PARCERIA NATALINA
É tempo dos festos natalinos... A ansiedade corre à conta do tempo e das águas. Enganchado entre as pedras e a barranceira, o sonegador de esperas e de luares propícios fisga a fatia de lua rebrilhada no dorso das águas. As linhas voltam retesadas de nadas ao peso da chumbada... No horizonte, pestanejando na madrugada alta, o sol tímido diz a que veio. Entrementes, um pequeno barco cruza à frente do pescador. Volta do mar com suas tralhas derramadas e o dorso dos peixes rebrilha à boca do convés. No cais, bênçãos à larga para o Jesus Menino, e o pescado faz-se produto e segue pelas artérias de asfalto até a boca faminta das cidades. O pescador de araque continua à espera do peixe grande que passa ao largo da margem. Depois de enjoos, maresias e esperas, acomoda-se o coração resoluto de iscas, rios e mares. Entre o paciencioso pescador e as tainhas (que descem do rio em direção à foz) há um conluio de esperanças: mitigar a ânsia de peixes pequenos e de paz entre os homens de boa vontade. Alguns morrem para outros continuarem vivos. A isca viva é o que importa, se não, nada de futuros... Rio e mar assistem a tudo, na mesma ágil correnteza. É a agilidade que deflui de suas líquidas naturezas. Na praia, alguns meninos soltam fogos de artifício e, assustadas, alçam voo algumas aves pernaltas. Em terra, o natal vai se construindo. Todos querem a mesa farta. Nenhuma boca sem comida...
– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/natal/3379483