O Natal de Hayley Stark
O NATAL DE HAYLEY STARK
Miguel Carqueija
A noite estava estrelada e fria e em seu quarto limpo e bem arrumado, a adolescente Hayley Stark olhava insistentemente para o céu, como se esperasse lobrigar a Estrela Guia ou, quem sabe, o trenó de Papai Noel puxado por suas renas voadoras.
Voltando-se, em seu quarto de primeiro andar, iluminado por fortes lâmpadas, a menina morena, magra e de cabelos curtos, que tinha o cacoete de esfregar de vez em quando o nariz, contemplou o Presépio colocado a um canto sobre uma mesa. Na pequena manjedoura fôra colocada palha verdadeira, como se pudesse ser comida pelo boi e pelo burro de massa. O Menino Jesus, a Virgem, São José, os pastores e magos, eram figuras pequenas e bem proporcionadas.
Os pais e a irmã mais velha de Hayley dormiam o sono dos justos, após a Missa e a Ceia. Hayley sabia disso, sabia que nada perceberiam naquela madrugada, se algo excepcional acontecesse em seu quarto, como ela esperava. E, de fato, o presépio ganhou subitamente uma luz que não era a da lampadazinha azul, no momento apagada.
— Hayley — disse uma voz grave.
A menina ajoelhou-se no pequeno genuflexório e aguardou.
— Você não está satisfeita com sua vida atual?
— O que eu faço não é propriamente agradável. Devo continuar com esta missão por muito tempo?
— Por enquanto, sim. Você é muito necessária na Terra.
— Eu sei — os olhos da menina cerraram-se por um momento fugaz. — Tenho caçado pedófilos, salvo crianças e adolescentes. Mas estou longe do Céu, longe de Deus, quando poderei voltar?
— Isto é algo que você não deve especular. Concentre-se em fazer a vontade de Deus. E não está sendo tão ruim. Afinal, você ganhou uma bela família humana.
Era verdade. Hayley amava os pais e a irmã, que por sinal de nada desconfiavam sobre as suas atividades secretas. Aliás, para eles ela não se chamava Hayley Stark, o sonoro nome que ela adotara para agir no submundo contra aqueles que “escandalizavam os pequeninos”, até se tornar uma lenda urbana de Los Angeles. Ela era Hayley para os molestadores, os tarados, e as vítimas dos mesmos, ou outras pessoas que eventualmente surgissem no caminho, como aquela simpática policial Brenda.
Hayley sorriu o seu sorriso mais lindo, mais natalino.
— Farei a vontade do Senhor e ficarei entre os humanos mortais, o tempo que for necessário. Pois não é verdade que, assim como eu, outros anjos estão materializados na Terra?
— Os tempos pedem isso, Hayley.
— Eu sei. O que eu tenho visto... é de cortar o coração.
— Boa noite, Hayley. Durma bem.
A voz calou-se; a misteriosa luz se apagou.
E a angélica Hayley Stark, tendo feito o sinal-da-cruz, deitou-se e adormeceu rapidamente, com a rapidez das almas puras e das consciências limpas.
NOTA: Hayley Stark é a heroína do filme "Hard candy" (O doce amargo), co-produção americana-canadense de 2005 (empresas Vulcan e Lionsgate) de David Higgins, tendo sido interpretada por Ellen Page, Com péssimo título em português (Meninama.com) "Hard candy" representa contundente mensagem contra a pedofilia e a favor da justiça.
O NATAL DE HAYLEY STARK
Miguel Carqueija
A noite estava estrelada e fria e em seu quarto limpo e bem arrumado, a adolescente Hayley Stark olhava insistentemente para o céu, como se esperasse lobrigar a Estrela Guia ou, quem sabe, o trenó de Papai Noel puxado por suas renas voadoras.
Voltando-se, em seu quarto de primeiro andar, iluminado por fortes lâmpadas, a menina morena, magra e de cabelos curtos, que tinha o cacoete de esfregar de vez em quando o nariz, contemplou o Presépio colocado a um canto sobre uma mesa. Na pequena manjedoura fôra colocada palha verdadeira, como se pudesse ser comida pelo boi e pelo burro de massa. O Menino Jesus, a Virgem, São José, os pastores e magos, eram figuras pequenas e bem proporcionadas.
Os pais e a irmã mais velha de Hayley dormiam o sono dos justos, após a Missa e a Ceia. Hayley sabia disso, sabia que nada perceberiam naquela madrugada, se algo excepcional acontecesse em seu quarto, como ela esperava. E, de fato, o presépio ganhou subitamente uma luz que não era a da lampadazinha azul, no momento apagada.
— Hayley — disse uma voz grave.
A menina ajoelhou-se no pequeno genuflexório e aguardou.
— Você não está satisfeita com sua vida atual?
— O que eu faço não é propriamente agradável. Devo continuar com esta missão por muito tempo?
— Por enquanto, sim. Você é muito necessária na Terra.
— Eu sei — os olhos da menina cerraram-se por um momento fugaz. — Tenho caçado pedófilos, salvo crianças e adolescentes. Mas estou longe do Céu, longe de Deus, quando poderei voltar?
— Isto é algo que você não deve especular. Concentre-se em fazer a vontade de Deus. E não está sendo tão ruim. Afinal, você ganhou uma bela família humana.
Era verdade. Hayley amava os pais e a irmã, que por sinal de nada desconfiavam sobre as suas atividades secretas. Aliás, para eles ela não se chamava Hayley Stark, o sonoro nome que ela adotara para agir no submundo contra aqueles que “escandalizavam os pequeninos”, até se tornar uma lenda urbana de Los Angeles. Ela era Hayley para os molestadores, os tarados, e as vítimas dos mesmos, ou outras pessoas que eventualmente surgissem no caminho, como aquela simpática policial Brenda.
Hayley sorriu o seu sorriso mais lindo, mais natalino.
— Farei a vontade do Senhor e ficarei entre os humanos mortais, o tempo que for necessário. Pois não é verdade que, assim como eu, outros anjos estão materializados na Terra?
— Os tempos pedem isso, Hayley.
— Eu sei. O que eu tenho visto... é de cortar o coração.
— Boa noite, Hayley. Durma bem.
A voz calou-se; a misteriosa luz se apagou.
E a angélica Hayley Stark, tendo feito o sinal-da-cruz, deitou-se e adormeceu rapidamente, com a rapidez das almas puras e das consciências limpas.
NOTA: Hayley Stark é a heroína do filme "Hard candy" (O doce amargo), co-produção americana-canadense de 2005 (empresas Vulcan e Lionsgate) de David Higgins, tendo sido interpretada por Ellen Page, Com péssimo título em português (Meninama.com) "Hard candy" representa contundente mensagem contra a pedofilia e a favor da justiça.