ATÉ A PERGUNTA

- Mãe, o papai não vem?

A pergunta da pequena Tayla surpreendeu Luiza. Ela, que sabia a reposta, pensou que as ausências de Daniel, eram indiferentes para a menina. Afinal ele nunca estava nos finais de semanas e datas importantes, como era o caso daquela Noite de Natal. Porém, a filha, agora com seis anos, perguntou e ficou ali, paradinha, esperando a resposta.

- Não filha, papai não vem, mas comprou seu presente.

- Mas, eu quero ver o meu pai.

- Amanhã ele passa por aqui meu anjo.

- Amanhã? Mas hoje é Natal.

- Amanhã também.

A menina fez cara de insatisfação e saiu da sala. Luiza pela primeira vez se sentiu preocupada com a sua verdade: O fato de ter uma filha com o amante, casado. Situação que considerava de certa forma cômoda, até aquela pergunta. Sentiu-se mal. Angustiada. Vivia assim há seis anos. Sempre soube que aquele gerente que “dava em cima” dela não largaria a família. Cedeu. Gostou. Continuou. Assim, sem explicações. Contentava-se com as “visitas” esporádicas de Daniel. Quis engravidar. Bancou o momento e até no dia em que teve a filha, esteve sozinha.

Não percebeu, até aquela Noite de Natal, que a vida tem sua nuances e que a verdade se impõe. Assim, olhou para a modesta ceia e pediu: “Me ajude, não sei como recomeçar”. Nem como colher o fruto da semente que um dia plantou no chão da vida.