A ultima carta

Não falta muito tempo para o término do fim da minha vida.

Lembro-me somente de que estava em uma festa antes de tudo acontecer.

Acordei no chão de uma capela em um cemitério qualquer. Minha blusa estava completamente rasgada e coberta de sangue.

Eu não encontrei saída... Das janelas fechadas entravam os raios da lua, que estava em seu esplendor, redonda e brilhante. Do lado de fora, não muito distante... Os uivos agonizados de vários lobos faziam a sinfonia da noite junto com o vento.

Eu não estava sozinha ali... Por vários instantes pude perceber você se movimentando, mas eu nada podia ver, sua rapidez era estrema, e as sombras enormes.

O pavor tomou conta de mim. Desesperada, percorri toda a capela em busca de uma saída, nada. Eu estava presa, como um defunto em seu caixão, sem ar, sufocando a morte.

Em cima de um enorme espelho estava à imagem de Deus, eu me ajoelhei diante dela, e comecei a rezar... Mas quando olhei para frente, pude perceber que rezar agora não adiantaria nada...

Toda a capela estava sendo refletida... Desde que caixão vazio atrás de mim, até as velas acesas... Tudo isso sem a intervenção do meu corpo. Era o fim da minha vida.

A porta se abriu bruscamente. Todas as velas se apagaram com o assopro do vento. Eu não podia me mexer, tinha medo do que eu poderia ver.

Você me abraçou, sua pele era tão alva quanto à lua, ao olhar para nossos braços vi tamanha semelhança.

No espelho eu ainda conseguia ver toda a capela...

“Vire-se para mim minha pupila. Deixe-me ver teus olhos...”. Tua voz para mim era atraente, tão quão um chocolate é para uma criança. “Não fique com medo. Agora nada de mau pode lhe acontecer. Agora você está comigo”.

Realmente, mau nenhum poderia me acontecer... Já havia acontecido.

Você tem forte influencia sobre mim... Mesmo com medo, não pude resistir quando você quis fazer de mim sua, você me controla.

Quando a lua estava se pondo, você me entregou um casaco. “Vem... Não temos muito tempo... Coloca isso e me acompanhe... Logo você vai entender.”

Quando saímos, todos os ruídos acabaram... O canto dos lobos cessou imediatamente.

Ao longo do tempo pude perceber em que eu havia me transformado. Na verdade no que Você havia me transformado.

Eu não posso mais ver o sol... Estou muito infeliz nessa nova vida... Ou melhor, morte.

Está amanhecendo... Tenho que me apressar se quiser terminar com isso antes que você chegue e me convença do contrario.

Adeus. Vou ver meu ultimo amanhecer.

P.S Um dia eu gostei da minha VIDA. Não posso tirar a vida de outras pessoas em prol da minha eternidade.

Isabella Cunha
Enviado por Isabella Cunha em 29/05/2010
Código do texto: T2287324
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