No Natal a gente vem te buscar
Foi assim que me despedi dela, quando a deixei na casa de repouso.
Não tinha intenção de cumprir a promessa, apenas falei para deixá-la mais confortável.
Ela estava com 86 anos completos. Todos os cinco filhos moravam fora do país. Ela não aprendeu a falar nenhum idioma além do português.
Fiquei triste.
Quando chegou o Natal, resolvi buscá-la.
Passamos o dia em família. As crianças brincaram com ela, manifestaram o carinho que sempre tiveram com ela. Mas logo foram embora.
Passamos a noite sozinhos, eu e ela. Acendi as luzes da árvore-de-natal e vi os seus olhos brilharem, tomei um gole de cachaça, dois, três e ela permaneceu ali em frente à árvore, em silêncio, refletindo as luzes coloridas. Fiz uma pequena oração quando o sino da igreja tocou as doze badaladas e a coloquei para dormir. Quando a vi com os olhos cerrados, parecendo sonhar, tomei outro gole da cachaça e me lembrei de uma frase: “Toda garrafa vazia está cheia de histórias”