Minha Morte

Minhas pálpebras se deitam, as lágrimas correm rápidas, a respiração é rápida e dolorida. Eu sinto que, aos poucos, a vida vai deixando meu corpo e vai dando lugar ao monstro que está dentro de mim, que eu não queria que acordasse. Minhas mãos tremem e suam, os pés estão frios, eu não sinto o resto de meu corpo. As pontas dos dedos em carne viva doem, as unhas dos pés doem e eu as sinto sangrar. Eu rezo, rezo para que minha alma seja levada para o inferno, e lá eu apodreça em chamas, que não sobre mais nada de minha carne ou dos pecados que deixei queimar em meu passado, em meu presente e num futuro que jamais existiu.

O quarto está escuro, a luz das duas velas no canto já não ilumina o suficiente. Na verdade, é impossível iluminar o que nunca foi claro um dia. No chão, eu viro a cabeça para olhar para a janela. Dali, era possível ver a lua e as estrelas, eu desejava que fosse minha última visão do céu à noite, eu deveria deixar aquele lugar aquela noite e ir para o lugar de onde eu jamais deveria ter saído. De repente, uma imagem perturbadora tomou conta de minha mente, aquela que todas as noites vinha me atormentar, que já havia me atormentado o suficiente, contudo, voltava sempre. Minha visão nublada de um futuro que eu sempre desejei e que eu sabia que jamais existiria, minha obsessão mais profunda e perseguidora, que sempre vinha, para jogar na minha cara que eu nunca fui alguma coisa. Como eu o amava.

As dores foram embora, tudo aquilo. Mesmo eu me contorcendo no chão por uma dor que não existia mais dentro de mim, e não podia tirar da minha cabeça minha obsessão, o motivo de tudo, meu amor. Foi a única coisa boa que aconteceu em mim, e eu jamais ia deixar ela ir embora, não de novo. Tinha que ficar ali, junto comigo, o tempo todo. Ele tinha que ir para o inferno queimar junto com a minha alma. Era isso que merecia. Ele não podia ir embora tão cedo da minha cabeça, tinha que ficar lá para morrer e viver eternamente minha vida de sofrimentos no fim do mundo. Meu pescoço queimava de novo, as dores voltavam, eu sabia que ele estava tentando ir embora, mas ele jamais conseguiria, jamais.

Meu coração doía demais. Eu sentia cada uma de suas finitas batidas, me queimando pouco a pouco por dentro. Aos poucos eu entendia que tinha que acabar com aquilo, aos poucos eu entendia que tinha que acabar com aquele sofrimento, se não nunca iria para meu lugar desejado, nunca iria queimar o resto da eternidade que me restava. Eu tinha que eu mesma acabar com tudo. Então, estiquei meu braço até a faca. Vir-me-ei, pois não conseguiria fazer o tinha que ser feito de bruços. Apunhalei a faca e atravessei meu coração, profundo e ardente, enfim cessando as batidas e morrendo de uma vez por todas, deixando apenas uma carta cheia de lembrança e um pequeno testamento com coisas sem valor, pois a minha maior herança jamais foi minha de verdade.

Quando cheguei aqui, vi que as coisas eram diferentes, então, a única saída que achei foi escrever um mar de lágrimas e sangue, pois construí castelos de areia na água da corredeira e assisti eles serem derrubados, divertindo-me, deleitando-me em minhas próprias dor e sofrimento, não vendo a hora de serem construídos e derrubados novamente. Tudo pode ser destruído por uma pessoa, mesmo ela sendo você mesmo. Dizer como alguém tenta colocar sua vida no lugar novamente, construir castelos de pedra em terreno seguro. Consertar o que está errado. Então, você tenta consertar as coisas e sumir com o monstro que há dentro de você. Porém, depois de tudo, quando parece que você conseguiu acertar alguma coisa na sua vida, o monstro volta e acaba com tudo. O ódio, a raiva e o rancor que sempre queimaram a minha alma. Não espere pelo final feliz, pois no amor, não há finais felizes.

Débora Dias
Enviado por Débora Dias em 19/05/2009
Reeditado em 21/02/2011
Código do texto: T1603376
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