Um Sonho de Natal
SONHOS DE UMA NOITE DE NATAL
Jorge Linhaça
A árvore de natal era feita em casa, galhos secos de uma árvore qualquer, enfeitados com tufos de algodão.
Bolinhas antigas de natal, algumas ainda vindas de Portugal junto com a maioria das figuras do presépio, misturavam-se às compradas em lojas de 1.99 no correr dos anos.
O presépio montado com as crianças sobre um tablado improvisado completava o ambiente.
Faltavam ali os presentes ...
As crianças com aquele brilho ansioso no olhar, aguardavam a chegada do papai Noel, querendo saber o que ele lhes traria naquele ano.
O sono era quase impossível de ser conciliado, a ansiedade os mantém alertas até que finalmente o sono venceu a resistência.
Os pais se recolheram ao quarto, aguardando o momento certo para por os presentes sob a árvore, às escondidas da petizada.
A falta de recursos financeiros impedira-os de comprar o que gostariam de dar aos seus filhos, mas não impedira o pai de fazer alguns brinquedos às escondidas, usando pedaços de madeira, um pouco de habilidade e muito do coração.
Restos de marcenaria haviam se transformado em um caminhão com direito à articulação entre o cavalo mecânico e a carreta...um pedaço de tecido de um velho guarda-chuva, transformara-se, juntamente com algumas das varetas, cuidadosamente cortadas e entortadas, na lona que protegia a suposta carga.
Restos de caixotes de frutas, haviam se transformada em uma cama de bonecas e um velho pedaço de espuma, coberto com um pano qualquer, fazia as vezes do colchão.
Alguns brinquedos baratos completavam os presentes sob a árvore de natal, além é claro, das indispensáveis roupas novas.
A manhã de natal chegou, e o casal foi despertado pelo alarido alegre das crianças correndo para a árvore de natal e desembrulhando ansiosamente os presentes.
Cada pacote aberto arrancava de suas gargantas gritinhos de alegria e de seus olhos eclodia a luminosidade de mil estrelas a brilhar no céu.
Não havia neles o desapontamento de não ver ali uma nova bicicleta
ou vídeo game...não se decepcionavam com as roupas não serem de grife.
Apenas a ansiedade de mostrar aos irmãos e aos coleguinhas os presentes recebidos.
O natal tão sonhado, finalmente se realizava.
O bom velhinho havia trazido seus presentes.
O casal que a tudo observava sentia os olhos a marejarem de lágrimas,
felizes pela alegria incontida que o tão pouco que podiam dar
havia propiciado aos seus amados filhos.