UMA NOITE DE NATAL EM CAXIAS DO MARANHÃO
Era naquele dia véspera de natal, esperança de luzes que todos aguardavam chegar. A cidade circulada de lâmpadas coloridas enfeitava os diagramas das praças, árvores e jardins. Os prédios desciam cordões coloridos e incandescentes, reluzindo a vida, a paz e a união. E o tempo simbolizava o ritmo acelerado das horas, revoando sem cessar as brisas, e o centro da cidade transformava-se num mundo comercial entre lojas e designer. Lá no centro, papai Noel sorrindo ao lado de várias propagandas. Um homem de 50 anos, magro, cabelos grisalhos, afadigado, olhar fixo e brando, observava as pessoas cruzando e contemplando feliz natal, enquanto suas pernas cruzadas naquele banco, cansavam-se na mudança constante. Garotos com caixas, pacotes, enfeites, adornos, brilhos, tomavam o espaço no centro comercial da cidade de Caxias, Estado do Maranhão tendo como a rua principal do comércio com fortes aparências com a Rua Saara no Rio de Janeiro.
Uma jovem chamada Valéria Hezze e sua filha Mayra de dez anos, descem a calçada da Praça Gonçalves Dias, indo à Rua do Calçadão antiga rua Afonso Cunha. As suas blusas refletiam um colorido verde e amarelo, relampejando na frente, o retrato da bandeira do Brasil, com sorrisos encantadores e sotaques de estrangeiras, entravam nas lojas e realizam várias compras. Em poucos instantes, a menina Mayra olha rapidamente para aquele homem taciturno sentado no banco, momento em que sua mãe o chama, a garotinha acompanha olhando para trás o perfil.
Já se passaram mais de três horas, transeuntes de um lado para o outro, num vai-e-vem daquela ruazinha apertada. A menina Mayra aproveita uma oportunidade, desgarrando-se de sua mãe, e vai até próximo o homem e pergunta.
-O Senhor já comprou os presentes de natal?
-Eu não tenho natal. O meu natal é você que fala comigo.
Argumentou o homem olhando para a menina.
-Porque o senhor está triste? Indagou a garotinha.
-Moro sozinho, filha. Minha família não é daqui, é do sertão de Pernambuco. Olhe menina, eu estou muito magoado, ontem me mandaram embora do emprego, sem direito a nada e com as mãos abanando. O que posso fazer? Nada.
-Senhor, no dia de natal todas as pessoas compram presentes e ganham?
-E tudo é natal, festas e presentes. Mas o menino Jesus de Nazaré não quer presentes, deseja apenas o nosso coração. Agora eu não tenho ninguém pra desejar um Feliz natal. Já supliquei emprego a todos dessas lojas e ninguém diz nada. Você ainda é criança pra compreender tudo isso.
-Não moço! Não fique se lastimando. Veja! Aquele menino Jesus bem ali vai lhe ajudar. Soluçou a garota com a mão na face.
A menina lagrimou em ver aquele olhar lúgubre e desvanecido, e saiu ao encontro da mãe que deliciava o presépio de natal da maior loja de eletrodomésticos da região dos cocais, o conhecido Armazém Paraíba. E chamou-a.
-Mayra! Venha olhar os três reis Magos, e o menino Jesus na manjedoura. Oh! que lindo.
-Sim mãe, é muito bonito!
-Mamãe! Quem foram os reis Magos?
-Sim filha, foram Baltazar, Gaspar e Melquior, os reis Magos aguardavam a chegada do menino Jesus. Antes dele nascer, eles viram um astro nos céus e seguiram a estrela que levariam até o menino Jesus, chegando lá reconheceram Jesus Menino como o homem que veio ao mundo sofrer.
Novamente Valéria Hezze articula.
-Mayra, está vendo aqueles saquinhos nas mãos deles, foram os presentes que ofertaram ao salvador do mundo com ouro, insenso e mirra.
-É linda a história de Jesus. Ali é Nossa Senhora e o José. Não é mãe? Inquiriu a menina.
-Sim filha, são seus pais.
-Olhe mãe! O jumentinho e o boi não saem de perto dele.
Afirmou Mayra.
-Sim, ali é o tabuleiro, local onde davam comida para os animais, nascendo na manjedoura, bem pobrezinho, o maior homem que o mundo já conheceu, o filho de Deus feito homem.
Mayra conta tudo para sua mãe que o homem que estar logo adiante, havia lhe dito que o natal era a própria Mayra, tais expressões emocionaram a menina.
- Mãe! Vamos ajudar. É pobrezinho, sem ninguém e sem emprego.
-Um momento. O que você quer dá pra ele? Falou sorrindo Valéria Hezze.
-Quero dá camisas, sapatos, meias e cuecas. Mãe! A camisa dele tá rasgada.
As duas entraram na loja do Armazém Paraíba e compraram os presentes do homem desconhecido.
-Hei moço! Ainda sou o teu natal? Disse Mayra brincando.
-Sim. Você é o meu natal por que seus olhos são felizes e cheios de amor.
-Não quero te vê mais tristonho. Por favor! Receba o meu presente de natal. Saiba que eu amo o seu país Brasil!. Em tudo vejo o sentimento rolar na sua face de uma criança boa.
- Estou vendo garotinha, que você não é destas bandas. Um dia o Brasil ainda vai lhe agradecer o teu amor pela minha pátria. Isso é legal pra caramba!
-Não chore moço!
-Estou emocionado. Ninguém nunca me deu nada. Nem mesmo o meu salário para que eu pudesse viajar passar o natal com minha família. Disse o homem lacrimejando e as gotículas caindo na camisa surrada. E de repente, Valéria Hezze exclama com seus cabelos loiros e ondulados, por trás de um sorriso de Copacabana.
- O que tem que ser... Será. Aqui está sua passagem de volta pro sertão.
O homem agradeceu pelos presentes, e partiu ao seu destino levando as lembranças amáveis dos corações argentinos. E na cidade sertaneja do Maranhão, a noite parecia ser dia, nascia o menino Jesus, os sinos das igrejas rebatiam seguidamente, e os fogos de artifícios transvazavam de um lado para o outro em clarões luminosos.
Da sacada do Hotel Alecrim, Valéria Hezze e sua filha, brindavam à chegada do Messias trocando presentes e recebendo ligações telefônicas da Argentina. Tudo era festa natalina, papai Noel já descia as ruas em alta velocidade para entregar os presentes às crianças carentes. E o menino Jesus sorria na manjedoura abrindo os olhos para o mundo. Já é Natal, Feliz Natal.