Mais um natal sem luz, pensa o garoto antes de virar-se para a mãe e perguntar:
- "Porque não posso ver a luz, mamãe? Meus amigos falam de umas luzes que piscam nos pinheiros na época de natal. E até hoje, sequer pude ver um pinheiro."
A mãe afaga seus cabelos. Coloca-o no colo e diz:
- "Por vezes, filho, quando colocamos vendas em nossos olhos, também deixamos de enxergar. No entanto, os sentimentos afloram com muito mais intensidade. Todos os nossos sentidos ficam mais aguçados. Nossos ouvidos mais atentos aos ruídos, aos diálogos, às notas musicais. Os sabores se sobressaem e o toque torna-se quase mágico. É captado em sua plenitude. Aliás, filho, penso que deveríamos fazer este exercício mais amiúde”.
- "Não entendo muito o que diz, mamãe. Eu queria ser como eles. Ver como eles vêem. No entanto, quando toco o pinheiro, nunca tenho certeza se ?vejo? o que eles vêem. E por esta razão.me sinto tão diferente”.
- “Não poderia ser de outro modo, meu filho. Eles apenas olham e vêem o pinheiro. Não perdem tempo com ele. Faz parte da rotina de suas vidas. Você, não! Tem a vantagem de tocá-lo, percebê-lo, sentir seu cheiro e lhe dar uma forma. E então, ele será único. Assim como seu coração. Ele também não enxerga a luz, mas seu calor o faz pulsar e vibrar com as possibilidades que a vida lhe oferece. Acredita no que ouve, no que toca, no que sente. E se é assim que acontece e faz com que se sinta diferente, filho, é um bom sinal, pode acreditar. Assim como o pinheiro, você também é único! “
Heleida Nobrega