Essência

Eu estou desesperado.

Corro para fugir de suas mãos frias, mas ela parece não descansar.

Ela vem atrás de mim. Rastejando na palha seca.

Ela segue cada passo, cada movimento, me vigia a todo instante.

Adentro a floresta desconhecida, numa trilha sem rumo, com destino ao vazio.

Uma parede de galhos, encobertos pelas copas enegrecidas, onde a luz foi proibida de entrar.

Uma névoa azulada e incandescida respirando no horizonte. Tudo é vazio, deserto e sem fim. Caminho por essa estrada perdida, sem olhar para trás. Mas eu sei que ela ainda está por aqui.

Sinto sua respiração gelada, sinto sua presença maligna. Ela vem para me pegar.

Estou completamente apavorado. Corro o mais depressa possível para longe desse pesadelo.

Não há um fim nesse caminho, não há.

Apenas sombras e ruídos, escondidos atrás da névoa azul.

A temperatura caiu, meu sangue começou a congelar.

Minha face gargalha nervosa com a loucura, meus olhos começam a sangrar.

Sangue quente escorre até minha língua. Ela está vindo. É assustador imaginar.

E quando eu paro de andar, vejo que alguém aparece no horizonte. Um vulto disforme desliza em meio a neblina surreal. Parece ser um homem, mas poderia ser qualquer coisa. O medo me dá nó na garganta. Não sei se prefiro seguir ou voltar. Encarar o desconhecido ou enfrentar ela que vinha logo atrás. O medo paralisa. E ali eu fiquei imóvel, possuído por calafrios, ouvindo a melodia da noite. Puxei um revólver do bolso, mirei na minha própria cabeça e apertei o gatilho.

Ela me soltou e fugiu. Estava entranhada em mim.

A trilha de sangue escorreu pela areia, enquanto ela partia pelo ar.

Finalmente ela me deixou. Finalmente eu estou livre.

Da vida.

"A vida é maravilhosa se não se tem medo dela."

(Charles Chaplin)

Glaucio Viana
Enviado por Glaucio Viana em 16/10/2009
Código do texto: T1870691
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