Presente de Natal: solidariedade e respeito à vida

Estávamos em um local reservado para os clientes de uma companhia de viação. Utilizamos alguns serviços, enquanto não chegava a hora de embarque.

Entrou um gerente, na sala, acompanhado de um jovem rapaz e o colocou sentado, a alguns passos,à nossa frente.

Estávamos assistindo à tv, mas começamos a observar o que estava acontecendo ali. O rapaz tinha algum problema de saúde. Parecia um autista. Parecia mudo (não respondia ao que lhe era perguntado).O gerente o deu um copo com água, colocando-o em suas mãos, aguardando a iniciativa de que o mesmo a bebesse. Não acontecendo o ato, levou-o até sua boca, quando ele próprio a bebeu. Depois, deu-lhe biscoitos, com o mesmo procedimento.

Passaram alguns minutos e o rapaz começou a tremer...seu peito tremia e minha aflição começou.

Minha filha também ficou preocupada. Daí resolvi saber o que estava acontecendo. Questionei ao gerente, que me informou que se tratava de um passageiro que havia sido embarcado com a intenção de ser recebido por outra pessoa ali, porém, não apareceu ninguém; o rapaz não tinha identificação em uma única sacola cheia de roupas bem passadas e limpas, empilhadas, que o acompanhava. Parecia que precisava de medicamentos e o gerente já tinha mantido contato com órgãos como SAMU, delegacia e outros, mas não conseguia ninguém para solucionar o problema.

Um senhor, que viu o meu interesse e preocupação, bem como ouviu as informações fornecidas, disse que poderia ser falta de açúcar no sangue. Minha filha apanhou um chocolate que tinha na bolsa (por incrível que pareça, estava intacto) e lá estava eu, repetindo os mesmos atos de oferecer o chocolate na mão e levar à boca do rapaz, com a intenção de que ele parasse o ataque de tremedeira.

Após isto, sentei-me e fiquei observando...

Aproximou-se outro senhor que uniu as mãos do rapaz, fez uma oração e disse que Jesus o tiraria daquele estado, pôs a mão na sua testa e saiu.

O tempo foi passando...lentamente (imaginem como!). Uma senhora entrou e saiu do sanitário. Viu o movimento de pessoas em volta do rapaz (já tinha alguns curiosos e outros da companhia, com celulares, tentando solução para o caso) e chegou próximo a mim, perguntando a respeito. Disse-lhe o que sabia e ela, apresentou-se como assistente social. Contou-me que, certa vez, tentou ajudar alguém e esse alguém queria seguir com ela para onde ela fosse, daí foi difícil resolver a situação. Que ela se envolve muito por ser sensível e hoje em dia as pessoas não querem saber de problemas. Ela estava ali de passagem, iria viajar logo...mesmo assim eu vi que ficou preocupada, foi conversar, tentar alguma ajuda, mas depois chegou sua hora de embarque e foi embora.

Meu horário já estava chegando...o ônibus encostou na plataforma. Meu filho teve a ideia de perguntar ao gerente se haviam revistado os bolsos da calça do moço. O gerente não estava ali. Quem vimos foi um TRICOLOR (com a camisa do nosso time/ meu e da minha família) que nos chamou a atenção, mas nem nos falamos sobre isto. Ele estava dando um novo lanche: um salgado e um suco na boca do referido rapaz. Fiquei mais feliz. Apenas lembrei a ele que eu iria embarcar, mas se pudessem pesquisar nos bolsos, talvez houvesse alguma identificação ou contato. Agradeci e fui despachar as bagagens para seguir viagem.

A intenção deste conto é registrar que as autoridades não fazem tanto esforço para resolverem os problemas. Este rapaz estava desde as 12 horas na rodoviária. Já eram 17 horas e 30 minutos quando saí, sem a devida solução. Os órgãos públicos contactados disseram que só poderiam buscá-lo se houvesse acompanhante ou se ele estivesse tendo uma convulsão; não apareceu um médico para dar socorro ou examinar o ser humano que estava precisando de um remédio ou outro atendimento.

Achei um absurdo o que vi e vivi. Um descaso total. Mesmo que isto tenha resultado de um erro do motorista que não exigiu documentação para embarque ou confiou na pessoa que embarcou o rapaz, que haveria alguém na rodoviária para recebê-lo...

Ainda assim, fiquei pensando o quanto a vida é frágil e quanto somos dependentes uns dos outros!

Gostaria que as pessoas fossem mais humanas, isto é, pensassem no outro como seu irmão.

Gostaria de que o presente que déssemos uns aos outros, neste Natal, fosse a solidariedade e o respeito à vida.

Reinaria a paz e o amor.

Danusalmeida
Enviado por Danusalmeida em 29/11/2012
Reeditado em 29/11/2012
Código do texto: T4010940
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