O MISTÉRIO DO HOMEM DAS TUMBAS...

Caía um chuvisco bem fino... e já era quase noite.

Lá, era o silêncio quem fazia barulho, e ao se espiar pela janela daquela cidade, apenas se podia enxergar as luzes de Natal que piscavam bem longe, a ornamentar a torre da igreja.

O único ruído, além do silêncio, era o dobrar do sino que já anunciava a missa do galo.

Na cidade de quatro ruas, tudo era meio diferente, e a tal missa do galo começava às dezenove horas, no sono das galinhas...

Bruninha, uma garotinha de seis anos estava ansiosa, porque no Natal sempre esperava por um presente bem diferente do Papai Noel, que vinha do céu, só depois de rezada a missa do galo...

Mas naquela noite, queria mesmo era visitar o "HOMEM DAS TUMBAS" para lhe levar um presente.

"ZOIUDO", era assim que o chamavam os adultos, era um ancião andarilho que não tinha voz, mas se comunicava com um olhar penetrante; e sempre muito tácito, costumava dormir no pequeno cemitério da cidade, às luzes dos fogos fátuos.

Era um cidadão do outro mundo...diziam...

As mães quando queriam segurar as rédeas dos filhos iam logo dizendo:

- Se não me obedecer...vamos ter uma conversinha com o Zoiudo.

Mas com Bruninha chantagem nunca funcionava, e depois, sempre quisera mesmo ter uma conversinha com ele...falante como ela só.

- Mãe, hoje é Natal, então vamos ter uma conversinha com o "homem das tumbas"...levar um presentinho para ele, coitado.

A mãe, assustada foi logo desconversando...

-Tá louca menina? Hoje é dia de missa, de vida...e não de visitar o cemitério...

-Mas mãe, e o homem das tumbas, não tem Natal?

-Tem sim filha, mas do jeito dele...

E o sino fez sua última chamada.

Bruninha e toda a família foram para a missa do galo.

Lá chegando, ganhou um livrinho de músicas Natalinas, e um versinho lhe chamou a atenção...

Se quiseres ser "presente"...

No coração do MENINO

Dá para toda gente,

Dum sorriso...o carinho!

Ao sair da igreja, uma surpresa!

Lá estava ele , o homem das tumbas, sentado no banquinho da praça, mais sizudo do que nunca!

Bruninha se aproximou, abriu um sorrizão e lhe entregou o livrinho...em tom bem solene:

-Senhor Homem das Tumbas, um presente em poemas...para o senhor!E com votos de um feliz Natal!

O homem esticou as mãos, e cabisbaixo colocou-o no bolso...

Bruninha subiu a praça, esticada pela mãe...olhando para trás, perdendo o homem de vista...

-Mãe, ele me sorriu com os olhos, mãe!

No dia seguinte ,assim que acordou:

-Mãe, Papai Noel veio?

Ao se aproximar da árvore, havia apenas um envelope, que abriu com os olhos faiscantes de alegria...

"Para BRUNINHA, de PAPAI NOEL"

Se quiseres ser "Presente"...

Do coração de Papai Noel,

Dá para toda gente,

O sorriso do Papai do Céu.

Depois daquela noite, nunca mais o "homem das tumbas" foi visto na cidade...

E o mistério, como de costume, virou lenda.

...dizem que subiu aos céus na Noite de Natal...

Nota: "Zoiudo" existiu. Foi um curioso personagem da minha infância.