O anjo do Natal
Estava havendo muito movimento naquele prédio, cujos moradores se preparavam para o Natal. No apartamento onde vivia Angelina, seus pais discutiam acaloradamente, reclamando das contas a pagar. O pai estava ameaçado de perder o emprego e a mãe via que não iam poder comprar os presentes.Pensando que estavam sozinhos, visto que Angelina fora brincar com a amiga do apartamento da frente, eles falavam:
-A Angelina vai ficar sem a boneca que ela tanto queria?
-Ou ela fica sem a boneca ou não poderemos comprar a ceia de Natal. Este ano, tivemos muitas despesas. Lembre que precisamos consertar o carro, fazer reformas no apartamento e comprar os remédios da menina.
-Ah, estou cansado, meu Deus! Já preencheu os cartões de Natal para mandarmos aos nossos familiares?
-Não.
-Preencha por favor, querida.
-Claro.
Rápida, a mulher começou a preencher. Cada cartão dizia: "Que a paz do Natal ilumine seu próximo ano.","Que seu Natal seja cheio de luz e paz".
O marido aproveitou para encher um copo de uísque. Ultimamente, ele dera para beber muito e isso não agradava à esposa.
-Querido, não beba.
-Preciso de uma válvula de escape, meu amor. Não estou aguentando. É muita pressão. Só estou pensando se o seu irmão nos convidar para o Natal e nós comparecermos com as mesmas roupas do ano passado. Ele vai se gabar da grande árvore que decorou e da ceia.
-Não pense nisso.
-Como não pensar?Sua família nunca gostou de mim. Seus pais adoram encher a Angelina de presentes para dizer que eu não posso dar presentes bonitos e que sou um fracassado.
-Por que eles fariam isso, papai?
Atônitos, viraram-se. Angelina estava ali.
-Querida, você nos ouvia?
-Voltei do apartamento da Irene e vi que conversavam.
Sem jeito, o pai puxou Angelina para seu colo.A menina disse:
-Pai, você está bebendo.
-Meu anjo, eu estou enfrentado problemas e andamos...
-Eu sei, vocês tiveram que gastar dinheiro porque eu fiquei doente, o carro quebrou e reformamos o apartamento e vocês acham que não vão comprar a boneca que eu gosto. Não tem problema.
-Não? perguntou o pai.
-Não. Eu queria vê-los felizes. Por que vocês estão tão cansados e sempre reclamando? O Natal não é um tempo de paz?
-E não tem problema se não pudermos ter uma ceia mais gostosa que a do titio.
-Mas você não gosta dos presentes, amor?
-Gosto, papai, mas qual o problema se você não puder me comprar uma boneca nova? Já tenho muitas. E não fique chateado com os presentes que vovô e vovó me dão. Eu não vou gostar menos de você porque eles me dão presentes que você não pode comprar.
-Querida- a mãe sentiu um nó na garganta - por que você não vai tomar um banho? Eu vou preparar o jantar.
Angelina respondeu:
-Está certo, mamãe.
-Como está a mãe da Irene?
-Ela está triste, mas não chora na frente da Irene.
Sozinhos, os pais de Angelina conversaram:
-Coitada da Irene. O safado do pai dela deixa a mulher e a filha quando mais precisam dele.
-O covarde abandonou a mulher porque ela está com esclerose múltipla. O que vai ser delas? A família dela mora longe e os pais do marido dela morreram há muito tempo.
Sem que soubessem, Angelina os escutava. Irene lhe contara que a mãe estava doente e não quisera contar qual doença era. Sua amiga estava muito triste, chorando muito, mas sempre escondido da mãe, que passava os dias prostrada no sofá. A menina pensou: "O que é mais importante para a Irene? Ganhar presentes e comer uma ceia ou ver a mãe feliz? De que adianta uma festona de Natal se a mãe está doente e o pai as largou?" Pensando muito,Angelina teve uma ideia.
No dia seguinte, Angelina perguntou aos pais:
-Podem me dar um dinheiro? Vou à papelaria.
-Claro, meu bem, pegue. o pai lhe deu umas notas.
Durante dias, Angelina passou horas fechada em seu quarto, sem contar aos pais o que andava fazendo. O pai não perdera o emprego, mas, com os gastos daquele ano e como os empregos deles não pagavam salários muito altos, o Natal não teria a boneca nova nem uma grande ceia. Os pais de Angelina se aliviaram porque o irmão da mãe passaria o Natal na praia e os pais dela viajariam, o que os pouparia da humilhação. No Natal, os pais e Angelina comeram uma ceia simples. Angelina cantou Noite feliz e os pais lhe deram um pequeno embrulho, que ela abriu. Havia ganho uns belos lápis de cor e canetas coloridas.
-São lindos, papai e mamãe. Adorei. Feliz Natal para vocês.
Foram dormir e, altas horas da noite, alguém saiu pelo corredor, carregando uma pequena cesta. A pessoa parou em frente ao apartamento de Irene e colocou algo em frente à porta. Depois, a pessoa voltou para seu apartamento, fechou a porta, foi a seu quarto e deitou.
Quando amanheceu, a mãe de Irene abriu a porta e se espantou ao ver que haviam depositado flores de papel. Recolhendo-as, abriu um pequeno envelope. Tinha um pequeno cartão, dizendo que ela não fora esquecida e que o anjo de Natal passara para lhe desejar um feliz Natal. A mulher sorriu, levando as flores para dentro.
Mais tarde, Irene contou a Angelina:
-Deixaram um presente de Natal para nós.
-Mesmo? Quem foi?
-Não sei. A pessoa se identificou como o anjo do Natal. Mas mamãe está bem melhor. Há tempos, ela não sorria. Este foi meu melhor presente de Natal: ver mamãe sorrindo.Queria encontrar esse anjo para agradecer pessoalmente a ele.