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Imagem:  do Google

O NATAL DE JOÃO PEDRINHO
 
         Noite estrelada em o que céu se revestia de luz com os fogos para comemorar o Natal na pequena cidade de Anel-Quebrado. Lugarejo rodeado de chácaras e pequenos sítios. João Pedrinho esperava ansioso pela visita do padrinho que viria da localidade de Sanga-Funda, o qual iria lhe dar uma bicicleta de presente. Romualdo era viúvo e não tinha herdeiros. O menino sempre foi o mimo do fazendeiro e sua finada esposa. Cada vez que passava pela propriedade do Mendonça, levava algo para o filho deste.
         - Filho, papai está sem condições de dar presente pra você. – Lamentava o pai. – Tudo o que eu quero que estude e seja alguém bem sucedido na vida. Faça a sua parte, que Deus fará a dEle.
         - Papai, não se preocupe que vou fazer o que o senhor mandar. – Respondia o menino com bastante respeito.
         - Eu até fico com vergonha porque não temos condições em retribuir nem um pouquinho tudo o que seu padrinho traz pra você. Mas presente é bem-vindo. Sua mãe pensa a mesma coisa que eu penso filho. – Falou o pai.
        

       Passou a noite da véspera. Dia vinte e cinco de dezembro era o almoço. Medonça havia matado um carneiro para assar. Cavou um buraco retangular e ali fez o assador. O compadre Romualdo marcou para almoçar com eles. Já era uma hora da tarde e nada do homem. Esperaram mais meia hora. Almoçaram sem o padrinho do menino.
         - Onde está o padrinho Romualdo? – Perguntou menino preocupado.
         - Ele mora meio longe daqui, filho. – Respondeu a mãe enquanto preparava uma maionese.
        

       O homem não chegou. João Pedrinho tinha uma espécie de premonição. A impressão era que algo havia acontecido ou estaria para acontecer. Quando tentava falar, o pai ou a mãe mandava que se calasse e não falasse besteiras. Ao invés do compadre Romualdo, quem chegou foi outro homem, bastante embriagado.
         - Feliz Natal Mendonça... e... do... dona Evita...
         - Feliz Natal Bastião. Vai se abancando aí. – Disse o dono da casa por educação, mas a vontade era de colocar o bêbado para fora da sua residência.

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      Bastião era morador de Sanga-Funda e vivia a maioria do tempo embriagado. Alguns o apelidaram de Jeca Tatu, devido à sua magreza. Chegou na casa da família do João Pedrinho e pediu almoço. Comeu bem, bebeu cerveja feita em casa que não continha álcool e ainda levou um pedaço de carne assada pra família. Na hora de sair, o rapaz já estava sóbrio e então se lembrou de dar uma notícia:
         - Coitado do nhô Romuardo.
         - Ué, por quê, Bastião? – Perguntou dona Evita.
         - Nossa! A sióra não tá sabendo? Nhô Romuardo foi encontrado morto na varanda da casa dele. Deve ter dado um piripaque e ele não vortô mais. O velório tá acontecendo na casa dos parentes dele na ôtra fazenda...
         - Meu Deus! Não diga! – Falou assustado Mendonça.
         Nesse momento João Pedrinho ouviu a conversa e correu atrás da casa para chorar.
        

               A fazenda ficou por conta de alguns empregados. Três famílias. Os parentes do Sr. Romualdo foram até ao cartório da cidade mais próxima para ver a situação das terras. Constataram que os impostos estavam todos em dia. Havia um testamento. Reuniram as pessoas para participar da abertura do documento.
        

          Quando abriram, viram que constavam ali as divisões da propriedade. A metade da fazenda dividiu em partes iguais, inclusive o gado que nela continha, aos sobrinhos filhos da sua única irmã já falecida. A outra parte incluindo o casarão onde morava e outros bens, doados para o seu amigo e compadre Mendonça. O dinheiro que estava guardado em vários bancos, era para retirar o suficiente pra comprar uma bicicleta para o afilhado João Pedrinho. O restante era para transferir para o menino, seu afilhado, deixar depositado e sacar quando este fosse fazer uma faculdade.

               A grande monta de valores, registrados no nome do menino João Pedrinho.
 
(Christiano Nunes)