Um Natal Inesquecível...
Um Natal inesquecível!...
(narrativa)
O Sr Natalício e D Natividade moram em um bairro qualquer de uma grande cidade. São uma família pobre, porém levam a vida sem maiores problemas, dentro de uma certa normalidade. Vizinha à sua casa morava a D Sinhá. Uma mulher já de uma certa idade com muitos problemas de saúde inclusive com diabetes (agravado) pela dependência química (alcoólatra). D Sinhá era uma velha só, não tinha ninguém em sua companhia. Não tinha amigos; só alguns vizinhos que a assistiam em suas crises de embriaguez. Havia também um pastor de uma igreja que prestava lhe alguma assistência.
D Sinhá sofria repetidas crises alcoólicas, piorando muito sua saúde física e emocional que já era debilitada. Os vizinhos mais próximos corriam lhe socorrer e prestar-lhe assistência material e moral. D Natividade sempre que podia ajudava materialmente e moralmente D Sinhá. Dedicava-lhe alguns cuidados e a acolhia em seus momentos de crise e extrema agonia. Havia também nas proximidades uma jovem que morava só e que sempre cuidava carinhosamente com zelos de uma filha de D Sinhá. Porém o quadro clínico de D Sinhá piorou e ela ia ficando cada vez mais debilitada. Más conforme os problemas e a saúde dela aumentavam devido seu precário estado de debilidade física, sua condição de alcoólatra, os vizinhos, principalmente aqueles que mais a assistiam foram afastando-se, deixando-a sozinha.
O quadro clínico e emocional de D Sinhá chegou a se complicar, ela entrou em depressão, essa depressão foi se transformado em doença crônica! Ela transformou-se em um farrapo humano, andarilha, morta-viva, quase um fantasma!... À noite, ao deparar-se só, e em meio ao seu delírio e solidão, em seu aparelho de toca-discos, ela ouvia músicas evangélicas ao mesmo tempo em que ouvia música sertaneja boêmia, sempre com o volume aberto no máximo, assim transformou-se em um pesadelo para os vizinhos. Dessa forma ia até ao amanhecer do dia, quando saia pela vizinhança a zanzar igual um Zumbi.
... Passou-se o ano! Chegou finalmente as festas de Natal e ano novo! Na casa de D Natividade aguardava-se a hora da Ceia... Os vizinhos reuniram-se e montaram uma ceia para D Sinhá, em meio a palavras de incentivo e carinho, tentaram dar-lhe uma ceia normal e o melhor de cada um para que ela pudesse sentir-se amada, acolhida e envolvida em uma atmosfera familiar e de aconchego.
D Natividade preparou uma ceia à parte e a ofereceu para D Sinhá... E... Na hora da ceia, em mais uma de suas tantas crises de alucinação, ela (D Sinhá), após ingerir bebida alcoólica (em sua casa), perdeu o controle de si e passou a dar espetáculo; xingar e falar mal daquelas mesmas pessoas que a estavam acolhendo. Fazia ameaças com uma faca de cozinha, gritava e dizia palavras ofensivas. Mesmo sem haver motivo aparente ela passou a acusar D Natividade, lançando ofensas e acusações graves, criando um clima de insegurança, espalhando boatos e calúnias pela vizinhança.
D Natividade fechou-lhe a porta na cara. Trancou-se em casa com seu esposo e filhos resguardando-se assim do vexame e incômodo por parte de D Sinhá, que implorava ajuda, chorava... Batia na porta,.. Pedia para entrar,... Chamava-a pelo nome, até pedia desculpas... O Sr Natalício tentou intervir a favor da mesma; porém de nada adiantou!.. D Natividade não a perdoou. Não mais a aceitou em sua casa. Não permitiu que seu esposo abrisse lhe a porta. D Sinhá, ficou lá fora desprezada! Humilhada! Implorando perdão, e não o obteve!,..
Trancada com sua família, D Natividade fez sua ceia... Não quis ser incomodada... Aquele episódio certamente contrariava o propósito e o significado maior de uma noite de Natal. D Sinhá permaneceu em sua agonia sem a assistência de um bom Samaritano. Na noite do dia 31 de Dezembro para o dia 1º de Janeiro, D Sinhá teve uma crise alcoólica e faleceu de enfarte, sozinha sem a ajuda de alguém... D Natividade, naquela noite de Natal, em que é celebrado o amor, o perdão, a compaixão, a tolerância, o acolhimento ao próximo... Em um gesto egoísta, perdeu a oportunidade de ser o Bom Samaritano...
Este texto está registrado no Escritório de Direitos Autorais sob o nº 576 – 645 Livro 1-101 Folha 218. Em 03/10/2012 RJ.
Arnaldo Leodegário Pereira.