Conto do Natal Vermelho

Estamos em 24 de dezembro, véspera de Natal. Muitas crianças estão sorridentes, aconchegadas em seus lares, afagadas pelo amor de seus pais. Na sala das casas vê-se uma linda árvore, um pinheiro enfeitado de lindas, brilhantes e coloridas bolas natalinas; um costume que o Brasil e demais outros países latino-americanos tomaram emprestado da Europa, onde nasceu o Natal gélido, embranquecido pelos flocos de neve. A cidade de São Paulo espera ansiosamente pela festa de Natal, os presentes que se encontram nas vitrines das lojas dos shoppings, fazendo as crianças se deslumbrarem maravilhadas, as casas e edifícios enfeitados com luzes brilhantes que piscam, características nessa época de fim de ano. E a Avenida Paulista toda enfeitada, para júbilo dos paulistanos e tantos outros, até mesmo estrangeiros.

Sou brasileiro e falo do Natal brasileiro que, apesar disso, não deixa de ser europeu e norte-americano, como disse; afinal este Natal com cara de Papai Noel tem sua origem nos países onde o inverno não se dá no meio do ano como aqui, mas no fim.

E o Natal é comemorado por todas as famílias, as ricas e as pobres. Papai Noel visita tanto as casas ricas quanto as pobres, mas é claro, ele não presenteia os ricos e os pobres com os mesmos presentes, melhor dizendo, com presentes de mesmo valor monetário. Este Papai Noel, como sabemos, chama-se “Dinheiro” e é o dinheiro, infelizmente, que faz a festa de Natal de cada um. Ora, quem tem mais dinheiro tem mais presentes, ou os mais caros, assim como uma mesa farta de alimentos variados para todos os gostos. Quem tem menos dinheiro, menos presentes, ou presentes mais baratos e uma mesa pobre de poucos alimentos, que devem, querendo ou não, agradar os seus comensais.

E o Papai Noel se apresenta nas casas, vestido com sua característica indumentária vermelha, e a sua deslumbrante figura, na pessoa de um saudável velho risonho, feliz, corpulento, de grisalha barba como espesso chumaço de algodão, grandalhão, cara avermelhada, olhos vivos e redondos, de um azul cintilante; enfim, um autêntico “viking” disfarçado numa figura mítica, para alegrar as crianças. Estas esperam ansiosas pela sua aparição.

Mas estamos no Brasil, o país da América do Sul, como os demais outros desta sofrida América Sulista e tantos outros de toda a América Latina.

Mesmo assim, há crianças que têm um digno Natal em suas casas, ricas ou pobres; as ricas com fartura, as pobres comedidamente.

As crianças pobres brincam com seus brinquedos baratos, alimentam—se com uma comida especial que não têm durante o ano todo e que seus pais proporcionam-lhes com dificuldade, afinal é noite de Natal. As crianças ricas têm todos os seus desejos satisfeitos, os lúdicos e os alimentares. Estou falando dessas crianças brasileiras que têm a possibilidade de comemorar o Natal e têm também, de uma maneira ou de outra, a presença do exuberante Papai Noel.

Mas Papai Noel é uma lenda, uma fantasia, que com o advento

do Capitalismo, após a Revolução Industrial, passou a ser muito profícua aos propósitos desse sistema mercantilista.

Lá vem ele, para acalentar o imaginário ingênuo das crianças. Elas o imaginam como lhes é relatado, como veem nas televisões e cinemas, o velho alegre e rechonchudo, sentado em seu trenó voador que desliza velozmente por sobre as nuvens do céu estrelado, conduzido por renas mágicas. Ele distribui os seus maravilhosos presentes, entrando nas casas pelas chaminés e depositando-os próximo da árvore enfeitada da sala.

O vermelho do Papai Noel vislumbra e todos podem vê-lo em sua fulgurante roupagem lá no alto céu estrelado. As crianças estão vivenciando um momento puramente mágico! Sim, é o vermelho da ilusão; é o vermelho daqueles que podem comprar esta ilusão para os seus filhos.

Mas no nosso país, o Brasil, existem muitas outras crianças, e elas têm a rua como lar e os estranhos como família. Não têm quem lhes compre a magia do Papai Noel, daquele vermelho que vislumbra e ilude. Eles não têm direito de se iludir. O Natal é triste para elas. Mariazinhas, Pedrinhos, Joanazinhas, Joãozinhos, e muitos outros nomes aos milhões de tantas crianças que não sabem de fato o que é festejar uma agradável noite de Natal. Para estas o Papai Noel não aparece pois, é claro, elas não têm pais.

Ela anda juntamente com o irmãozinho pelas ruas da cidade paulistana; igual a eles há muitos e muitos, não só na ampla cidade paulistana, como também nas outras demais cidades brasileiras. Vou chamá-los de “irmãozinhos da rua”.

Os “irmãozinhos da rua” caminham de mãos dadas, observando as lojas repletas de uma variedade enorme de presentes, casas de alimentação que exibem todo o tipo de alimento. Como desejam os brinquedos! Muito mais desejam os alimentos!

A menina anda apressadamente, encantada com as vitrines que exibem os sonhos que ela não pode comprar. O menino, que é bem menor que ela, apressa seus passos, tentando segui-la, segurando com firmeza a sua mão magricela. Às vezes tropeça, já que não consegue acompanhar a irmã. Ela, por sua vez, não desgarra de sua mão, como se fosse sua mãe ao invés de irmã. E de fato é como sua mãe, pois esta está morta, assim com o pai. Estão sós no mundo, o que significa dizer que um tem ao outro.

Meus Deus, como estão famintos! Os olhos arregalados para todas aquelas maravilhas que perpassam diante deles, e o estômago roncando da fome que não pode esperar.

Ora, o vermelho do Papai Noel é deslumbrante, e eles sabem disso! Mas este vermelho é o vermelho da ilusão, minhas crianças, só sabe comprar mais ilusão para os que se iludem com o fascínio do mundo. A falsa segurança que isso lhes dá os faz esquecer da única e verdadeira segurança que de fato temos na vida.

Os “irmãozinhos da rua” abraçam-se encolhidos num canto sujo de um beco vazio, a fome lhes corrói o estômago, e ela cresce a medida que veem os alimentos em abundância e, principalmente, quando deles sentem o aroma, às vezes adocicado, às vezes salgado. Não podem mais suportar!

“Papai do Céu, eu quero o meu Papai Noel! Papai do Céu, eu quero o meu Papai Noel! Papai do Céu, eu quero o meu Papai Noel!”

Assim dizem em voz baixinha para que ninguém ouça, apenas eles; um para o outro e ambos para Deus. Desejam o seu Papai Noel, vestido em sua roupa vermelha, para dar-lhes a felicidade que tanto almejam! A fome é mais forte que eles, crianças de corpos frágeis. Mas pedem insistentemente que Deus, Nosso Senhor, envie-lhes o seu Papai Noel. É noite de Natal, 24 de dezembro. Parecem dormir, pois os olhinhos estão cerrados e os lábios emudecidos. Ela sentada no chão frio e sujo, ele deitado em seu colo.

Uma luz resplandece! Ora, já é dia?! O sol brilha tanto assim?! Mas que bela manhã neste dia 25 de dezembro!

Acordam e notam um amplo e florido campo, com belos passarinhos a cantar e diversas borboletinhas a circundarem delicadamente flores multicoloridas e perfumadas. Não, não sentem fome. Sentem que estão devidamente saciadas, como se na noite anterior tivessem participado duma farta e deliciosa ceia de Natal!

Eis que, ainda sentados, não mais no asfalto friorento e úmido, mas em macia e fofa grama, como um tapete único e extenso, os irmãozinhos veem aproximar-se um homem imponente e todo iluminado, em cuja cabeça resplandece coroa fulgurante, e cujo corpo, esbelto e esguio, é coberto por uma brilhante túnica de uma alvura nunca antes vista! Um celestial coro de anjos é ouvido. O homem, sorridente, de barba bem feita e longos cabelos que lhe caem delicadamente aos ombros, barba e cabelos também brilhantemente alvos, aproxima-se deles e beija-lhes as cabecinhas. As crianças sentem o conforto dum pai que nunca tiveram.

“Deixai vir a mim os meninos e não os impeçais; porque deles é o reino de Deus”, conforme Marcos, 10:14. Afinal ninguém entrará em Seu reino se não for puro como uma criança.

Ele as abraça e as carrega em Seus fortes braços. As crianças O conhecem. “Senhor Jesus!”, assim pensam, fitando Seus olhos doces e meigos. E descansam suas cabecinhas em Seus largos ombros.

Por um breve momento, ao longe, veem-se pessoas que lavam suas vestiduras em uma extensa fonte cujas águas são o mais rubro e vivo sangue, conforme Apocalipse, 22:14, que diz, “bem aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito a árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas”.

“Este é o Meu sangue derramado também em favor de vocês, meus pequeninos.”

Eis aí o seu Papai Noel enviado por Deus. Mas não é o Papai Noel, pois não é a ilusão fabricada pelo mundo, porém a Verdade que sempre existiu, que existe e sempre existirá; o Pai que atende ao clamor das crianças necessitadas e dá-lhes o real e verdadeiro presente natalino: amor, paz e contentamento, para aqueles que ressuscitarão primeiro e habitarão para todo o sempre a Nova Jerusalém, graças ao sangue de Jesus, dum vermelho ímpar e lídimo.

Binho Laranjeira
Enviado por Binho Laranjeira em 10/11/2015
Reeditado em 17/12/2015
Código do texto: T5443903
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