(Imagem Google)


O Pulo do Gato
(Contos de Natal)
 


Tudo naquela casa era triste, sem vida, até mesmo a velha mobília parecia dizer que estava cansada daquele ambiente sem cor, sem brilho, sem alguém que lhe fizesse um carinho ao espanar a poeira que o tempo ali depositava. 

Esperança, ao contrário do nome que lhe fora dado pela mãe, no mesmo dia em que o menino Deus veio ao mundo, em uma noite de Natal, depositando naquela criança a esperança de dias melhores e de um futuro brilhante, era a insatisfação em pessoa.

A mãe, enquanto viva, fazia-lhe todas as vontades, por ser filha única e para compensá-la da ausência do pai, que há muito abandonou-as dizendo que estava partindo para outro Estado, em busca de novas oportunidades para dar um futuro melhor para a família e nunca mais se teve noticias dele.

Após o falecimento da mãe, Esperança se viu sozinha no mundo. Tinha estudo e uma boa formação na área da saúde, mas a vida lhe tinha tirado o seu porto seguro, a sua base e sentia muita falta do apoio da mãe e isso foi fazendo com que perdesse a vontade de viver. Até mesmo o emprego ela perdeu devido às constantes faltas porque não tinha energia nem coragem para se levantar pela manhã para trabalhar, caindo em depressão, nem tampouco cuidava da casa e dos afazeres domésticos.

Foi Cátia, sua amiga de infância, que cuidou de Esperança e tudo fez para que ela voltasse a tomar gosto pela vida, incentivando-a a fazer um tratamento com uma médica especialista na doença e, aos poucos, a amiga foi despertando para novos horizontes.

Esperança foi despertada pela campainha da porta. Era Cátia que fazia questão de levá-la para a sua casa, a fim de que a amiga participasse da noite festiva de natal com seus familiares. Esperança não queria ir, mas, foi vencida pelo cansaço devido a insistência da amiga e aceitou o convite.

Aquela noite era especial, era Natal, e Esperança também comemorava mais um ano de vida. Vida, pensava Esperança, ela precisava de um motivo muito forte para continuar e ela tinha que descobrir qual era a sua missão aqui nesse mundo para continuar a sua luta.

A festa estava animada e Esperança teve oportunidade de conhecer várias pessoas, mas, uma delas lhe chamou a atenção; era uma senhora já de idade avançada, que sentada a um canto da sala a observava com um misto de afeição e simpatia.

Esperança, ficou curiosa em saber mais sobre aquela figura enigmática e perguntou á Cátia de quem se tratava.  A amiga contou-lhe que se tratava de Nilza, uma paciente da estância para idosos, na qual sua mãe trabalhava, e estava ali porque não tinha família e a mãe, então, a levou para a casa naquela noite para que voltasse a sentir o aconchego de um lar. 

Sua história de vida também era triste, a senhora estava muito doente, acometida por um câncer, já em estado avançado. Nilza era uma artesã e fazia quadros maravilhosos, bordados em um tear que ela mesma havia inventado e que ninguém conhecia e, provavelmente, quando falecesse, levaria com ela o segredo dessa técnica e toda a riqueza daquele trabalho diferenciado, premiado em concursos e de alto valor aquisitivo, cujas telas já haviam sido adquiridas por famosos apreciadores de arte.

Esperança simpatizou com Nilza e pode avaliar o sofrimento daquela senhora pois ela se sentia assim também, só no mundo, sem uma referência familiar, um carinho de ente querido e se compadeceu de si mesma.

Nilza também gostou de Esperança e, na primeira oportunidade, chamou-a para conversar. Na verdade, Karen, a mãe de Cátia, havia comentado com Nilza que Esperança era enfermeira e estava desempregada. Nilza precisava de uma cuidadora e viu em Esperança a pessoa certa para a atividade. Esperança ficou muito feliz com o convite e, assim, foi cuidar da senhora na estância, tornando-se, as duas, muito amigas.


Elas descobriram que tinham muitas coisas em comum, os mesmos gostos por comida, música, livros, enfim, tudo colaborou para o estreitamento dessa amizade e para a cura da depressão de Esperança.

Nilza, por sua vez, queria deixar o seu legado para Esperança, que já a considerava como filha. Passou, então,  a ensiná-la a fazer os quadros no tear porque queria que ela desse continuidade àquele trabalho do qual tanto se orgulhava, revelando-lhe “O Pulo do Gato”
(Expressão usada para se referir a um segredo, truque ou explicação do sucesso ou da solução de alguma coisa).

Esperança aprendeu a técnica e começou a fazer lindos quadros e, após o falecimento da amiga Nilza, ela fez dessa arte a sua nova profissão e uma carreira de muito sucesso.



“Conhecimento adquirido não se guarda: compartilha! Essa bobagem de nunca ensinar o       “ PULO DO GATO”, é coisa de gente que não tem ciência da sua mortalidade”   Míriam Reynaud


 
Feliz Natal, de Luz e Amor!



                                                  
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