O final de tarde assovia um vento frio, prenúncio de uma gélida noite para desespero dos desavisados da sorte.
O menino exaspera-se quando vê o avô trancafiado na Casa de Repouso.
-"Vô, sou eu, seu neto!"
O idoso senhor, vestido no sobretudo surrado pela falta de cuidado, prossegue em direção ao pátio, dando sinal de não tê-lo ouvido.
Recalcitrante, o garoto repisa aos companheiros do avô, a decisão de não perdê-lo.
"Passar o Natal sem a sua presença? Não! Não seria Natal! “
Abraça-o fortemente e, sem esperar por sua reação, toma-o pelo braço com determinação e o leva em sua companhia.
Aquele único minuto de descuido dos acompanhantes transforma-se, magicamente, em seu aliado.
O trajeto é longo e tumultuado. O compasso, distante de seus passos e de sua euforia.
Ninguém os aguarda. O apartamento acolhe o velho senhor, assim como, a encanecida poltrona de sempre que estende-lhe os braços para o aconchego enquanto o neto sobrepõe a manta sobre suas pernas.
O cipreste cintila, cafunga o cheiro que exala de seus pequenos galhos.
Exultante, o menino circunda suas mãos na vara de pescar, seu presente para o avô. Olha em sua direção e simula o movimento de lançar a linha.
O avô comparticipa da cena:
-"É preciso esperar o inverno acabar!", diz ele mansamente.
-"Vô, então sabe quem eu sou?"
O velho responde:
-"Sei que você é o meu melhor amigo!"
E tira do bolso esgarçado, um retrato de quando lhe ensinava a pescar.