FOLHAS DE DEZEMBRO - O SOLITÁRIO

"Feliz Natal Papai". O texto escrito em letras infantis foi mais uma vez lido por Valter. Ele manuseou com carinho o cartão e sorriu das lembranças do rostinho de Vanessa, a filha de seis anos. Logo depois voltou a realidade do pequeno conjugado onde passaria o primeiro Natal longe da família.

Afrouxou a gravata, sentou-se no pequeno sofá e serviu-se de um copo de vinho.

Fugia dos pensamentos. As vezes, ria de si mesmo. Sentia-se pequeno com a nova realidade.

O divórcio veio depois da constatação que "era o melhor para os dois". "Melhor?" pensou. Afinal foram dez anos de vida com Eulália, que em seis meses... Terminara.

"Melhor?" perguntou de novo.

Sentiu o gosto do vinho enquanto ouvia os ruídos de festa nos outros apartamentos. Tinha consciência que estava aquém da maioria. Mas sabia também que existia. Pensou em quantas pessoas viviam uma realidade parecida ou outras como a dor da morte, do desprezo, da doença, do desemprego, do vicio, do abandono e de muitos outros problemas da vida.

Aí, decidiu fazer algo inusitado. Pegou o telefone, pensou um numero e ligou.

Chamou uma vez. Chamou duas e... Uma voz feminina respondeu:

- Alô... Quem tá falando?

- Alô, só liguei para desejar que você viva um Feliz Natal - Disse e desligou o telefone.

Sorriu para o nada e se sentiu melhor por ter participado do Natal de alguém.