Um Pedido Comovente
Francisco perdeu os pais muito cedo, aos três anos de idade. Foi um choque para a criança ver seus pais serem brutalmente assassinados naquela noite de domingo. Os dois eram viciados em drogas e acumularam muitas dívidas e inimigos no mundo do tráfico. Moravam num barraco tão precário que quem visse aquilo jamais imaginaria que ali vivia uma família.
Depois do ocorrido, Francisco ficara alguns dias na casa de uma vizinha. Mas pelo fato de ela não ter condições de criar o menino e por ele não ter nenhum parente que o acolhesse, a mulher o levou a um orfanato. Lá, a criança foi bem acolhida e após alguns dias já acumulava inúmeras amizades, tanto das outras crianças quanto dos funcionários da instituição. Ele se tornou o xodó do orfanato. Porém, passava a maior parte do tempo pelos cantos, calado e pensativo, ainda visivelmente abalado com a cena que presenciara dias atrás e sentindo uma enorme falta daqueles que lhe puseram no mundo.
Passado algum tempo, o garoto já se soltava mais; brincava de bola, carrinho e pique-esconde com seus novos amigos, desenhava e até conseguia rir com mais frequência. Apesar de as lembranças daquele dia ainda estarem bem vivas em sua memória, começava a se acostumar com a nova vida. E os anos foram-se passando. Um ano, dois, três...
Já era o terceiro ano de Francisco no orfanato. Dezembro se aproximava e, com isso, o Natal chegava também. Como era de costume nessa época, as crianças escreviam cartas ao Papai Noel. Essas cartas eram colocadas na árvore natalina da instituição e depois, encaminhadas a uma ONG que ajudava crianças carentes e órfãs para que o pedido dos pequeninos fossem realizados.
Muitas cartas emocionaram bastante. Porém, uma delas comoveu a todos. A carta dizia: "Querido Papai Noel, só uma coisa me deixaria muito feliz. Queria meus pais de volta. Conversa aí com o papai do céu, eu sei que vocês são amigos. Conversa com ele e pede pra ele mandar meu papai e minha mamãe de volta pra mim porque ainda sinto muita falta deles. Eu só queria eles aqui cuidando de mim."
A carta era de Francisco e a comoção foi geral. Todos ficaram com os olhos cheios de água diante desse singelo pedido que seria impossível realizar. Entretanto, uma das mulheres que faziam parte da ONG havia perdido seu bebê há alguns meses e, na tentativa de amenizar sua dor e a de Francisco, resolveu adotá-lo. Ela sabia que para o menino não seria a mesma coisa, já que ele pedia seus pais de volta. Mas, diante do impossível, a mulher imaginou que o sofrimento dele seria aliviado. E ela poderia ter o filho que não teve no passado.
No dia seguinte, a mulher que cuidaria de Francisco dali em diante procurou o orfanato, relatou o conteúdo da carta do menino e providenciou a papelada o mais rápido possível. Dentro de alguns dias, foi buscá-lo. A princípio, o garoto não simpatizou com ela. Mas depois de certo tempo, ele aceitou a ideia de ter uma nova família. E foi feliz.