O INESPERADO NATALINO
Cíntia vivia uma Noite de Natal bem diferente dos outros anos. Seu pai, Raimundo, sofrera um derrame e desde então lutava pela vida num hospital da cidade. De acordo com os médicos, não havia “muitas chances” de recuperação, mas Cíntia insistia num fio de esperança junto ao velho pai a quem tinha também como um amigo.
O ambiente tinha algo de morte. Em nada lembrava as festas passadas, em que toda a família se reunia em torno da mesa. Mas, era Natal. Cíntia, de súbito olhou em volta e, entre tantos, viu uma mulher consciente num gemido baixo de dor; viu também um menino supostamente com uma das pernas quebradas, amparado pela mãe, aguardando pelos procedimentos que aliviaria a tortura. Sentiu o “peso” do ambiente. Tristeza, solidão e desamparo expostos em lágrimas e olhares vazios. De repente, os fogos de artifícios. Olhou no relógio. Meia-noite. Fechou os olhos e fez uma breve oração, foi quando ouviu um choro de bebê. Instintivamente procurou a origem daquele som da vida. Foi até o corredor e ouviu com mais clareza aquele chorinho que provocou a lembrança repentina de uma frágil criança, deitada numa manjedoura, sem nenhum glamour.
Cíntia sentiu uma lágrima quente molhar seu rosto. Voltou até o leito do pai e disse: “Feliz Natal” e beijou-lhe o rosto. Para a sua surpresa, sentiu quando a mão do pai apertou levemente a sua.
Coisas de Natal.