ESPERANÇA, PAZ, ALEGRIA E AMOR - O VERDADEIRO ESPÍRITO DO NATAL (Conto natalino)
O natal é um tempo muito especial. É mágico e encantador. Acompanhe este conto natalino, narrado pela gatinha Luna. Ela vai viver toda a magia do natal, viajando pelo passado, pelo presente e pelo futuro. Veja como foi.
Olá, crianças, meu nome é Luna. Sou uma gatinha muito feliz, por ter uma família que gosta e que cuida de mim. Vou contar para vocês como foram os meus natais até aqui, e como foram os meus encontros com alguns dos maravilhosos Espíritos de Natal.
Episódio I - A velinha da esperança
Hoje é o primeiro domingo do Advento; é o primeiro anúncio do Natal. A primeira vela foi acesa na coroa: é a VELA DA ESPERANÇA, uma velinha roxa, também chamada Vela da Profecia, que relembra a previsão do nascimento de Cristo, feita pelo profeta Isaías. O natal é a festa na qual os cristãos renovam sua esperança no Cristo que vem, para ficar conosco.
Olá! Vou começar a contar a minha história! Pode ser?
– Na casa onde eu fui morar já havia um outro gato, o Tom. Dona Áurea recolheu a mim, meu irmão e minha irmã, e nos levou para sua casa, para passarmos o natal com ela. Assim que passou o natal, porém, Dona Áurea chamou a senhora Amélia, que levou meus dois irmãos para uma casa de adoção de animais, pois ela não tinha condições de ficar com toda a nossa família em sua casa. Fiquei muito triste com isto, mas acabei me acostumando.
Naquela noite de domingo, estávamos na sala. Tom dormia e ronronava. Dona Áurea estava tricotando uma mantinha azul, com as bordas brancas. Já estava quase terminando o trabalho.
– Olha, ficou pronta! – Disse ela, de repente, com muita alegria. – É para você, Luna. Gostou? É para o inverno.
Soou a campainha. Dona Áurea se levantou para ver quem era, na telinha do interfone.
– É o Jonas. – Exclamou ela. – Um momento, já vou abrir.
Jonas surge na porta, carregando consigo um lindo pinheirinho, uma árvore-de-natal. Áurea o ajuda a trazer a árvore para dentro, e a acomodam a um canto da sala, em uma lata cheia de areia, depois chama o Tom:
– Tom, venha cá! Venha escolher as cores das bolinhas que vamos colocar no pinheiro.
Também me levantei, para escolher os enfeites. Dona Áurea, porém, falou: - Você, não, Luna; quem vai escolher as cores das bolinhas, vai ser o Tom, pois ele já está comigo há mais tempo.
Fiquei fula da vida com aquilo. Fiquei com raiva. Eu também queria escolher…
Me sinto um pouco triste. Tom escolheu as bolinhas douradas e vermelhas. As azuis e as prateadas são mais bonitas. Áurea e Jonas começam a enfeitar o pinheirinho; eu observo de longe. Pego uma das bolinhas azuis e levo para a minha cesta.
– Já que não vão colocar no pinheirinho, vou levar essa aqui, para mim…
Anoiteceu. A mantinha azul é muito fofa, mas estou um pouco triste e com raiva, e não consigo dormir. Dona Áurea subiu para o quarto.
De repente, uma luz forte passou pela janela, veio em minha direção, cada vez mais forte. Atravessou a janela e parou à minha frente.
– Ai, meu Deus do céu, o que é isto? Um fantasma?
– Oi, minha filha, não está me reconhecendo? – Perguntou o fantasma com voz suave.
– Mãe?! – Pergunto admirada. O fantasma sorri.
– Mamãe Mirach? - Tento cheirá-la, esfregar-me nela. Não tem cheiro, é transparente.
– Mãe, você aqui?
– Minha filha, vim aqui para te avisar que nesses próximos domingos, que antecedem o natal, alguns espíritos natalinos virão te visitar.
– Espíritos?
– Como você está bonitinha, minha filha! – Dizendo isto, Mirach deu um longo miado, virou-se, e foi caminhando em direção à janela.
– Mãe, espera! Fica aqui comigo! – Mamãe, porém, não parou.
– Espera, fica! – Ela parou, olhou para mim com olhar triste.
– Querida, não posso… Não se esqueça, eu sempre estarei com você, no seu coração. – Mamãe se aproxima de mim, quase posso tocá-la. Fecho os olhos. Quando os reabro, ela havia desaparecido.
Episódio II – A velinha da paz
Hoje é o segundo domingo do Advento. Dona Áurea acendeu a segunda vela da coroa. Ela é roxa, também; é a VELINHA DA PAZ, a Vela de Belém. Ela é colocada na coroa do Advento para nos fazer recordar a viagem de Maria e José, de Nazaré até Belém, antes de Maria dar à luz o Menino Jesus.
No domingo passado, eu conversei com o espírito de mamãe. Ela me disse que nesses próximos domingos, antes do natal, outros espíritos natalinos viriam me visitar.
Olho para o relógio de parede. Tocou! Uma, duas, três… doze badaladas. É meia-noite! A hora dos espíritos…
– Hum, meia-noite e dez… Não vem ninguém…
De repente…
– Desculpa o atraso! Hora do pique, todos os espíritos estão nas ruas… Todos começam a trabalhar à meia-noite… Tá a maior confusão lá fora.
Que espírito esquisito. É bem lindo, com roupas brancas… Parece um anjinho. Entrou correndo… Pensando bem, acho que ele me recorda alguém.
– Você parece… - Comecei, fazendo um gesto de quem está pensativo.
– Sim, claro, eu sou o seu passado. – Completou, rapidamente, o espírito.
– Meu passado?
– Melhor, eu sou o seu natal passado… Eu sou o espírito da Gratidão.
– Muito prazer. O que fazem os espíritos do natal, afinal de contas? – Disse eu, inclinando a cabeça.
– Bem, nós recordamos o verdadeiro significado do natal, para aqueles, como você, que parecem haver esquecido este significado… No natal não pode haver tristeza, nem raiva, nem ingratidão… Você anda triste, com raiva e não está sendo nada grata. Você já se esqueceu de como foi o seu primeiro natal? - Fiquei muda, sem resposta. Dizendo isto, o espírito foi chegando cada vez mais perto de mim e, de repente, tudo mudou, a sala onde estávamos despareceu. Agora estou na rua. Vou caminhando em direção a uma velha casa abandonada. Entro naquela casa. Ali, num cantinho, vejo três filhotes, três gatinhos. Estão sujos, e tremem de frio. Eu os reconheço: minha irmãzinha, meu irmão e eu. Estamos ali. Aquela era a nossa casa.
Às vezes saíamos em busca de comida, porém, a gente tinha muito medo: os carros passavam muito velozes, os humanos eram sempre muito perigosos. Dormíamos amontoados, para nos aquecer. Mamãe Mirach saiu e não voltou mais. Meus irmãos não param de chorar. E mamãe que não volta… Nunca mais a vimos. Que será que aconteceu? Olhei para os lados, o espírito havia ido embora.
Saio daquela sala. Uma senhora caminha pela calçada. Ao ouvir o choro de meus irmãos, para em frente à casa. Entra. Quando nos viu, pegou-nos no colo, embrulhou-nos num manto e saiu porta afora. Levou-nos para sua casa, deu-nos comida e água.
– Não poderia deixar vocês passarem o natal daquele jeito. Vocês ficam comigo e me fazem companhia. Feliz natal! – Disse dona Áurea.
Comemos e brincamos pelo chão. Havia ali um pinheirinho enfeitado e um pequeno presépio, com luzinhas piscando. Dona Áurea também brincava conosco. Eu pensava que os humanos não faziam isto.
Eu estava muito feliz, por estar num lugar seguro, em companhia de meus irmãos e do gato Tom. Pensava, porém, que, talvez a mamãe não estivesse tão feliz. Este havia sido o meu primeiro natal.
Num momento, tudo começa a girar e, puf…, estou de volta à minha sala. Todo mundo está dormindo. Agora, estou muito contente. Minha tristeza e minha raiva desapareceram, afinal, tenho uma família, uma casa, e amigos. Sou muito grata por tudo isto. Assim feliz, agradeço ao espírito natalino, e adormeço.
No dia seguinte, segunda-feira, aconteceu uma coisa terrível. Veio à casa de dona Áurea uma senhora chamada Amélia, e levou meus dois irmãos para uma casa de adoção de animais. Dona Áurea não podia ficar com todos em sua casa. Meus manos foram embora, numa caixinha. Dali em diante fiquei mais triste e pensativa. Como estariam eles? Para onde foram? Estariam bem?
Episódio III – A velinha da alegria
Hoje é o terceiro domingo do Advento. A terceira vela da coroa foi acesa. É uma velinha diferente, ela é cor-de-rosa, é a VELA DA ALEGRIA. Este é o dia que os cristãos chamam de “domingo gaudete”, o domingo da alegria, para celebrar a alegria dos pastores de Belém, ao receberem a boa-nova da chegada do Menino Jesus. Por este motivo, esta velinha se chama Vela do Pastor. A cor rosa é a cor da alegria.
Estou na minha cesta. Como já imagino o que vai acontecer, fico na espera… O relógio bate meia-noite, mas não vejo ninguém. Estará este espírito atrasado também? De repente, ouço uma voz muito fraquinha.
– Ei, Luna! Aqui embaixo!
Olho por todos os cantos. Não vejo nada. Depois noto uma luzinha embaixo do pinheiro.
– Boa noite, Luna.
– Hum, boa noite…
Olhando bem, vejo um pequeno ser sob a árvore, tem as orelhas pontudas, e um gorrinho também pontudo. Ele tem um grande livro, e começa a folheá-lo.
– O que tem neste livro? – Pergunto curiosa.
– Ah, aqui está. Achei o seu nome.
– Meu nome está aí?
– Sim. Aqui também estão os nomes dos seus irmãos. Os endereços deles também!
– Ai, que bom. Onde eles estão? – Atalhei, emocionada.
– Bem, hoje nós podemos ir encontrá-los. Você quer?
– Claro, que quero!
O pequeno espírito fecha o livro, que desaparece num passe de mágica, depois pula nas minhas costas.
– Vamos, então! – Gritou entusiasmado. Sacou do bolso um pequeno saquinho, meteu a mão nele e tirou um punhado de pó dourado. Jogou sobre a minha cabeça e…
– Lá vamos nós! – gritou ele muito animado.
Começamos a voar. Agora podíamos atravessar as paredes. Ninguém poderia nos ver. Voamos bem alto. O céu estava muito claro, cheio de estrelas, e a lua brilhava na imensidão da noite azulada.
Paramos diante de uma casa grande e muito iluminada. Pela janela se podia ver uma menina, brincando com um gatinho todo preto.
– Veja, ali está o seu irmão Mirrul. Ele agora é o animalzinho de estimação desta garotinha. Ela é autista, e seu irmão a ajuda muito. Ela fica muito feliz por ter seu irmão com ela. Ele a ajuda a se comunicar melhor, ela ficou bem mais independente, depois que conheceu seu irmãozinho. O amor de Mirrul é incondicional, e o seu companheirismo não faz nenhum julgamento; por isto a menininha gosta tanto dele. Esta menina era muito agitada; seu irmão Mirrul, sempre calmo e brincalhão, faz muito bem a ela. – Completou o espírito com os olhos brilhando de felicidade.
Ficamos ali, por longos momentos, contemplando aquela cena. A criança brincava alegremente com o gatinho, e ele parecia gostar muito dela. Parecia se sentir muito feliz.
– Ele é um bravo gatinho. Mirrul faz um belíssimo trabalho, sempre pensando nos outros.
– Boa noite, maninho. Feliz natal! – Disse eu, sentindo um calor no peito, que me enchia de alegria.
Saímos. Voamos por mais uns instantes e logo o espírito apontou para uma grande casa. Não havia luzes ali, nem movimento. Era um lugar bem grande. Entramos. Havia muitas gaiolas. Todas fechadas.
– Este é um gatil, um abrigo próprio para gatos. Aqui vivem os gatinhos que ainda não encontraram uma família. – Explicou o espírito.
– Gatinhos que não têm uma família? – perguntei espantada.
– É… Alguns ficam nas ruas, outros conseguem uma casa, mas as pessoas os abandonam…
– Abandonam? Como assim?
Entramos pelos corredores. Havia muitas portas e salas, cheias de gatinhos. Fui procurando, com muita ansiedade. Via nos olhinhos de todos, muita tristeza. De repente, ali está ela. Está dormindo, num cantinho da gaiola. Magra e suja.
– Minha irmãzinha! Por que ela ainda está aqui?
– Veja, Luna, como você é feliz, tem uma casa, uma família. – Insistiu o espírito.
Fiquei muda de tristeza, e uma lágrima correu pelo meu rosto.
– Vamos levá-la para a minha casa. Vamos levar a todos!
– Calma, Luna. Não é tão simples, assim.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, depois peguei a minha mantinha azul e coloquei sobre minha irmã.
– Ela precisa mais do que eu. Boa noite irmãzinha. Espero que você encontre um bom lugar…
Voamos de volta para casa.
Episódio IV – A velinha do amor
Já estamos no quarto domingo do Advento. Dona Áurea acendeu todas as velas da coroa. O natal está chegando. A quarta vela também é roxa, pois esta é a cor própria do Advento. É a VELA DO AMOR, chamada Vela do Anjo.
Estou, novamente, na minha cesta, e espero pelo espírito natalino. O relógio bateu meia-noite.
– Vamos, espírito, vem depressa!
Uma luz forte apareceu na janela, aproximou-se rapidamente e entrou na sala.
– Boa noite, Luna. Eu sou um dos espíritos do natal; o meu nome é Amor.
– Nossa… Como você é grande! E tem chifres… E esses sininhos em seu pescoço? Você é uma rena?
– Sim, sou uma rena. Gostou?
– Claro, gostei muito. Olha, espírito, temos que ajudar a minha irmãzinha. Ela precisa tanto…
– Calma!
– A minha irmã está abandonada num gatil, e você quer que eu fique calma?
– Está bem, então vem comigo, e eu vou te mostrar como a tua irmãzinha vai passar o próximo natal.
– O próximo natal?
– Sim. Com os outros espíritos você visitou o passado, voltando à casa onde vocês moravam, e visitou o presente, vendo onde seu irmão Mirrul vive, atualmente. Agora você vai ver como é o futuro. E, então, quer ver como sua irmãzinha vai passar o próximo natal?
– Quero, sim. – Respondo. Depois, um pouco preocupada, acrescento: - Vai ser um bom futuro, não é?
O espírito não responde.
– Vai, sobe nas minhas costas. Vamos! Vamos! Ou quer ficar aqui?
– Não, não. Quero ir. Espera um momentinho, vou buscar um presentinho para minha irmã.
– Pronto, segura firme, vamos voar! – gritou o espírito.
Logo nos encontramos em um lugar muito iluminado. Há muitos relógios, de todas as formas e tamanhos, pelas paredes. Corredores imensos, com centenas de portas. Em cada porta há uma data: natal de 2028, natal de 1999, natal de 2035, etc. Uma loucura.
Procuramos a porta do ano 2030. Entramos. Uma luz azul, muito forte me ofuscou os olhos. O espírito viajava em altíssima velocidade. Tudo ia se transformando num turbilhão de luzes. Atravessamos uma pequena praça, com uma igrejinha no fundo. Paramos diante de uma belíssima casa, toda iluminada e enfeitada para as festas de natal.
– Minha irmã está aqui?
– Olha, veja você mesma. – Disse ele, apontando uma janela.
Vejo uma ampla sala, toda adornada com luzes e grinaldas natalinas. Há pessoas alegres, sentadas em volta de uma mesa. Sobre um grande tapete, duas crianças brincam com três gatinhos. Na cesta dos gatinhos há uma mantinha azul, com as bordas brancas…
– Minha irmãzinha Jade está bem. Tem uma família. Está feliz! Olha, espírito, ali estão o Gotch e o Doido!
– Tua irmã, logo depois do natal, encontrou uma família. Está tudo bem com ela. Vamos embora?
– Vamos. Antes quero deixar um presentinho para minha irmãzinha Jade.
– Bem, agora parece que ela não precisa de mais nada… Mas é sempre bom deixar um presentinho…
Coloco meu pacote apoiado à soleira da porta.
– É… Acho que ela vai gostar. – Disse o espírito sorrindo.
– Feliz natal, irmãzinha! Tchau, Gotch! Tchau Doido!
Um salto e estamos novamente passando pelas portas.
– Ei, espírito, posso ver também como vai ser meu futuro natal?
– Está bem. – Concordou o espírito. – Quantos anos para a frente? Três, quatro? Fecha os olhos.
Novamente fico ofuscada pelas luzes. Fecho os olhos. Quando os abro, me vejo diante da minha casa. É um belo dia de sol. Jonas e Áurea caminham pela calçada. Levam uns gatinhos num carrinho de passeio.
– Olha, aquela ali sou eu. Caramba, como cresci! No carrinho vem também o Tom! E há filhotinhos… São meus filhinhos! Não, espera, são dois!
Voamos. Muito feliz, salto das costas do espírito, e entramos em casa. É manhã do dia de natal. Há ainda presentes sob o pinheiro, pacotes abertos, papéis de embrulho.
– E então, gostou do seu futuro?
– Muito. Gostei muito. Uma família feliz, é tudo o que eu mais quero, e saber que meus irmãozinhos também encontraram uma família me deixa muito feliz!
Diante de mim está o pinheirinho, enfeitado e iluminado. Junto com as bolinhas douradas e vermelhas, está a minha bolinha azul. Não tenho mais raiva. Estou feliz. O pinheiro está lindo! As bolinhas douradas são lindas! A meu lado, o espírito concorda, satisfeito.
– Adeus, Luna! Agora você está pronta para viver o verdadeiro espírito de natal. Não se esqueça de ser sempre agradecida pelo que você tem, e pelo que os outros fazem por você. Não se esqueça nunca de ajudar os outros e de ser sempre generosa e alegre, está bem?
E com estas palavras o espírito desapareceu, gritando de longe: – FELIZ NATAL!