O Poema que o Menino não leu
Rui, 8 anos, é um menino muito pobre. Mora com seus pais, em uma casa humilde na periferia de uma grande cidade. Filho único, por haver perdido dois irmãos menores, em um acidente envolvendo um trem e o ônibus no qual viajava com seus pais.
O pai de Rui é borracheiro, trabalha em uma borracharia próxima ao bairro onde reside, mas não tem emprego fixo. Presta serviços quando é solicitado pelo proprietário. A esposa é faxineira, apesar da saúde frágil (desde o trauma que sofreu com a perda dos filhos) se esforça durante três dias por semana para ganhar uns trocados para contribuir na manutenção das despesas da família. Apesar da pouca idade, Rui sofre bastante quando ver seus pais "discutindo" sobre a falta de dinheiro para comprar mais alimentos ou para pagar determinadas despesas fixas como água e luz. Sua dor, nesses momentos (apesar de tão jovem para entender o mundo complicado dos adultos) não passa despercebida.
O menino sonha em quando crescer mais, começar a trabalhar para ajudar os pais, mesmo antes da maioridade. Apesar da simplicidade, Rui é o orgulho dos pais, é tudo que eles tem de mais precioso, principalmente depois da perda dos outros dois pequeninos. É um filho bastante obediente, solidário e nunca se comportou mal na escola.
Nesse final de ano a professora de Rui realizou um "concurso" de poesias de Natal. Apaixonado por leitura, escrita e também poesia, ele caprichou na elaboração de um texto singelo no qual falava de um sonho... Seu maior prazer seria recitar o poema para seus pais na noite de Natal, justo no momento em que seus avós (maternos) estariam em sua casa para participar de um jantar comunitário organizado por uma ONG, na comunidade.
Na tarde anterior, a mãe do menino recebeu de uma senhora bondosa (a quem presta serviços como faxineira) uma roupa nova, a qual era tão desejada por Rui, para usar no momento do jantar e depois ir à missa de Natal com a mesma. Ao anoitecer, Rui se produziu todo, queria está mais bonito, afinal, além de sua família, seus amigos e vizinhos moradores do bairro iriam vê-lo pela primeira vez declamando um poema. Um "feito" que para sua tenra idade que acaba sendo algo muito importante e chama a atenção. Rui tem boa memória, por isso garantiu à professora que não iria apenas ler, tendo em vista já haver memorizado o texto inteirinho.
Eufórico recebe os avós enquanto a mãe se prepara para saírem para o local onde a comunidade estava reunida. Lá só faltavam eles. Rui pede permissão à sua mãe e aos avós e sai na "frente". Lá encontra seu pai que veio adiantado para dar uma mãozinha aos amigos, na organização do local. Chega o momento de Rui recitar seu poema de Natal. Rui procura o papel nos bolsos, para rever mais uma vez o texto. Não queria errar de jeito nenhum. O menino, já preocupado, percebe que a poesia ficou em casa. Pede licença aos presentes e sai correndo, pensando também em voltar acompanhado de sua mãe e avós que ainda não chegaram. A rua estava deserta. Os moradores àquela hora estavam todos presentes no evento.
Mas... para sua surpresa e dor terrível, Rui não só não encontrou mais o texto, mas sua casa havia sido destruída por um incêndio causado pela explosão de um botijão de gás. sua mãe e avós morreram axfixiados tentandos salvar os poucos pertences que a família tinha. Rui sai correndo aos gritos, desesperado pedindo ajuda... Um vizinho o encontrou desmaiado na calçada da Igreja, onde, às 22:h estariam todos participando da santa missa de Natal.
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Ísis Dumont