Jovem Aprendiz
Nicolas sentiu algo novo quando finalmente beijou Elonic. Como sucessor do Papai Noel, ele não poderia ter filhos ou relacionamentos românticos, mas isso não o impediu de apaixonar-se pela moça. O rapaz não entendia como algo tão belo poderia ser tão errado.
Infelizmente, semanas de encontros escondidos não poderiam durar para sempre. Um dos duendes reparou na mudança comportamental de Nicolas e, ao encontrar a jovem com ele, deduziu tudo logo e correu para contar ao Papai Noel.
Elonic conseguiu fugir antes de ser vista ou punida por seduzir o aprendiz, mas o garoto levou uma bronca grandiosa dizendo que precisava se guardar caso quisesse assumir aquela função. Ele tentou argumentar que já tinha seus 18 anos e deveria ser livre, mas a regra era clara. Por mais que seu sentimento fosse forte, precisava reprimi-lo ou abrir mão de seu posto.
Pensava em sua amada noite e dia, mas o amor que tinha pela sua profissão era maior e ele tentava com dificuldade superar essa paixão. As coisas ficaram feias para seu lado, contudo. Alguns dias depois, o Papai Noel foi encontrado morto e, segundo a polícia, tinha sido envenenado.
As câmeras de segurança não conseguiram captar o assassino, mesmo funcionando perfeitamente durante o período do crime. Quem fez aquilo, provavelmente, conhecia muito bem o local. Devido a essa pista e os constantes conflitos por causa de seu namoro com Elonic, não demorou para que a culpa caísse em Nicolas.
Com o Papai Noel morto, não haveria como demitir o jovem e escolher outro aprendiz. Muito pelo contrário, ele precisaria assumir suas funções o quanto antes. Ainda faltavam alguns anos para o fim de seu treinamento, mas o rapaz precisava estar pronto. E livre, é claro.
Os duendes e as renas voadoras ficaram irados com o crime cometido por Nicolas e não hesitaram em entregá-lo para os policiais. Não houve escolha além de fugir e esconder-se. Tão logo encontrou um lugar abandonado, ajoelhou, uniu suas mãos e começou a rezar:
— São Nicolau, peço perdão pelos meus pecados. Entreguei-me a Elonic e perdi a pureza, porém eu não matei o Papai Noel. Redima meus pecados, permita que eu receba a magia do Natal e seja o próximo Papai Noel. Amém.
— Sei que o culpado não é você, é sua namorada. — A voz do santo vinha de lugar nenhum. — Ela, na verdade, é Nicole, a aprendiz anterior. Mas quando seu treinamento acabou, a rejeitei e não lhe dei a magia do Natal. Provavelmente, a motivação do crime é inveja, quer seu posto de Papai Noel. Vou entregar-lhe tal poder, Nicolas. Prove sua inocência.
Mal foram ditas essas palavras e os policias invadiram o local. Não sobrou muito tempo para agir, e o rapaz foi capturado e preso. Como imaginou, Elonic, ou Nicole, foi visitá-lo na prisão para cantar vitória.
— Pela sua cara, já deve saber que sou a verdadeira assassina. — disse sorrindo. — Melhor assim, não preciso fingir amar-lhe. — Riu. — Deve estar pensando como se deixou enganar, não? A culpa não foi sua, eu recorri à idiota da aprendiz do Cupido. Pois é, São Valentim é muito mais liberal do que São Nicolau. — Vendo sua cara de confusão, ela continuou. — Ele disse que meu coração não era puro...
— Concordo com ele. — O jovem interrompeu.
— ...mas me rejeitou por ser mulher! Apenas Deus Onisciente poderia saber a pureza de meu coração. Ele é só um santo! A regra só fala que precisamos ter o nome dele, ser órfãos e boas pessoas. Não menciona o nosso gênero, então ele deu outra desculpa. Por acaso, você já viu Papai Noel mulher?
— Talvez um dia eu veja, mas você não poderá. Pois estará mofando atrás das grades. — disse Nicolas, que apareceu subitamente atrás dela com um celular, com o qual gravou a cena toda.
Estranhando o fato de ele estar livre quando, na verdade, estava preso, Nicole olhou assustada para a cela. Realmente, o aprendiz ainda estava lá. Se ele estava em dois lugares ao mesmo tempo, só poderia querer dizer uma coisa: ele recebeu a magia do Natal e podia multiplicar-se, assim como o Papai Noel.
— Espere! — gritou desesperada para escapar da condenação. — Você foi enfeitiçado pela Valentina, se denunciar-me e eu for presa, sofrerá por amor. E, se já leu ao menos um livro na vida, sabe que isso é ruim. Deixe-me ir!
— A magia do amor não funciona como a do Natal. É muito difícil falsificar um sentimento, ainda mais em longo prazo. Eu não lhe amo, odeio-lhe! Você matou quem eu mais amava nessa vida, e amava mesmo, não por um feitiço. Prepare-se para apodrecer na prisão. — disse com toda a energia do mundo. — Oh, delegado! — chamou enfim.