A SURPRESA

O menino subia a ladeira feliz. No alto, na praça, havia música e muita festa. Ele estava com um calção verde, de tecido comum, pés descalços e sem camisa. Corria pelas pedras da bicentenária rua como quem corre num tapete vermelho. Sim, ali, o menino era um rei. As pedras não o impedem de correr livremente neste seu cenário de infância, que certamente se recordará muito quando estiver já adulto.

O sol estava forte neste verão e brilhava num céu de nuvens poucas e de um belo azul intenso. Também assim estava o coração de Pedrinho. Saía da porta de sua casa, daquelas antigas, com um sem número de janelas subindo até o adro da igreja de Santo Antônio, ponto central da cidade e onde tudo acontece. Até os sinos da velha matriz repicavam um toque de festa. E mesmo as montanhas pareciam bailar com a alegria de todos, emoldurando a vila na vista atrás da rua principal.

Foi quando ele chegou à praça e viu surgir de dentro de um caminhão velho uma mão de luvas brancas e um paletó vermelho vivo em contraste com tanto calor. Era Papai Noel, figura que ele só conhecia dos livros e nas histórias de vovó Ana. O bom velhinho olhou o menino, agora parado, estático, como um poste, com os olhos úmidos de emoção e com um sorriso de fazer o universo desconfigurar a harmonia dos planetas.

Naquele momento parecia não existir mais ninguém no mundo. Com seus oito anos e aprendendo as letras, viu o melhor amigo das crianças descer do caminhão e segurá-lo pela mão. Sorridente, mas sem nada dizer, entrou com Pedrinho na Igreja, dirigindo-se ao presépio montado pelas senhoras piedosas, daquelas que ainda usam preto e véu nas missas.

Silêncio de Papai Noel e êxtase de Pedrinho a admirar o cenário do nascimento do Menino Deus. Foi quando o bom velhinho pronunciou:

__ Tá vendo aquela caminha vazia?

__ Sim, por quê?

__ Falta um dia para o natal. É o aniversário de Jesus. Ele nasce amanhã e só amanhã é que sua imagem vai repousar ali.

E num passe de mágica ele retira uma bola sem que Pedrinho a tivesse percebido e diz:

__ Ele é o nosso presente de Natal, por isso, damos presentes uns aos outros. Por acaso não foi você que pediu uma bola?

Pedrinho não respondia de tanta emoção. Papai Noel segurando a bola com um largo sorriso, a entregou ao menino e desapareceu sem que o menino percebesse. Ficou o sorriso...

LUCAS FERREIRA MG
Enviado por LUCAS FERREIRA MG em 12/12/2011
Reeditado em 13/12/2011
Código do texto: T3385719
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