TEMPESTADE

Por vezes, a princesa Jocellyn de Tarouq havia se decepcionado com seu pretendente, o Cavaleiro da Ordem do Grifo, Dugray Marquês.

A primeira vez foi quando ele se atrasou para o jantar onde ela o apresentaria aos seus pais, o rei e a rainha do Reino de Cedros; a segunda foi quando ele perdeu sua gentileza de início, ao permitir que ela se sujasse com lama ao passar por um pântano; a terceira e derradeira, foi quando ela se deparou com ele recitando poemas para uma camponesa.

Naquele momento, porém, ambos se encaravam. Ele, desesperado e angustiado. Ela, triste e decepcionada. Mesmo descobrindo, tarde demais, que tal camponesa era uma prima distante de Dugray, as mágoas foram tantas que o coração da princesa já havia se entristecido em demasia.

Mesmo abaixo de um belo arco-íris, o casal até então considerado o mais belo do reino, expressava perda nos olhos. Jocellyn havia perdido o encanto que nutria por Dugray, enquanto que o cavaleiro havia perdido a mulher amada! O casal, então, se desfez.

Sem mais nada poder fazer, Dugray sai à forte galope do reino, em direção ao nada. Ele tinha vontade de gritar aos ventos a tristeza que sentia pela maior perda, desde a morte do pai. Ele tinha vontade de esmurrar as grandes árvores e cuspir nas águas cristalinas. Agora, seu único companheiro era Tristan, o cavalo carmesim.

Sobre o alpendre do palácio, Jocellyn sentiu vontade de chorar. E chorou. No entanto, seu choro era mais do que simples águas escorrendo pela tez. Eram também águas escorrendo pela Terra! Por um feitiço antigo de uma bruxa invejosa, a princesa foi encantada de tal forma, que toda vez que chorasse de tristeza, suas lágrimas se refletissem na natureza e uma forte tempestade cairia sobre o reino. E de fato ocorreu. Logo o arco-íris se encobriu de uma nuvem negra e a forte chuva não demorou a chegar. Era uma tempestade escura e agressiva, que, em todos os sentidos, representava todos os sentimentos de Jocellyn. E os sentimentos da princesa, naquele momento, não eram dos melhores...

Três dias se passaram e a chuva continuava. Parecia infinita. Com muita dificuldade, um fauno exausto e molhado encontrou Dugray nas Grandes Colinas do reino e lhe entregou uma carta do rei. Um pedido de socorro! Na carta, o rei pedia para que o cavaleiro, de alguma forma, tentasse recuperar o amor da princesa, pois essa era responsável pela chuva torrencial.

Na mesma carta, Dugray descobre outros horrores: em uma semana o Reino de Cedros seria coberto pela água, como um dilúvio; Dragões Negros desceriam dos céus, como resultado da chuva sem fim e matariam metade da população do reino; Jocellyn, assim que começou a chorar, entrou em estado catatônico e por assim permaneceu e somente um Amor Maior poderia salvá-la de um destino mais trágico!

Desesperado e temeroso, Dugray partiu com Tristan até o pico das colinas e avistou, ao longe, a chuva dominando a aldeia onde nasceu e que logo atingiria tudo mais. Ele tinha menos de uma semana para salvar todo o reino e recuperar o amor e a vida da amada. Só não saberia como fazer...

Um risco dourado cruzou os céus, sobre sua cabeça. De início o cavaleiro imaginou ser um efeito da tempestade. Mas estava enganado. Pelo brilho intenso aquilo certamente era uma estrela cadente. E ela havia explodido em terra firme há alguns quilômetros de onde ele se encontrava, bem no centro da Floresta Perpétua! Naquele exato momento, Dugray já sabia como recuperar o amor de Jocellyn e assim salvar a todos: ele ia em busca da estrela cadente!

No quarto dia o cavalheiro já havia se aproximado dos arredores da floresta, mas ainda sim tinha horas de distância até chegar onde pretendia. Tristan era veloz, mas não o suficiente para que eles alcançassem tal floresta em poucas horas. Dugray armou sua barraca e passou a noite sobre um monte rochoso. Somente ao fim do quinto dia é que o cavalheiro adentrou a Floresta Perpétua e por horas cavalgou, sem dormir e nem comer, quando então avistou uma clareira e, envolta de uma bela luz, a estrela!

Ele pensou que suas palmas se queimariam ao tocar naquela luz sólida, mas se enganou, era fria e de fácil acesso. Guardada dentro de um coldre bem amarrado com um cordão, o cavaleiro partiu em disparada de volta ao reino. Ele tinha pouco tempo, pois o sexto dia havia chegado ao fim...

No sétimo e último dia da semana, Dugray chegou próximo a sua aldeia, mas ainda sim estava atrasado. Até chegar ao reino, ele levaria mais algumas horas e ele não tinha mais tempo, pois ele estava se esgotando. O céu então se tornou negro e todo o Reino de Cedros foi encoberto pelas trevas. Os camponeses e aldeãos corriam para suas casas, assustados. Dragões Negros então desceram dos céus, trazendo a morte consigo. O cavaleiro se apavorou e, sem hesitar, retirou a estrela do coldre e a segurou em seus punhos.

O primeiro efeito da estrela foi criar asas em Tristan, transformando-o num pégaso e deixando-o mais veloz e ágil. Sobrevoando os negros céus do reino, Dugray e seu cavalo enfrentaram os raios e relâmpagos ferozes, se desviando habilmente. O segundo efeito da estrela foi emanar uma luz tão intensa que foi capaz de afugentar os Dragões Negros de volta ao abismo celeste, com urros de ódio.

Eles alcançaram rapidamente o palácio e Tristan pairou sobre o alpendre. Dugray correu até sua amada, completamente paralisada. Somente suas lágrimas é que se moviam. Sem saber o que fazer, ele passou o satélite brilhoso pelo corpo da princesa, derramando assim um pó estelar de uma beleza mágica. Mas de nada adiantou. Os efeitos da estrela não funcionavam com Jocellyn. Mais alguns minutos e ela morreria! Desesperado, o cavaleiro realizou outras tentativas, como molhar sua tez, lhe beijar e chacoalhar seu corpo. Mas nada. Ela não se movia.

Com o coração partido em milhares de pedaços, Dugray ajoelhou-se defronte seu corpo e chorou e clamou o amor imenso que nutria por ela. Depois começou a gaguejar, mãos trêmulas e visão turva. Havia perdido seu amor...

Repentinamente a chuva se encerrou. Um arco-íris maior do que qualquer outro que já tenha visto, se formou, arqueando sobre todo o reino. Camponeses, aldeões, rei e rainha saíram pelas janelas de suas moradas onde avistavam, alegremente, uma tarde ensolarada. Pássaros e borboletas voltaram a sobrevoar os ares. Tristan relinchava feliz e satisfeito.

No entanto, a tristeza ainda predominava em um homem: Dugray. Sem Jocellyn ele não era nada. Sem Jocellyn ele era apenas um cavaleiro desmotivado. Sem Jocellyn ele era um homem incompleto e sem fulgor no coração. Se ela estava morta fisicamente, ele estava morto por dentro e nada mudaria aquilo.

Uma tosse, um pigarro. Seus dedos se movem, suas lágrimas secam e ela avista seu amado sobre seus pés, alquebrado. A princesa havia sobrevivido. Estupefato e ao mesmo tempo feliz, Dugray não acreditava no que via. Jocellyn estava viva... e feliz! Ela explica a ele que foi o Amor Maior que a salvou e não a estrela. Foi o amor verdadeiro dele por ela que a salvou de um destino trágico. Jocellyn ainda completa afirmando ao falar o que Deus uniu não pode ser separado. Nunca! Eles tinham o direito de viver e juntos.

Bem ao final daquele ano, o reinado feliz comemorava o nascimento de um Grande Homem no passado e o que Ele fez pelo mundo. E também, a partir daquele tempo, fez por aquele reino, ao disparar uma estrela perdida e fazer com ela fosse a força motriz para que um cavaleiro desmotivado recuperasse sua vontade e assim livrar a todos de uma destruição e conquistasse o amor da princesa, mais uma vez.

Um gigantesco pinheiro, quase tão grande quanto o palácio, foi montado bem ao centro do Reino de Cedros e todos foram convidados para a festa comemorativa. Camponeses enfeitavam tal árvore com esferas multicoloridas, enquanto que os aldeões preparavam os comes e bebes.

Logo após seu casamento com Jocellyn, Dugray escalou o pinheiro e colocou sobre o seu topo à Estrela Divina, que alcançou a todos com sua luz abençoada! Para todo o sempre...

Douglas MCT
Enviado por Douglas MCT em 05/01/2007
Código do texto: T337162