Asynchrony II
Capitulo II
- Não. -Will não estava rindo ou fazendo alguma piada como sempre. Ele encarava-o sério com aqueles olhos brancos. Tinha que ser alguma brincadeira muito macabra.
- Will, eu espero que você tenha uma explicação muito séria para esse seu comportamento. Com que objetivo você me contou essa estoria? É alguma espécie de piada?
O louro aproximou-se dele. Ajoelhou-se ao seu pés e Pedro se perguntou o que ele queria com aquilo. Sentiu-se corar quando o amigo descansou a cabeça em suas pernas. Parecia cansado. E respirava, respirava, mas tão estranhamente.Não falava nada, pensando. Pedro fitou-o atonito. É claro que não acreditava no que o amigo falava. Mas sabia que ele estava com problemas e também que acabaria por ajudá-lo. Ele estava certo, ele sempre o ajudava no final.
- Eu queria que você acreditasse em mim. -Will disse sem levantar a cabeça do seu colo. Pedro levantou os ombros do amigo, olhando-o desconcertado.
- Eu vou ajudar você se me disser a verdade.
- Eu disse.
Pedro recuou instintivamente, caindo sentado no sofá ao ver a transformação do amigo. Mordeu os lábios quando viu as pequenas e afiadas presas surgirem. Era uma grande piada de mau gosto. Willian iria lhe pagar depois. Que tipo de brincadeira era aquela. Nem era seu aniversário!
- Chega de brincadeiras Willian.
- Vou faze-lo acreditar em mim.
Willian puxou a mão do moreno, segurando-a como se fosse beijá-la e Pedro tentou puxou-la de volta envergonhado. Engoliu em seco ao ver o loiro encarar seu pulso de modo estranho. Quase não teve tempo para se afastar. Ele havia cravado os dentes em seu pulso e Pedro se sentiu terrificado. Não conseguia mais juntar forças o suficiente para afastar-se dele. Uma estranha dormencia o invadiu e sua cabeça pesou nos ombros. Seu coração deu um salto e então tudo acabou.
O louro o olhava culpado, esperançoso e de algum modo também sedento. Pedro segurou o braço atacado respirando pesadamente. Não disse nada. Era verdade. E mais estranho que aceitar a existencia de algo que ele sempre rira por outros acreditarem era aceitar que seu amigo, seu melhor amigo, quase havia o matado. Ele sentira o esforço de Will ao solta-lo. Ele estava sedento, ainda era jovem e estava sedento.
- Eu... -Willian afastou-se, o corpo tremendo e os olhos alternando entre o branco e um vermelho sanguinolento. - Eu queria que você acreditasse em mim...
- O que aconteceu com você?
- Eu... fui transformado. Não posso... voltar.
- E o pretende fazer?
- Não sei. Não estou preparado. Ele se foi. Eu... preciso de ajuda.
Ele levantou-se, as mãos na cabeça. Havia ajudado Willian a sair de confusões há anos. Mas essa... Havia uma parte dele que gritava insistentemente que aquele não era mais seu amigo. Se era como nas histórias, então ele não era mais seu amigo, era só um arremedo dele. Um demônio. Mas era só virar-se e ve-lo olhar para ele com aquela expressão triste e arrebatada tão caracteristica dele e todos aqueles argumentos ruiam. Mordeu o lábio impaciente. Soltou uma risada nervosa ao perguntar algo, como se nada daquilo tivesse importancia.
- E então... -Ele riu novamente. Seu lábio havia sangrado e precisava manter o amigo distraido antes que ele notasse aquilo -Você... dorme de dia agora?
- É...
- E como vai fazer pra explicar isso pro seus pais?
- Eu... -Willian se aproximara dele e ele, instintivamente, dera um passo para trás. O louro o fitara constrangido. -Não havia pensado nisso.
- Bem.. Você pode ficar aqui. Sabe, de dia, e tudo mais.
Riram os dois. Era uma coisa estupida em uma situação daquelas fazer aquele tipo de pergunta, mas tudo que Pedro queria era fazer aquilo parecer um problema passageiro, como qualquer outro. Mas afinal era uma solução, não? Coloca-lo ali de dia. E a noite quando ele chegasse do trabalho e fosse para faculdade ele estaria acordando. Todos seus instintos de sobrevivencia estavam avisando-o que era algo realmente estupido a se fazer, mas ele simplesmente não conseguiria ver Willian se afastando de tudo pra sempre. E então ele entendeu, no seu entendimento de garoto que odiava os livros de vampiro que Will tanto gostava, que um dia ele seria uma lembrança pequena dentro das inumeras lembranças dele. E ele iria achar aquela cidade chata e ficar rodando ai pelo mundo achando tudo muito deprimente, afinal não era o que os vampiros faziam?
- Posso mesmo? - a feição antes séria de William mostrou por alguns segundos o garoto alegre que ele era normalmente.- Posso ficar aqui?
- É toda a ajuda que posso dar no momento Will. Não posso ensinar nada a você afinal. E nem pretendo virar marmita.
- Nem eu pretendo te transformar em uma. Seu gosto é bem mais ou menos sabia? -Ele riu por um instante e ficou sério de repente - Tenho que caçar novamente.
- Porque?
- Você não quer dividir o quarto com um vampiro sedento, quer?
- Ok então. - Pedro fitou o chão constrangido. Não conseguia formular a pergunta - Você vai matar novamente, não vai?