que sim. Mas, por que levá-la até o castelo de meu irmão?

Hesitei muito a responder.

- Porque esta foi minha primeira vítima que matei sem a sua ajuda. – respondi orgulhando-me de minha mentira.

Ank sorriu.

- Pode levá-la.

- Majestade, não seria apropriado levarmos um cadáver ao encontro do rei. – advertiu Andrei.

- Ele é o meu pupilo, portanto tem direito a realizar desejos. – retrucou Ank.

Andrei apenas assentiu com a cabeça.

As estradas desviavam-se para percorrer a base dos montes. Passamos por Albota, e cada vez mais percorríamos as estradas que subiam os montes.

Alguns metros depois, chegamos a uma cidade chamada Pitesti. Era a maior cidade que vi até agora durante a viagem. As ruas eram pavimentadas. Pessoas andavam sem destino. Fiquei impressionado com tanto movimento de pessoas, apesar da hora.

A carruagem percorria devagar as ruas movimentadas. Depois descobri que a população estava comemorando um dia santo festivo.

De repente, a carruagem para. A portinhola da carruagem abre-se bruscamente.

- Majestade? – perguntou um homem de voz bastante grave.

- Gustav. – disse apenas Ank.

O homem olha estranhamente para mim e para Anjelina. Mas, nada perguntou.

- Fomos mandados para escoltá-lo com “segurança” até o Castelo de Bran.

- “Segurança”?- perguntou Ank ironicamente.

- Ordens do rei. – respondeu o homem fechando a portinhola com uma mesura forçada.

Olhei pela janela e vi outros quatro vampiros montados em belíssimos cavalos negros.

Ank olha para Andrei e pergunta:

- Talvez meu irmão queira ter certeza de que eu não o teria matado para fugir com George, certo Andrei?

- Não sei como responder tal pergunta majestade. – Andrei respondeu indiferente.

Fiquei olhando para Ank. Ele me tranquilizou com um olhar confortador.

Muitas pessoas olhavam nossa carreata curiosamente. Alguns tiravam os chapéus, outros faziam mesura; sabendo que somente pessoas importantes teriam uma escolta bem vestida.

Atravessamos rapidamente o centro de Pitesti.

Em meio a risos, falações, rezas, brigas e cantorias; deixamos Pitesti atravessando uma ponte decadente.

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Nossa carreata estava nas proximidades do vilarejo Câmpulung. Não parava de pensar em Anjelina. Ela não podia ficar no castelo, pois não podia enterrá-la viva! Decidi algo de última hora.

- Pare a carruagem! Pare! – ordenei eu.

A carruagem parou. Gustav abriu a portinhola violentamente e perguntou:

- Algum problema?

- Não. – respondi. – Irei enterrar este corpo aqui. Não posso levá-lo até o castelo.

Ank olhava desconfiadamente para mim.

- Precisará de ajuda? – perguntou Ank.

- Sim, a sua.

Desci da carruagem e olhei em volta. Avistei um casebre que ficava junto a um córrego. Fui até lá rapidamente. Ank logo apareceu e falou:

- O que está fazendo?

- Preciso que traduza tudo o que eu disser às pessoas desta casa. – respondi-lhe sem olhar para o lado.

Andávamos apressadamente, mas para os humanos eram passos elegantes.

Fomos para trás da casa. Bati à porta.

Uma senhora, com um pano enrolado na cabeça, veio nos atender.

- Olá, senhora. Somos da família Draculea e viermos pedir-lhe ajuda para esta pobre jovem. – falei eu.

A senhora olhou-nos de forma estranha.

Ank olhou para mim de forma acusadora.

Olhei para ele.

- Traduza!

- Bună ziua, doamna. Suntem familia Draculea venim şi vă întreb pentru a ajuta la acest biata fată.

Ela arregalou seus olhos, fez muitas mesuras e começou a beijar-nos as mãos.

- Ce-am, un ţăran simplu, puteţi face pentru a doi oameni nobil care nu merita un motiv preliminar de genul asta? (O que eu, uma simples camponesa, pode fazer para dois homens nobres que não merecem pisar num solo como esse?).

Eu não quis saber o que ela estava dizendo.

- Diga a ela que Anjelina está muito doente e que precisará de ajuda e de abrigo.

Ank olha furiosamente para mim.

- Ela está viva?

- Sim. – respondo sem medo.

Ele me esbofeteia o rosto.

- O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – grita ele. – VOCÊ ACHA QUE ELES NÃO IRÃO DESCOBRIR SEU PLANO DE MERDA?

Agora ele agarra meu pescoço e aperta com bastante força.

- Irei matá-los. Aí, a minha punição poderá ser extinguida! Por lealdade ao rei!

- Faça isso! – desafiei-o.

Mas, vi a tristeza nos olhos de Ank. Ele me amava como um filho. Não como uma criação. Então soltou meu pescoço e disse a senhora:

- Vă rugăm să aibă grijă şi hrana pentru animale această femeie. Las-o scrisoare care explică întreaga situaţie. Dar poate că ea nu ajunge pentru a citi, deoarece acesta va fi inconştient pentru câteva zile. Caută fără întârziere. Şi nu vă faceţi griji că nimeni nu va veni după ei. Şi eu rugam sa nu spui la nimeni despre asta. (Por favor, cuide e alimente esta mulher. Deixaremos uma carta para ela explicando toda a situação. Mas, talvez, ela nem chegue a ler, pois ficará desacordada durante alguns dias. A buscaremos sem demora. E não se preocupe que ninguém virá atrás dela. E peço-lhe que não conte sobre isso a ninguém).

Ank tirou algumas moedas e deu à senhora. Ela quis rejeitar, mas Ank insistiu. Colocamos Anjelina numa cama de varas. Ela parecia um anjo. Passei minha mão no rosto dela.

Enquanto isso Ank escrevia uma carta para Anjelina por precaução.

Ank se levantou da mesa e entregou a carta à senhora. Dei um leve beijo nos lábios de Anjelina. E saímos da casa.

Durante o trajeto de ida à carruagem, nós nada falamos.

Gustav abriu a portinhola para que entrássemos. Sacudi a capa para deixar algumas gotas da chuva escorrer.

- Enterraram-na de forma apropriada? – perguntou Andrei a ninguém em específico.

Ank deu-lhe um soco no rosto escultural de Andrei.

- SAIA! SAIA! SEU PRUSSIANO ESCROTO! – gritou Ank.

Andrei fez uma mesura e saiu de nossa presença.

O clima entre mim e Ank estava bastante frio e desgastado.

Olhei-o de esguelha. Ele poderia ter jogado Anjelina no córrego, ter me matado e falar toda a verdade para o seu irmão. Ele estaria a salvo. Mas, ele optou por me ajudar. O meu mestre, o meu “pai”, o meu Ank.

Ele estava sentado de frente para mim olhando para a paisagem com o rosto nebuloso.

Juntei forças e beijei-o nos lábios.

- Obrigado. – eu disse.

Ele me olhou, não furioso, mas surpreso.

- Por que fez isto?

Envergonhei-me.

- Não sei como declarar meu sincero amor e admiração por você, Ank.

Ank sorri.

- Eu também o admiro, George.

Mas, não era o suficiente para mim.

- O que você achou da minha ideia sobre a Anjelina?

Ank demora a responder.

- Posso dizer que estamos arruinados.

Engoli em seco.

- Mas, irei protegê-lo. – disse-me ele.

Então, aproximou seu rosto do meu e deu-me um beijo demorado.

Beijo de “pai-filho” – pensei.

(Continua em Mordido em Veneza - Parte IV).

Deo Odecam
Enviado por Deo Odecam em 01/08/2010
Reeditado em 25/08/2010
Código do texto: T2412565
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