O VELHO MAESTRO
Foi duro ter que sair do pequeno apartamento em que morou por tantos anos, mas a verdade é que já não tinha como arcar com os aluguéis. O destino, um canto qualquer numa rua qualquer. Pedro era um “sozinho”. Sem parentes e amigos próximos, se deixou levar pela vida, depois da perda do grande amor, Madalena, vitima de um câncer. Desde então, vivia um dia por vez, esperando o momento da eternidade e agora precisava deixar o cantinho, pequeno apartamento do subúrbio, onde viveu por anos, com a esposa.
- Os móveis ficam como garantia pelos atrasados – Ouviu do Oficial de Justiça que acompanhava o proprietário.
- Ok. Posso pedir uma coisa?
- Sim – Respondeu o, ainda menino, Oficial.
- Deixe-me levar o piano.
Depois de um silencio, o proprietário acenou que sim com a cabeça, gesto repetido pelo Oficial.
Já no caminhão determinado pela Justiça, Pedro apontou para uma praça arborizada que surgiu depois de uma curva.
- Ali. Eu vou ficar ali.
O motorista olhou assustado para o ajudante que deu de ombros e obedeceu.
Pedro sorria enquanto descarregavam o velho piano próximo de uma arvore.
Desde aquela manhã, todos que passavam naquela praça ouviam a musica produzida no dedilhar do velho maestro. O som do piano se confundia com o cantar dos pássaros num misto de sensibilidade e uma estranha alegria. Assim foi, em dias de sol e chuva.
Até que, numa manhã de Natal, alguém o lembrou sobre a data, prontamente o maestro Pedro procurou sua beca entre os trapos e pediu para que os companheiros de rua anunciassem que as seis da tarde aconteceria um Majestoso Concerto de Natal em plena praça. E assim foi.
Lá pelas Cinco e trinta, um grupo de pessoas já aguardava; as seis em ponto, Pedro surgiu entre as arvores. Vestido a rigor, agradeceu ao publico, sentou-se ao piano e começou a tocar. Maravilhoso. Lindo. Os que passavam paravam para ouvir cada canção em acordes perfeitos.
Depois de uma hora e meia de musica, o Maestro foi aclamado com aplausos e gritos de “Bravo”. Pedro agradeceu em sorrisos e lágrimas e se retirou. Porém, próximo da meia noite, voltou ao piano e passou a tocar para as estrelas como se agradecesse pela vida.
Na manhã seguinte, foi encontrado morto debruçado sobre o piano. Dizem que no seu rosto havia um sorriso de reencontro e na estante de partituras, as notas de JESUS, A ALEGRIA DOS HOMENS.