FOLHAS DE DEZEMBRO - O NATAL DE JONAS

O relógio marcava onze e vinte e cinco; e Jonas ainda perambulava pelas ruas. Na verdade, evitava chegar a casa. Pensava na mulher, nos três filhos, ainda pequenos, em toda publicidade que envolvia o Natal e no fato de estar... desempregado há seis meses.

Esta era a sua verdade. Recebera os pedidos de cada filho para a data sem a coragem de dizer não. Tentara, mas só conseguira o sustento alimentar do mês, mais nada além. Pensara muito naquela Noite de Natal e de como enfrentaria a realidade diante da família, principalmente os filhos, já que, não tinha como comprar os presentes que esperavam.

Assim, andava sem rumo pelas ruas do bairro. Num determinado momento, sentiu pingos de uma chuva repentina. Rapidamente procurou abrigo numa cobertura próxima. Ajeitou as roupas e tomou um susto ao encontrar um homem deitado. "Desculpe" foi o que veio pra falar. "Por nada" foi a resposta de uma voz grave. Ficou nisso por alguns minutos até que a figura sentou-se. Jonas pôde ver o homem branco, mais ou menos cinqüenta anos, barba comprida, roupas surradas e um boné que trazia uma marca famosa. " Que chuva" disse o homem; "É... que chuva" respondeu Jonas; "Fique a vontade. Quer um pedaço de papelão?'; "Não, obrigado"; "Se quiser, dá pra nós dois"; O homem então levantou-se e olhou para o ambiente, depois voltou-se para Jonas e perguntou: "Vem cá amigo, hoje é Natal?"; Jonas sentiu a tristeza apunhalar seu coração e depois de um tempo, respondeu: "Sim, hoje é Natal"; Viu quando o homem sorriu de satisfação e depois lhe fazer um pedido: "Posso te dar um abraço?" Jonas olhou assustado e ainda que acanhado concordou com a cabeça. O homem então o abraçou com força e ficou assim alguns segundos. Depois olhou diretamente e disse: "Desculpe-me, é que um dia tive uma família, só que devido aos compromissos profissionais que me renderam muito dinheiro coloquei-a em segundo plano. Minha preocupação numero um era com o que podia comprar. Só que chegou um tempo que a ciranda dos investimentos não se sustentaram e eu fali. E foi aí que constatei que havia falido também, no plano familiar ao tentar alimentar minhas relações na base do que podia comprar. O tempo me trouxe para as ruas onde me encontro a cada dia, pensando que poderia ser diferente se entendesse, como hoje entendi, o poder de um abraço. E foi o que pedi de presente à Deus: Um abraço. Por isso amigo, obrigado e Feliz Natal". Jonas ouviu cada palavra com lágrimas molhando seu rosto. Viu quando o homem voltou a se deitar ainda com um sorriso nos lábios. Foi aí que reparou que a chuva havia passado.

Fez um sinal de adeus para o homem, depois correu para chegar em casa e viver junto com a família o seu Feliz Natal.