332 - Natal
Quando pediu ao Pai Natal uma boneca e recebeu um par de peúgas de xadrez, quando a filha da professora veio com os presentes que ganhara no sapatinho e exibia ufana a boneca dos seus sonhos, caixas de bombons, a casinha de brincar e muitas mais coisas, Clara perguntou-se onde é que falhara. Aceitou a situação e desejou não ter, no próximo ano, culpas para serem punidas a peúgas ou fitas para o cabelo. Não chorou. Com o rodar do tempo, cresceu nela outra maneira de ver as coisas e quis saber de critérios, normas, justiça e equidade, palavra que, ao tempo, não sabia que existia embora sentisse bater forte a falta dela na sua vida. Quando se cresce diminui nos sonhos o Pai Natal, faltam os agasalhos e há frio, as mãos ganham frieiras e os lábios rebentam de sangue se abrimos demais a boca seja para rir ou para chorar. - Esse Natal, filha, não é para pobres, disse-lhe a mãe. A nossa árvore é a da Praça, o nosso presépio o da igreja e os presentes são os que podermos comprar. Quando nasceu pobre Jesus, Ele foi o presente de esperança para a humanidade. Depois foi o que se sabe, acabaria a pagar pelo que não fez para que nascessem asas a todos os que quisessem voar. E muitos comemoram com árvores enfeitadas e Pai Natal o seu aniversário mas nem sequer sabem por quê. O Natal é a festa da Família, dizem, quando tantas vezes se sentam raivas para consoar. Um dia, acrescentou a mãe, sem festa especial, vai nascer de ti um renovado Natal e nesse eu quero estar como tua Estrela de Belém.