Havia uma menina que não sabia a data certa do Natal.
Sabia, pelo frio, que era no Inverno.
Sabia, pelos cânticos na missa, qual era a época.
Vivia numa casa deserta de ternura.
Ao serão, de vez em quando, fervia-se azeite num grande tacho de cobre luzente, colocado sobre a tripeça de ferro, nas brasas da lareira.
Alguém tendia a massa das filhós, sobre um pano no joelho e as deitava na fervura, enquanto outra pessoa as voltava.
A si davam-lhe, por simpatia, a honra de as polvilhar com a mistura de açúcar e canela.
Árvores, só as que cresciam lá fora, agora de folhinhas recolhidas.
Por vezes a neve caía, recobrindo tudo de mágico encantamento.
A menina olhava o céu, que a deslumbrava! Parecia que descia, rodopiando do azul, em fiapos levezinhos e brancos.
Deitava a língua de fora e, sorrindo, estremecia, num arrepio delicioso, bebendo a água pura que se lhe desfazia na boca.
Nas mãos ambas, apanhava pedaços de neve, que tentava guardar consigo, para prolongar esse momento mágico.
Levava-a para dentro de casa, resguardava-a. Era tão linda!
Porém, tão pouco durava! Logo desaparecia e a menina chorava lágrimas de pura inocência.
Nunca ninguém lhe dissera que o Pai Natal existia e aos meninos visitava.
Dizia-se que o Menino Jesus deixava prendas no sapatinho... mas ela nem o sapato deixava, no limiar da borralha.
A menina só queria que o frio se fosse embora e voltasse a primavera!