FOLHAS DE DEZEMBRO - O NATAL DO ANDARILHO
Seguia seu rumo nos caminhos da vida. Sem destino. Sem aonde chegar. Só pousar, como a hora aconselhava, já que o manto noturno anunciava as primeiras estrelas. Raimundo parou. Olhou em volta e só viu a estrada ladeada por grama e arvores. Continuou a caminhada até que avistou um casebre. Aproximou-se do portão de madeira e chamou; "Ô de casa". Não demorou, e um caboclo alto e bem apessoado surgiu na pequena varanda.
Então, Raimundo anunciou "Sou de paz". "Então pode chegar" disse o caboclo numa voz grave. O encontro foi desconfiado "Procuro um lugar para pousar esta noite". "Sim, pois fique". Raimundo arriou as mochilas. "Tem água no poço. O moço pode se lavar". O andarilho, então foi até o fundo do quintal. Havia algumas criações e nos fundos, um poço cavado a mão. Lavou-se e voltou até a varanda, onde o caboclo o esperava. "Meu nome é Chico. Moro por aqui desde gente. Venha vamos comer" disse o caboclo. Raimundo entrou no casebre e reparou os poucos móveis. Sobre a mesa duas panelas com comida. "O moço pode se servir a vontade". Sentaram-se e comeram juntos.
Aos poucos abriram um diálogo que se estendeu por horas. Sorriram, brindaram e conviveram até que Raimundo disse "Vou dormir amigo. Amanhã pego a estrada bem cedo antes do sol"; "Sei" respondeu Chico, "Mas antes me permita" Levanto-se foi até o quarto e voltou com uma cruz talhada. Entregou a Raimundo. "Toma. É um presente". O homem pegou o objeto e mostrou surpresa. Chico sorriu e disse; " Hoje é Natal. E depois de muitos anos, não vivo esta data sozinho". Raimundo que não vivia sintonizado com datas, sentiu a magia do momento.
Levantou-se e abraçou o, novo, amigo.
Depois foi para o quarto nos fundos do quintal e dormiu.
No outro dia, seguiu seu caminho para nunca mais voltar.