Meu Epitáfio (O Defunto que Murmura)
Ah, curiosos visitantes, eis aqui um defunto cujo espírito se agita além das fronteiras da vida terrena. Permitam-me contar-lhes, com este epitáfio gravado nas pedras que me envolvem, minha história final.
Na vida, testemunhei o fluxo inexorável do tempo e a frieza da morte. Não fui eu quem sucumbiu, mas sim aqueles que me cercavam. Um mero espectro, envolto na névoa que outrora compunha meu corpo perecível, ainda capaz de fazer-se ouvir.
Recordo-me vividamente do momento em que me deparei com a dolorosa verdade: fui eu quem se desnudou enquanto os outros viviam, envolvidos pelo mundo. Sinto-me presente em cada resquício que restou de mim, partícula que compõe minha essência, ciente de minha existência em suas memórias, mas igualmente consciente de que perdi a capacidade de perceber o mundo ao meu redor. No entanto, vocês podem me perceber, aproximem-se.
Que ironia macabra estar morto e, ainda assim, contemplar um mundo desprovido daqueles que antes caminhavam a meu lado. O eco de minha voz, agora apenas ecoando em suas lembranças, é um lamento silencioso que ressoa em meu ser. A ausência de suas presenças é um abismo insuperável, um vazio que jamais se preencherá.
Oh, como anseio vislumbrar seus sorrisos, envolver suas almas e compartilhar momentos que nunca mais retornarão. Contudo, tristemente, o véu que separa os vivos dos mortos é intransponível, e aqui me encontro aprisionado nesta existência solitária.
Ao refletir sobre esta jornada dolorosa, percebo de forma ainda mais profunda que a vida é efêmera e transitória. Cada encontro, cada elo que tecemos com o outro, é um presente valioso que devemos apreciar enquanto temos a oportunidade. Não permitamos que palavras não proferidas, gestos não feitos e amores não vividos se transformem em remorsos que nos assombrarão quando a morte bater à nossa porta.
Que esta minha narrativa, vinda além-túmulo, seja mais do que um simples epitáfio. Que ela ressoe como um clamor para todos. Aproveitemos plenamente a vida, honrando a memória daqueles que partiram e valorizando cada momento com aqueles que ainda caminham sobre a terra. Pois, no fim das contas, o que verdadeiramente importa é o legado que deixamos gravado no coração dos entes amados.
A morte não deve ser apenas o fim, mas também uma lembrança preciosa de que somos seres transitórios. Enquanto estivermos aqui, é nosso dever amar, compreender e valorizar aqueles que compartilham conosco a efemeridade desta existência.
Assim seja, agora e na vida eterna.