Palhaço

Ele sempre foi palhaço. Literalmente falando.

Naceu em um circo, seu pai era palhaço e sua mãe a contorcionista.

E ali ele cresceu. Viajando todo dia. Conhecendo pessoas e cidades.

Ele foi crescendo. Aos 8 anos já se apresentava com seu pai.

Era sensação por onde passavam.

Mas o destino é cruel quando quer ser.

Numa pequena cidade seu pai conheceu uma jovem e se apaixonou e a partir dali não mais os acompanhou.

Apesar da tristeza, seguiram viagem.

O palhaço filho da contorcionista.

Sua maquiagem escondia sua tristeza. Seu sorriso era uma máscara.

A vida segue seu rumo. Circo, palhaçada e alegria.

Alegria somente dos espectadores.

No coração do palhaço era só tristeza.

Sentia muita falta do principal palhaço, seu pai.

Todos os dias após os espetáculos sua maquiagem se derretia com as lágrimas.

Mas ele ia levando a vida, ou a vida é que o ia levando.

E o destino sempre amargo e cruel arrastou sua mãe, a contorcionista linda e fexível de outrora para um hospital.

Risos e lágrimas todo dia e toda noite.

Ele precisava esconder sua tristeza para dar alegria ao povo.

Mas numa noite trágica, um telefonema mudaria toda sua vida, ou melhor; acabaria com ela.

O circo estava lotado. O telefonema o paralisou, ele sabia que esse dia ia chegar, só não sabia que seria agora.

Entrou no picadeiro levando o respeitável público aos risos e gargalhadas.

Fez muita estrepolias, cambalhotas, piruetas e afins.

Ele sabia que seria o último espetáculo de sua vida.

Iria embora ouvindo muitos risos.

É a hora da cena em que outro palhaço entra no picadeiro fazendo muito barulho e de arma na mão, é a discussão entre os palhaços.

De repente um tiro. O som parece real. A arma parece real. A morte do palhaço parece real. As gargalhadas são reais.

Mas a cena agora é real. O palhaço inerte caído no chão.

Imóvel. Não, a cena não é essa. Ele teria de se levantar bem rápido e sair a saltar.

A arma fora trocada. Era real. Tudo era real.

O palhaço se foi. Foi se encontrar com a mãe.

E talvez até com seu palhaço preferido que há muito tempo não via.

Aquele telefonema foi a gota d'agua que faltava. Toda sua vida ele fez palhaçadas para tentar alegrar sua mãe que fora abandonada.

Mas agora ela não estava mais na platéia.

Agora sua vida de mais nada valia.

Nasceu e morreu no palco. Toda sua vida foi um show.

O espetáculo acabou.

O riso acabou, mas o seu havia acabado há muito tempo.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 30/04/2010
Código do texto: T2228206
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